A ausência de Marrocos depois da recusa em levar avante a organização da prova é razão para lamento, tendo em conta que a sua equipa poderia beneficiar enormemente do facto de jogar em casa para se sagrar vencedor. Aliás, as equipas árabes não beneficiam de um torneio no Norte de África desde 2006, quando a prova foi realizada no Egito e marcou o início de uma série de três vitórias dos Faraós. Essa mesma seleção que, agora, volta a ficar de fora da Taça das Nações Africanas, incapaz de conseguir manter a estabilidade no seu campeonato nacional e pagando um elevado preço com a sua representação internacional.
As ausências não marcam, ainda assim, desequilíbrios nesta prova. Se o Grupo A pode conter dois conjuntos que partem com algum favoritismo em relação aos outros dois concorrentes, é difícil escolher um dos outros grupos para ser conhecido como o grupo da morte. Afinal, em todos eles existem, pelo menos, três equipas com sucessos assinaláveis no passado recente do futebol africano.
Analisamos assim os Grupos C e D com a certeza que nenhuma das seguintes oito seleções terá a mínima facilidade para alcançar os quartos-de-final da prova.
Onde tudo pode acontecer
Não foi há muito que a Argélia nos maravilhou com as suas portentosas exibições no Mundial de 2014, podendo ficar lembrada como uma das seleções que mais dificuldades criou à Alemanha durante essa prova. Os argelinos mudaram de treinador, tendo agora o francês Christian Gourcuff como timoneiro, e podem ter visto alguns dos seus jogadores crescer como valores seguros do futebol mundial, mas deles se espera o mesmo tipo de paixão com que enfrentaram os jogos do verão passado, de maneira a se colocarem como favoritos a vencer esta prova. Islam Slimani, na frente de ataque, alimentado por Brahimi ou Feghouli, são argumentos de sobra para acreditar ver a Argélia no topo das nossas preferências. Mas bastará olhar para o seu concorrente Gana, para sentir que há mais quem sonhe alto neste grupo. Agora orientados por Avram Grant, os ganeses sonham há muito resgatar um título no maior torneio africano. São conhecidos pela sua consistência defensiva e pelo talento de jogadores como os irmãos Ayew, Atsu ou Asamoah Gyan. Se nem sempre a sua atitude merece o mesmo reconhecimento, a verdade é que têm o necessário para serem figuras.
O Senegal, orientado por Alain Giresse, é outro dos países que merece grande atenção. O técnico francês soube resgatar as melhores peças do país para voltar a construir uma seleção de respeito. Depois da geração que brilhou no Mundial 2002, os senegaleses tiveram sempre dificuldades para encontrar um ambiente harmonioso no seu balneário, mesmo quando contam com uma frente de ataque ao nível das melhores equipas do mundo, podendo escolher entre Mame Diouf, Sadio Mané, Papiss Cissé ou Henri Saivet. Sendo a única equipa do seu grupo que nunca venceu este troféu, Giresse poderá ter aqui um bom incentivo para iniciar o seu discurso de motivação. Finalmente, a África do Sul volta a marcar presença numa prova que apenas venceu em 1996. O futebol sul-africano nunca conseguiu, realmente, comprovar tudo aquilo que prometia quando se abriu ao mundo nos anos noventa. Apesar de ter vários jogadores de enorme qualidade técnica, a organização defensiva da equipa e a dificuldade de enfrentar ambientes adversos sempre pesou nos resultados alcançados. Mesmo a jogar em casa, há dois anos atrás, não foi capaz de ultrapassar o Mali. A equipa parece agora merecedora de maior respeito, estando mais experiente, e aproveitará esta fase de grupos bem complicada para dar um ar da sua graça.
Dois gigantes sem as suas lendas
Se Camarões e Costa do Marfim foram, ao longo da última década, dois dos países mais respeitados do futebol africano, muito o devem a lendas como Samuel Eto’o e Didier Drogba. No entanto, em 2015, já nenhum deles faz parte do plantel das respetivas seleções à entrada desta CAN. A Costa do Marfim parece estar mais preparada para enfrentar essa realidade, já que jogadores como Lacina Traoré e Wilfried Bony já vinham sendo preparados para a responsabilidade de substituir o mito. Para além disso, com Gervinho, Kalou e, sobretudo, Yaya Touré nas suas opções, a Costa do Marfim continua a poder ser considerada das equipas mais poderosas do continente, juntando ao talento ofensivo uma defensiva de semelhante respeito. Os Camarões vivem uma fase de renovação, com vários jovens a atingir o reconhecimento e a conquistar espaço na equipa. Nicolas N’Koulou, defesa-central do Marselha, poderá ser o símbolo de uma geração que ainda beneficia da presença dos experientes Bedimo ou Mbia. No ataque, é agora Aboubakar, Moukandjo ou Choupo-Moting quem estão responsáveis por encontrar o golo, um bem extremamente necessário num grupo que também promete enorme equilíbrio.
O Mali, equipa de forte inspiração francesa, será outra das equipas que mantém esperanças de chegar longe nesta prova, depois de ter jogado as meias-finais há dois anos atrás. Sob a liderança do polaco Henryk Kasperczak, os malianos contam com a inspiração de Yatabaré ou Maiga na frente de ataque para causar mossa nos seus adversários. A equipa pode apresentar algumas debilidades na defesa, mas a muita experiência disponível no plantel acabará por ser fundamental para o seu sucesso, com Seydou Keita a manter-se como referência no meio-campo. Em busca de reconhecimento está a Guiné Conacri, que falhou a presença na última edição da prova. A rodagem de Kévin Constant ou a juventude de Mohamed Yattara serão os principais destaques de uma equipa que tem boas noções de organização coletiva, mas a quem faltará uma referência, agora que Pascal Feindouno não faz parte da seleção. Abdoul Camara, médio que se destacou, há três anos, quando marcou dois golos nesta prova, poderá ser o seu “substituto”, ainda que não detenha o mesmo nível do histórico guineense.