Finalizada esta manhã a fase de grupos da Taça Asiática, podemos sublinhar que as surpresas foram poucas. Nos quatro grupos disputados, os primeiros classificados passaram todos só com vitórias, enquanto os segundos classificados também conseguiram, todos eles, somar vitórias nos confrontos frente às equipas que terminaram eliminadas. De notar ainda que a fase de grupos terminou sem direito a qualquer empate, um dado bem raro no que toca a grandes competições internacionais.

Mas se, no que toca aos números, encontramos esta linearidade, já no futebol jogado dentro das quatro linhas a Taça Asiática revela um nível de jogo muito interessante e a merecer uma atenção que, tantas vezes, não lhe é reconhecida por o jogador asiático ter ainda pouca presença nos principais plantéis das grandes ligas europeias, sendo que, quando isso acontece, é ainda encarado com algum folclore à mistura.

Uma mancha na festa australiana

Ki Coreia do Sul

Ki é o verdadeiro líder coreano

Ao organizar pela primeira vez a competição, a Austrália esperava ter nesta oportunidade um caminho aberto para atacar o título asiático pela primeira vez. A equipa de Ange Postecoglou acrescenta mais uma matiz à mistura da Confederação Asiática, revelando-se uma equipa muito consistente do ponto de vista físico, com um meio-campo capaz de aliar boas ideias na construção e extremos muito fortes a alimentar um ponta-de-lança, Cahill, que passaria despercebido, não fosse já uma velha raposa do futebol mundial. Os oito golos marcados pelos Socceroos foram, no entanto, distribuídos por outros tantos jogadores, tendo faltado à equipa a capacidade de marcar no jogo mais importante que disputou. A derrota frente à Coreia do Sul coloca a Austrália, agora, numa linha de jogos bem mais complicada do que desejaria.

A Coreia do Sul foi o vencedor de grupo mais inesperado. Primeiro porque venceu todos os jogos por apenas um golo de diferença mas, sobretudo, por não ter conseguido colocar nenhum brilhantismo nas suas vitórias. Ki Sung-Yueng, médio do Swansea, é o jogador que funciona como autêntico farol do futebol coreano, cada vez mais fechado nas suas preocupações defensivas e pouco devedor de uma tradição de velocidade e rebeldia na transição. Son, o seu avançado mais cotado, tem estado a braços com uma lesão e talvez só nos quartos-de-final surja ao seu melhor nível, o que indica que ainda não teremos visto tudo aquilo que a Coreia do Sul, orientada por Uli Stielike, tem para dar.

O poder japonês

Sem dúvida que o Japão volta a ter todas as condições para conquistar mais um título na Taça Asiática. Não só a equipa tem o conjunto de jogadores mais talentosos do torneio, superior em qualidade e também em experiência competitiva, como beneficia de um treinador que já viveu muito no futebol mundial, o mexicano Javier Aguirre. Sem ter sentido a necessidade de utilizar todas as suas forças ao limite, o Japão venceu os três encontro do Grupo D sem sofrer qualquer golo, com Keisuke Honda a revelar-se como uma peça fundamental destas vitórias. Com um duplo-pivô que confere muita estabilidade e linhas criativas e velozes no último terço do campo, a equipa nipónica só deverá ter um adversário à sua altura quando, nas meias-finais, encontrar, muito provavelmente, a Austrália.

Zheng Zi China

Perfume de Zheng Zi numa China que surpreende

A China de Alain Perrin é outro dos sérios candidatos a fazer um grande resultado nesta prova. As três vitórias somadas frente a adversários de algum respeito no quadro do futebol deste continente revelam uma equipa que tem sabido crescer dentro da competição proporcionada pela Liga Chinesa, com vários dos seus jogadores a terem tido, também, experiências pela Europa, como é o caso de Zhang, que passou por Portugal, onde representou o Mafra, o União de Leiria e o Beira-Mar. Se é dos pés de Zheng Zi que sai o melhor futebol dos chineses, tem sido o pequenino Sun Ke quem se vem revelando como um finalizador nato, de uma equipa que mostrou consistência para ser um osso duro de roer nos jogos a eliminar.

Talento em terras de petróleo

Omar Abdulrahman EAU

Omar Abdulrahman, um talento a precisar de outros palcos

É, no entanto, entre os países produtores de petróleo que está a maior parte das equipas que marcarão presença nos quartos-de-final, com Irão, Emirados Árabes Unidos, Iraque e Usbequistão a basearem o seu jogo num futebol mais técnico e, necessariamente, mais lento, do que a sua concorrência.

Para Carlos Queiroz, o golo milagroso de Reza nos descontos do último jogo salvaram-no de enfrentar o Japão já no próximo encontro. O técnico português tinha retirado o Irão do lote dos favoritos e é verdade que a equipa sentiu algumas dificuldades perante a obrigação de ter a iniciativa de jogo, algo de que abdicou no jogo frente aos Emirados Árabes Unidos. A experiência de Nekounam, Timotian, Dejagah ou do próprio Reza poderão ser essenciais para que a equipa mantenha uma linha de sucesso frente ao Iraque, país vizinho e rival no próximo encontro. Os iraquianos, ainda comandados pelo histórico Younis Mahmoud, conseguiram superar a Jordânia e merecem uma presença nesta fase, ainda que sejam a equipa com menores ambições das oito que ainda seguem na prova.

Os Emirados Árabes Unidos surpreenderam pela qualidade da sua proposta, a qual não pode ser alheia à forte presença de técnicos estrangeiros em academias daquele país, que já havia dado sinais nos escalões de formação. Omar Abdulrahman será, talvez, o melhor jogador asiático fora da Europa e demonstrou, repetidamente, toda a sua classe nesta prova. Ali Mabkhout, com faro de golo, será outro nome a ter em conta. Uma equipa que surge, também, com muita qualidade técnica e que só não ficou em primeiro lugar porque não foi capaz de manter o mesmo controlo sobre o jogo durante os noventa minutos frente à China é o Usbequistão. Se Akhmedov e Djeparov são já nomes reconhecidos, o avançado Igor Sergeev, apesar de ter apenas marcado um golo, é um nome que merecerá uma oportunidade a outro nível.