Fim da linha para Jurgen Klopp no Borussia de Dortmund. O técnico que chegou à cidade num dos períodos mais negros da história do clube e o levou, de volta, à alta roda do futebol europeu, anunciou esta manhã, em conferência de imprensa, a notícia que todos esperávamos ouvir há alguns meses, mas que ainda nos choca por a termos que enfrentar. Como um ente querido que abandona o mundo dos vivos, esta notícia não deixa ninguém indiferente. No entanto, como o próprio Klopp não quis deixar de sublinhar no seu adeus, os adeptos são a garantia de que este clube tem um admirável futuro. Uma história de amor tem o seu fim marcado para o próximo verão.
Uma outra música
Quem sabe a equipa do Borussia de Dortmund se tivesse aburguesado durante aqueles anos 90 em que conquistou a Europa e o Mundo. Talvez a incapacidade para manter treinadores durante um período mais largo fosse consequência, mas também causa, da falta de títulos. A verdade é que entre a Taça Intercontinental conquistada por Nevio Scala e o primeiro título de Jurgen Klopp, apenas Matthias Sammer, que este quatro anos no clube, conseguiu somar uma conquista ao currículo dos mineiros. Quando Klopp chegou, o Borussia de Dortmund tinha terminado num triste décimo-terceiro lugar, talvez por isso ninguém esperou muito de um técnico que vinha da 2.Bundesliga, para onde tinha caído depois de ter levado o Mainz à Europa. Contratar Klopp parecia, à altura, uma medida digna de uma equipa que abdicara de voos mais altos.
A história começou a mudar, no entanto, nesse mesmo verão de 2008, quando já com Klopp no comando dos destinos da equipa, o Borussia de Dortmund conquistou a Supertaça alemã, batendo o Bayern de Munique. Era o primeiro sinal de uma mudança radical na aparência e substância que o Borussia nos oferecia. Jurgen Klopp voltava a falar, no relvado, uma língua que as bancadas do antigo Westfalen conheciam bem. Klopp transformou a mentalidade de uma equipa que regressava assim às vitórias, e o sexto e quinto lugares que garantiu nas suas duas primeiras épocas, já mostravam quase tudo daquilo que viria a ser o sucesso dos mineiros sob a liderança deste técnico.
Fazer-se respeitar

Uma ligação marcante
Dois títulos nacionais e uma presença na final da Liga dos Campeões são as linhas que ficam escritas na história. Mas o que Jurgen Klopp trouxe para Dortmund foi algo bem mais profundo. A capacidade de sonhar que o futebol é bem mais do que aquilo que nos querem vender nos nossos dias. Saber posicionar-se como um dos adeptos e organizar no relvado um conjunto de jovens artistas em busca do ouro das grandes exibições, demonstrando que, mais do que a perfeição no caos, o futebol é feito de uma poesia popular que pode roçar o primitivo, mas nunca cede ao que é fácil ou banal.
Foi ainda com Klopp que ficámos a conhecer a liderança tranquila de Mats Hummels dentro de campo, numa equipa que oferecia ainda a categoria de jogadores como Robert Lewandowski, Shinji Kagawa, Lukasz Pisczek, Jakub Blaszczykowski, Gundogan, Gotze ou Reus em estreia absoluta ao mais alto nível. É essa equipa que Klopp nos deixa gravada na memória e também a capacidade de voltarmos a ter um Borussia de Dortmund capaz de se fazer respeitar, de alinhar na Liga dos Campeões como uma equipa de referência e de servir, nos próximos anos, como um terreno fértil para novos valores do futebol alemão.
Se há uma guerra que Klopp não pôde travar foi a do poderio financeiro do Bayern de Munique em comparação com todos os restantes rivais da Bundesliga. O sucesso do Borussia valeu um ataque continuado às suas fileiras da parte dos cifrões bávaros e, perante a necessidade de continuar a reconstruir o seu projeto futebolístico, a equipa de Dortmund viu-se, este ano, entregue a uma queda nos confins da tabela classificativa. No entanto, no momento da sua saída, é o diretor Michael Zorc quem define um último desafio. O Borussia acredita que poderá ainda alcançar a qualificação para a Europa, algo que nunca foi falhado enquanto Klopp esteve no clube.
O futuro começa agora
Esta despedida tornou-se pública devido à saída para os meios de comunicação de rumores de conversas entre Jurgen Klopp e a direção. O técnico havia demonstrado a sua vontade de não cumprir o contrato que o ligava com o clube até 2018, despedindo-se no próximo verão, mas o facto de isso se ter tornado público obrigou a um anúncio oficial. Klopp confirmou não ter tido tempo para o comunicar à equipa, mas deixou bem expresso que nunca houve problemas, nem com o plantel, nem com a direcção do clube.
Sem deixar sinal de que queira controlar a sua herança no clube, depois de sete anos à frente do Borussia, uma marca “invulgar”, como o próximo considerou, Jurgen Klopp também deixou um sinal de esperança para todos aqueles que admiram o seu trabalho. Perante a garantia de que não espera fazer um ano sabático, Klopp acaba por se colocar no mercado das transferências de treinadores, sendo, para já, um elemento bem desejado em diversas casas. Se o Manchester City já antes foi falado como destino possível, é impossível não procurarmos um quadro semelhante, de uma equipa que se aburguesou ao longo dos últimos anos e que possa precisar de alguém que fale a linguagem das bancadas sem perder o contacto com o bom futebol. Em Londres, mesmo que Highbury Park já não seja a sua casa, existe quem precise, desesperadamente, deste rock n’roller alemão…
Boas Apostas!