Quem viu Javier Zanetti levantar a, carinhosamente denominada, orelhuda, naquela tarde de maio de 2010, no Santiago Bernabéu, decerto não preconizaria o atual estado do Inter de Milão. Mourinho acabava de ganhar tudo com os Nerazzuri, mas mesmo considerando a sua expectável saída, nada fazia antever que uma crise desta magnitude atingisse o clube, transversal aos respetivos concorrentes na Série A, excetuando uma ou outra situação.

Se na temporada subsequente ao triunfo de Mourinho a toda a linha, o Inter ainda conseguiu ombrear pelo título, ficando no segundo posto a seis pontos do AC Milan, daí em diante, o emblema milanês tem estado longe de classificações condizentes com os pergaminhos do clube. O sexto lugar em 2011/12, o nono posto em 2012/13, a quinta posição em 2013/14 e o 13º (!) lugar que ocupa por esta altura são resultados sinceramente miseráveis para um clube com a dimensão do Internazionale.

Na presente temporada, a Taça de Itália também já está fora dos objetivos, uma vez que os interistas foram recentemente eliminados pelo Nápoles, no San Paolo, com um golo tardio de Higuaín. Resta a Liga Europa, prova na qual defrontarão o Celtic, nos 16-avos-de-final.

A Bola de Neve

No decurso da atual temporada, já houve alteração no comando técnico: saiu Walter Mazzarri e voltou o tão acarinhado Roberto Mancini, nome pelo qual os adeptos clamavam nos primeiros tempos de Mourinho, em Milão. Chegou como que se de um salvador da pátria se tratasse, numa manobra da direção tendo por objetivo acalmar a massa adepta inconformada com a liderança do anterior técnico. Não obstante, por maior admiração que se nutra por Mancini, a ausência de resultados coloca-o em cheque e volta a deixar o ambiente em polvorosa.

Inter de Milão Liga dos Campeões 2010

Longe vão os tempos em que, com José Mourinho, o Inter dominava Itália e a Europa

Há poucos dias, na pequena localidade de Sassuolo, os adeptos do Inter voltaram a insultar elementos diretamente envolvidos na defesa do emblema: Icardi e Guarín que, na hora de se dirigirem aos adeptos, após derrota por 3-1, viram as próprias camisolas devolvidas. Insultos de um lado e de outro, imagem que simboliza na perfeição a atual situação do Inter: um clube em convulsão, com ausência de liderança e linhas de força definidas.

A aquisição operada pelo ausente empresário indonésio Erick Thohir só veio agudizar uma situação que era, já de si, preocupante. O responsável-máximo fala num projeto a longo prazo, camuflando desta forma a deficiente gestão vigente. A mediocridade consome um emblema histórico e, sem estabilidade em termos estruturais, o trabalho de todos os agentes que dão a cara, fim-de-semana após fim-de-semana, só fica ainda mais difícil.

A (natural) cobrança dos adeptos aumenta a pressão, e quando se falha insistentemente, algo na casa vai muito mal. A ausência de uma estrutura forte e interventiva no dia-a-dia do clube constituiu um grande problema.

O efeito bola de neve atingiu o Inter.

A falta de resultados desportivos é fatal. A ausência dos grandes palcos europeus e consequências inerentes, as derrotas a nível interno, a instabilidade com constantes trocas de treinador, o envelhecimento dos principais líderes, descurando uma renovação geracional progressiva e a desmobilização de parte da massa adepta são factores que constituem um cocktail explosivo.

Mancini e Tudo na Mesma

Em onze jogos, Mancini conseguiu apenas o mesmo números de pontos: 11.

Roberto Mancini no Inter de Milão

O regresso de Roberto Mancini foi insuficiente para estancar o desastre que o Inter está a viver

Na derrota frente ao Nápoles, para a Taça, o técnico italiano teve, inclusive, uma declaração curiosa, instantânea e direta, em alusão ao momento defensivo interista: “Parecíamos um bando de galinhas a defender”.

Podolski, Shaqiri, Brozovic, Santon são reforços de Inverno que chegam para compor o plantel do Inter. É um facto que há qualidade e que, olhando às unidades à disposição de Mancini, a atual posição na pauta classificativa é inaceitável. No entanto, para trabalhar e haver empenho de todos os intérpretes à disposição, tem que haver estabilidade. Estabilidade como base de tudo. É essa a chave para o sucesso, é daí que tudo emana.

A importância de uma liderança forte que garanta estabilidade a todos os níveis à equipa – nomeadamente emocional – não deve ser descurada. Depois, claro, nada melhor que as vitórias para elevar a moral e fazer com que os jogadores acreditem no trabalho que está a ser desenvolvido. Porém, antes de esperar que surja como que por milagre uma grande vitória ou uma sequência de triunfos que possibilite catapultar a equipa para o sucesso, é necessário criar condições para que tal aconteça.

Boas Apostas!