Entre 19 de janeiro e 10 de fevereiro disputa-se, em cinco estádios da África da Sul, mais uma edição da Taça das Nações Africanas, prova maior de seleções no continente. Trata-se da 29ª edição da competição, apenas um ano depois da anterior edição ter coroado a Zâmbia como campeã continental.
Os zambianos regressam ao torneio com aspirações de repetir o feito, mas será complicado, perante um elevado número de candidatos muito fortes a conquistar o ceptro africano. Os organizadores, África do Sul, Marrocos, Gana, Nigéria, Tunísia e Costa do Marfim, tentarão fazer valer o seu peso histórico nos momentos decisivos do torneio. Ainda assim, como é típico desta competição, espera-se que uma surpresa se possa intrometer entre os mais fortes na discussão do título.
Neste guia, fazemos uma análise grupo a grupo de todas as equipas, salientando o momento de forma de cada uma e qual (ou quais) os jogadores que poderão surgir como figuras da Taça das Nações Africanas 2013.
Grupo A
A África do Sul, organizador da competição, esperaria encontrar menos dificuldades do que as que lhe são prometidas pelo sorteio. Para seguir em frente terá que enfrentar a poderosa seleção de Marrocos, capaz do melhor e do pior, mas com um nível de individualidades dos melhores da competição. A isso junta-se Angola, com uma seleção experiente e com um novo treinador que promete mais consistência, e Cabo Verde, estreante na Taça das Nações, mas recheado de jovens jogadores promissores. Para que África do Sul e Marrocos confirmem o seu favoritismo, não poderão cometer qualquer deslize, num grupo onde todos podem aspirar a ser figuras do torneio.
África do Sul
1996 foi um ano de glória para os sul africanos. Na primeira participação na Taça das Nações Africanas, a jogar em casa, foram capazes de conquistar o torneio. 17 anos depois, o objetivo passa por tentar repetir o feito. Ainda assim, a equipa da África do Sul não cumpriu, neste período de tempo, tudo aquilo que prometera. Três participações em Mundiais sem nada digno de nota e ausência da Taça das Nações Africanas desde 2008. As três presenças no pódio, entre 1996 e 2000, são já uma memória longínqua.
Automaticamente qualificada, a África do Sul dedicou-se a vários encontros particulares resultados animadores. Nos últimos seis meses, somaram vitórias frente a equipas frágeis, como Moçambique, Quénia ou Malawi, somando derrotas frente a equipas mais fortes no panorama internacional, como a Polónia, a Noruega e a Zâmbia.
Doctor Khumalo, que joga no PAOK (Grécia), continua a ser a referência desta seleção, que espera que jogadores como Tshabalala e Bernard Parker (Kaiser Chiefs) ou Dikgacoi (Crystal Palace, Inglaterra) possam estar em alta e fazer a diferença nos encontros frente a adversários complicados na fase de grupos.
Previsão: O organizador poderá conseguir o apuramento para os quartos-de-final, mas não mostra argumentos para chegar mais além na competição.
Marrocos
Apesar de ser um viveiro de grandes jogadores e de ter alguns dos clubes históricos das competições africanas, a verdade é que apenas por uma vez Marrocos conseguiu assegurar a conquista do título na Taça das Nações Africanas, em 1976. Depois disso, apenas em 2004 conseguiu marcar presença noutra final, sendo uma presença habitual nas fases finais desde 1996. Nos últimos anos, Marrocos tem estado fora dos Mundiais, e foi uma das desilusões da Taça das Nações Africanas em 2012, quando se esperava muito mais de um forte conjunto que tem, agora, uma segunda oportunidade para brilhar.
A qualificação também não foi fácil para os marroquinos. Depois de perder por 0-2 em Moçambique, uma vitória por 4-0 em casa repôs as contas a favor do conjunto magrebino.
Nos jogos particulares disputados até agora, uma vitória frente ao Níger e um empate com a Zâmbia são resultados que oferecem confiança à equipa marroquina.
Younes Belhanda (Montpellier, França) é o craque da equipa, estando rodeado de outras boas esperanças do futebol africano, como Chafni (Brest, França), El Arabi (Granada, Espanha) e Benatia (Udinese, Itália). Se os nomes cumprirem dentro de campo, não haverá razões para novas desilusões.
Previsão: A equipa aprendeu no ano passado como se desfazem rapidamente as esperanças num torneio desta dimensão. Essa experiência acumulada ajudará Marrocos a chegar até às meias-finais em 2013.
Angola
Sem nunca ter conseguido mais do que duas presenças nos quartos de final, Angola continua a olhar-se como uma candidata a potência do futebol africano. No entanto, essa ambição ainda não foi materializada em resultados, apesar da presença no Mundial em 2006 e o forte investimento para a organização da Taça das Nações Africanas no seu território em 2010. A recente chegada de estrangeiros de maior qualidade ao Girabola poderá ter sido um dos fatores que faltava para oferecer maior competitividade à seleção. No entanto, faltam ainda referências que possam brilhar na Europa, algo que não sendo essencial para o sucesso na CAN, é um sinal inequívoco da vitalidade de alguns países do continente.
Angola qualificou-se depois de afastar a seleção do Zimbabwe na última fase de apuramento. Uma derrota por 1-3 no campo do adversário e uma vitória por 2-0 em Luanda confirmaram os Palancas Negras na África do Sul. Com o uruguaio Gustavo Ferrín no comando, Angola tem somado vitórias muito encorajadoras na preparação, frente aos Camarões e à Zâmbia.
Manucho (Valladolid, Espanha) e Mateus (Nacional da Madeira) são as duas figuras da equipa angolana, que poderá ainda apresentar algumas novidades muito interessantes, como Lunguinha (Kabuscorp), um prometedor lateral esquerdo. Sobretudo a nível defensivo, onde quase todos os atletas atuam no Girabola, Angola terá que ser muito forte se quer sonhar com os quartos de final.
Previsão: Com um sorteio bem complicado, Angola apostará forte na primeira partida da competição, frente a Marrocos. Um ponto poderá significar uma candidatura aos quartos de final, mas afigura-se difícil perante o peso da concorrência.
Cabo Verde
Primeira presença de mais um conjunto lusófono na Taça das Nações Africanas, Cabo Verde experimenta uma prova continental depois de se ter vindo a afirmar, nos últimos anos, como um conjunto cada vez mais forte nas fases de apuramento. Os cabo-verdianos beneficiam de uma diáspora que tem espalhado talento, sobretudo em Portugal, França e Holanda, de onde chegam a maioria dos jogadores convocados. Para a estreia, Lúcio Antunes, sentirá falta de alguns jogadores que muito contribuíram para a presença da equipa neste torneio, como Ricardo, Zé Luís ou Odaír Fortes. Ainda assim, as expetativas passam por ganhar experiência e tentar surpreender.
No apuramento, Cabo Verde começou por ultrapassar o Madagáscar, vencendo por 4-0 e 3-1, para depois cometer uma das grandes surpresas da prova, ao deixar os Camarões pelo caminho. A uma vitória por 2-0 em casa, sucedeu-se uma derrota por 1-2 fora, o suficiente para fazer a festa. A preparação foi afetada pelas lesões e renúncias da seleção, tendo o conjunto cabo-verdiano escolhido defrontar adversários de monta. Uma derrota frente ao Gana e um empate frente à Nigéria deixam tudo em aberto para o início da competição.
Ryan Mendes (Lille, França) é o homem de quem se espera decisões nos Tubarões Azuis. Héldon (Marítimo) e Djaniny (Olhanense) completam um trio ofensivo de uma equipa que apresentará ao futebol internacional o guarda-redes Vozinha (Progresso, Angola), um dos melhores na sua posição a disputarem o Girabola.
Previsão: O sorteio deixa pouca margem para o sucesso de Cabo Verde nesta CAN. Somar pontos e evitar o último lugar será um objetivo primário, dependendo dos resultados das restantes equipas para saber se chega à última jornada com hipóteses de apuramento.
Grupo B
O Gana é um dos eternos favoritos na Taça das Nações Africanas e o ano de 2013 não será diferente. O sorteio juntou no mesmo grupo outra equipa com fortes ambições na prova, o Mali. Estes dois conjuntos parecem ter uma confortável margem de distância para os outros dois presentes no grupo. O Níger, que já esteve presente na CAN no ano passado, parece ter dificuldades de conseguir, fora do seu país, alcançar os bons resultados que tem em casa. Já a Rep. Democrática do Congo regressa depois de alguns anos de ausência, faltando-lhe experiência para se afirmar como candidato. Se Gana e Mali tiverem os seus conjuntos totalmente focados na competição, não deverão ter dificuldades para conquistar o apuramento.
Gana
Com quatro títulos conquistados, o último dos quais em 1982, o Gana é uma das seleções mais respeitadas do continente. A isso junta o fato de, nas últimas três edições ter atingido sempre as meias finais. Não será grande surpresa se, mais uma vez, conseguir esse feito na África do Sul. Uma forte solidez defensiva tem feito a diferença a favor dos ganeses, nos últimos anos, para além de contar com um dos avançados mais letais do continente, em Asamoah Gyan. A grande experiência deste conjunto é outro dos fatores a ter em conta na entrada desta competição.
A seleção ganesa não teve dificuldades para ultrapassar o Malawi, vencendo por 2-0 e 1-0 na fase de qualificação. Durante a preparação, a vitória frente a Cabo Verde assegurou que o conjunto está preparado para enfrentar a competição.
Para além de Gyan(Al Ain, EAU), a equipa conta com Christian Atsu (Fc Porto), Asamoah (Juventus, Itália) e Wakasu (Espanhol, Espanha) como figuras de respeito.Paintsil (Hapoel, Israel) e Vorsah (Red Bull, Áustria) são as garantias de qualidade no setor defensivo.
Previsão: Vencedor do grupo, o Gana é um dos fortes candidatos a atingir a final da competição, podendo, no entanto, soçobrar caso encontre a Tunísia, outro dos favoritos, nas meias finais.
Mali
Depois de conquistar o terceiro lugar em 2013, o Mali volta a entrar como um outsider na Taça das Nações Africanas. A equipa chegou apenas uma vez à final, em 1972, mas soma mais quatro presenças em meias finais. Na que deverá ser a última presença de Seydou Keita nesta competição, a ambição de conquistar finalmente o continente estará presente na mente de todos os seus apoiantes. A solidez do seu conjunto poderá valer-lhe uma boa prestação, mas a verdade é que ao Mali falta-lhe ainda algo para alcançar um grande feito, sendo também uma das fortes seleções africanas que nunca disputou um Mundial.
A qualificação foi conquistada ao defrontar o Botswana, outra das equipas que havia marcado presença na fase final em 2012, mas com total superioridade para os malianos, que venceram por 3-0 e 4-1 as duas partidas. Sem registo de jogos de preparação, o Mali chegará à sua primeira partida envolto em algumas incógnitas, que a qualidade individual dos seus jogadores se encarregará de resolver.
Keita, atualmente na China, é a alma de uma equipa que apresenta outros atributos de qualidade, como o avançado Maiga (West Ham, Inglaterra), Sissoko (Paris SG, França) e Diakité (QPR, Inglaterra). Se todos estiverem ao seu nível, o Mali poderá ser um conjunto bem difícil de parar.
Previsão: O apuramento no grupo é feito ao alcance dos malianos, ainda que atrás do Gana. Isto poderá coloca-los num difícil frente a frente com o vencedor do grupo A. Ainda assim, o Mali não venderá barata uma derrota nos quartos de final.
Níger
Um ilustre desconhecido até ao ano passado, quando conquistou uma surpreendente presença na Taça das Nações Africanas, o Níger repete o feito com um princípio sui generis: duas qualificações para uma competição continental sem conseguir somar uma vitória fora de casa. As especificidades do seu território parecem permitir ao Níger alcançar o sucesso, mas nesta sua segunda participação o objetivo passa por conseguir algo que não alcança há mais de 20 anos – a última vitória fora da seleção principal em jogos oficiais foi em 1992, no Botswana. Um enorme desafio, tendo em conta a qualidade dos seus adversários neste grupo.
A qualificação foi atingida frente à Guiné-Conacri. Depois de uma derrota por 0-1 na Guiné, os nigerinos conseguiram uma vitória por 2-0 no seu terreno. Nos jogos de preparação, a vitória por 3-1 frente ao Togo é o resultado de maior relevância positiva, estando do lado oposto uma derrota em Marrocos por 0-3.
Moussa Mazzou (Et.Sahel, Tunísia) é a figura maior da seleção do Níger. O possante avançado tem experiência a nível internacional e é o homem a quem a bola é destinada em todas as ações ofensivas. Caso consiga materializar em golos as oportunidades, poderá mudar a história do Níger nesta competição.
Previsão: O jogo mais importante será contra a RD Congo, onde a equipa tentará quebrar um record negativo de mais de 20 anos com uma vitória. Caso o consiga, já poderá encarar como bem sucedida a sua presença neste torneio.
Rep. Dem. Congo
Regresso à ribalta dos congoleses, afastados da Taça das Nações Africanas desde 2006, quando conseguiram alcançar os quartos de final. Ainda assim, o antigo Zaire tem uma boa história nesta competição, tendo vencido por duas vezes o torneio, em 1968 e 1974, quando eram uma das potências do continente. Foi, aliás, em 1974, que conseguiram a sua única presença em Mundiais. Nos últimos anos, apesar de ter um dos clubes mais respeitados, o TZ Mazembe, na sua Liga, a RD Congo não tem conseguido a nível de seleções fazer a diferença. A presença na África do Sul será um primeiro passo rumo ao topo do futebol africano.
Para chegar aqui, a RD Congo derrotou as Seychelles, por 4-0 e 3-0, na primeira fase, eliminando posteriormente a Guiné Equatorial, com uma vitória por 4-0 em casa e uma derrota por 1-2 fora. Durante a preparação, uma derrota em casa frente ao Burkina Faso terá deixado preocupados os adeptos congoloses.
Aos 32 anos, Lua Lua (Karabukspor, Turquia) continua a ser a referência de um conjunto que apresenta vários jogadores que evoluem na Bélgica, para além de cinco elementos do TP Mazembe.
Previsão: Neste regresso às competições internacionais, a equipa congolesa não deverá aspirar a mais do que as três partidas da fase de grupos.
Boas Apostas!