Aproveitar o factor casa para regressar aos grandes títulos. Os êxitos alcançados em 1984 (Euro) e 1998 (Mundial) – competições disputadas em França – permitem que o povo gaulês encare a participação no campeonato da Europa com optimismo, até porque estamos perante a geração mais talentosa desde a era de Zidane, Thierry Henry e Patrick Vieira. Com muito “sangue novo” no lote de convocados, a seleção francesa é uma das principais candidatas a levantar o troféu no Stade de France.
“Les Enfants” querem voltar a ser “Terribles”. O pós-Mundial 2006 tem sido penoso para França. Em 2008, ficou-se pela fase de grupos, ao terminar a participação no Europeu na última posição do grupo C com apenas um ponto. Volvidos dois anos, após garantir o apuramento graças ao célebre golo de Thierry Henry com a mão diante da República da Irlanda, os gauleses viajaram para a África do Sul em clima de grande tensão com o seleccionador Raymond Domenech e ficaram na última posição do respetivo grupo. O Euro 2008 marcou o regresso aos quartos-de-final, mas França ficou-se por aí ao perder com a seleção espanhola por duas bolas a zero. No último campeonato do mundo, os franceses voltaram a dar um ar da sua graça ao chegarem aos quartos-de-final da competição. Curiosamente, nas últimas duas fases finais em que participou, a França foi eliminada pelas duas seleções que se sagraram campeãs – Espanha (2012) e Alemanha (2014).
Como não poderia deixar de ser, a preparação para o Euro 2016 também ficou marcada por um episódio polémico que envolveu Valbuena e Benzema num caso de chantagem. Ambos ficaram arredados da lista de convocados de Deschamps para a fase final do Europeu.
A formação francesa não compete a título oficial desde dia 4 de julho, data que marcou o fim da caminhada em solo brasileiro. Para que a representante do país organizador mantivesse o ritmo competitivo diante de potenciais adversários na fase final do campeonato da Europa, a UEFA inseriu a França no grupo I de qualificação, proporcionando encontros amigáveis frente a Portugal, Albânia, Dinamarca, Sérvia e Arménia. Curiosamente, o sorteio voltou a juntar França e Albânia no grupo A da fase final.
4x3x3
Escalonada em 4x3x3, a seleção francesa orientada por Didier Deschamps apresenta uma proposta de jogo interessante, vertical, que pauta pela objetividade. Adoptando uma postura própria de quem se quer afirmar como seleção de primeira linha no panorama europeu, a equipa francesa está absolutamente identificada com o esquema táctico que Deschamps mais utilizou ao longo do ciclo de preparação. Conjuga experiência e sangue novo na perfeição, numa seleção que apresenta uma simbiose invejável no que diz respeito às componentes física e técnica. As ausências de jogadores como Varane, Mathieu, Valbuena, Ribéry ou Benzema não alteram a ambição de uma nação que dispõe de um leque de opções invejável.

Foto: Andre Ferreira/Icon Sport
Ligeiramente mais alto que Fabien Barthez, Hugo Lloris deverá ser o escolhido para a defesa das redes durante o campeonato da Europa, pelo menos a julgar pela preponderância que teve na prestação do Tottenham na Premier League. À frente, no eixo defensivo, Koscielny e Rami devem assumir a missão, uma vez que Varane e Mathieu estão fora dos convocados devido a lesão. Pelas laterais, Sagna e Evra deverão ser titulares, jogadores que gostam de se intrometer na manobra ofensiva mas já não gozam da capacidade de recuperação de outrora – impedir que os adversários explorem o espaço deixado nas costas dos laterais é fundamental. A crítica aponta a defesa como o setor mais vulnerável da equipa francesa, apesar da experiência dos elementos que o compõem. No meio-campo, Deschamps dispõe de um trio que qualquer seleccionador/treinador desejaria ter às suas ordens: Kanté, Matuidi e Paul Pogba. A época de N’Golo Kanté ao serviço do Leicester City justifica a sua entrada na equipa titular, compensando a menor presença (1,69m) com capacidade de trabalho acima da média e uma disponibilidade física admirável. Matuidi será a “bengala” perfeita para Kanté, prestando-se a um contributo importante tanto em termos defensivos como ofensivos e fazendo valer uma admirável capacidade de transporte. Se assim for, a figura de proa Paul Pogba gozará de maior liberdade, aproximar-se-á mais da zona de decisão e será o principal responsável pela ligação entre o setor intermediário e o ataque. Para os flancos, Deschamps dispõe de quatro soluções distintas, todas capazes de oferecer virtuosismo no último terço do terreno: Griezmann, Kingsley Coman, Payet e Martial. Tendo em conta a homogeneidade em termos de qualidade, é difícil prognosticar quem serão os eleitos, mas é expectável que Griezmann seja titular na esquerda do ataque. Para o primeiro jogo, diante da Roménia, Deschamps deverá apostar em Martial, até porque Kinglsey Coman se ressentiu de alguns problemas físicos nos últimos dias do ciclo de preparação. Payet é a garantia de que qualquer lance de bola parada no ataque francês representa um grande perigo para a defesa contrária e também poderá ser um trunfo importante pelos recursos técnicos que apresenta. Para o centro do ataque, há Giroud e Gignac. Na ausência de Benzema, Giroud deverá assumir a titularidade com o intuito de demonstrar que a ausência do ponta-de-lança do Real Madrid não mexe com as aspirações da seleção francesa.
A estreia
A seleção francesa estrear-se-á frente à congénere da Roménia, seleção com melhor registo defensivo da fase de qualificação. Diante de uma equipa que jogará com o bloco baixo e as linhas próximos, num estilo mais conservador, a seleção francesa tem o primeiro teste de fogo às capacidades do seu ataque. A seleção romena não deverá abrir muito o jogo e adoptará uma postura contida, situação que criará dificuldades à seleção francesa em ataque continuado. Assim, a França terá de tentar explorar em transição ofensiva nas poucas oportunidades que tiver, momento do jogo em que é particularmente forte em virtude da velocidade e capacidade de transporte dos seus jogadores.
Lista de convocados:
Guarda-redes: Benoît Costil (Rennes), Hugo Lloris (Tottenham Hotspur), Steve Mandanda (Marselha).
Defesas: Lucas Digne (Roma), Patrice Évra (Juventus), Christophe Jallet (Lyon), Laurent Koscielny (Arsenal), Eliaquim Mangala (Manchester City), Samuel Umtiti (Lyon), Bacary Sagna (Manchester City), Raphaël Varane (Real Madrid).
Médios: Yohan Cabaye (Crystal Palace), Morgan Schneiderlin (Manchester United), N’Golo Kanté (Leicester City), Blaise Matuidi (Paris Saint-Germain), Paul Pogba (Juventus), Moussa Sissoko (Newcastle United).
Avançados: Kingsley Coman (Bayern München), André-Pierre Gignac (Tigres), Olivier Giroud (Arsenal), Antoine Griezmann (Atlético Madrid), Anthony Martial (Manchester United), Dimitri Payet (West Ham United)
Calendário:
França – Roménia – 10/06/2016 – Stade de France, Paris
França – Albânia – 15/06/2016 – Stade Vélodrome, Marselha
Suíça – França – 19/06/2016 – Stade Pierre-Mauroy, Lille
Boas Apostas!