“Querido Gianni, palavras não são suficientes para expressar o meu sentimento de gratidão”.

A frase foi proferida por Edi Rama, primeiro-ministro que agraciou o selecionador Gianni De Biasi com a concessão da nacionalidade albanesa. Aos 59 anos, o técnico italiano tornou-se um autêntico herói nacional para os albaneses ao conduzir as “águias” até à primeira fase final de um campeonato da Europa. Um reconhecimento justo, legitimado pelo franco crescimento que o conjunto dos Balcãs conheceu desde que Gianni de Biasi assumiu os destinos da equipa. Em entrevista à “Gazzetta dello Sport”, revelou que o seu contrato foi automaticamente renovado ao garantir a qualificação para a fase final. “O primeiro-ministro ameaçou tirar-me o passaporte para que eu não possa sair de Tirana”, gracejou.

Giani De Biasi

Gianni De Biasi homenageado pelo primeiro-ministro albanês

Trajetória de crescimento

5º lugar do grupo E. 11 pontos conquistados em 10 jogos, resultado de três vitórias, dois empates e cinco derrotas. Nove golos marcados e 11 sofridos. Os números são relativos à primeira fase de qualificação (Mundial 2014) disputada pela Albânia sob a égide de Gianni de Biasi e estão longe de impressionar o adepto comum. Na altura, as três vitórias conquistadas frente a Noruega (0-1), Eslovénia (1-0) e Chipre (3-1) foram o suficiente para arrancar um sorriso rasgado aos albaneses, que receberam com agrado a notícia que deu conta da continuidade do técnico italiano na seleção.

A qualificação para a fase final do Euro 2016 representa o ponto mais alto da história do futebol albanês e tudo começou com uma vitória (0-1) no Estádio Municipal de Aveiro, frente à seleção portuguesa, na altura orientada por Paulo Bento. Beneficiando da sanção aplicada pela UEFA à Sérvia na sequência dos confrontos no jogo em Belgrado, os albaneses arrancaram para uma caminhada que culminou com a qualificação direta ao terminarem no segundo posto. Um dado que nos merece relevo é o facto de a Albânia não ter sofrido golos nos três desafios que disputou fora de portas frente a Portugal (0-1), Dinamarca (0-0) e Arménia (0-3). A evolução a nível do processo defensivo é um dos principais méritos do trabalho de Gianni de Biasi desde que assumiu o comando da equipa. Os números não mentem: Nos primeiros três jogos de qualificação para o Europeu 2012 frente a Roménia (1-1), França (3-0) e Luxemburgo (2-1), ainda às ordens de Josip Kuze, a Albânia sofreu seis golos, mais que em toda a fase de qualificação para o Europeu 2016.

A força do coletivo

4x5x1

4x5x1 albanês em momento defensivo (Albânia 1-3 Ucrânia)

A Albânia orientada por Gianni de Biasi privilegia o 4x5x1 em momento defensivo, com uma linha recuada profunda, habitualmente composta por Hysaj, Cana, Mavraj e Agolli. Em termos individuais, o lateral-direito Elseid Hysaj é o elemento que nos merece maior destaque, jogador que acompanhou o técnico Maurizio Sarri na transição do Empoli para o Nápoles e tem estado em bom plano no San Paolo, destacando-se pela qualidade com que se envolve na manobra ofensiva. Lorik Cana, jogador que também já foi utilizado no meio-campo por de Biasi, é a voz de comando da linha defensiva, acompanhado no eixo por Mergim Mavraj. O corredor esquerdo fica aos cuidados do experiente Ansi Agolli, jogador que dá garantias em termos defensivos embora não seja tão virtuoso quanto Hysaj do ponto de vista ofensivo.

Coesa, coordenada e agressiva, a linha intermediária da Albânia é habitualmente composta cinco elementos em momento defensivo. A estratégia arquitetada por de Biasi exige o envolvimento dos flanqueadores Roshi e Lenjani no processo defensivo. Xhaka, Abrashi e Kaçe (ou Memushaj) são os homens que compõem o trio do meio-campo. Em construção, destaque para o papel de Abrashi, jogador que costuma baixar no terreno para a equipa alargar no terreno. O avançado Balaj (ou Sadiku) trabalha na primeira linha de pressão e serve de referência para os colegas na hora de tentar recuperar a posse. A equipa bascula em função do movimento do avançado, estabelecendo a linha de meio-campo como referência.

O cérebro desta equipa é Taulant Xhaka, médio do Basileia que dá cadência ao jogo da equipa albanesa. Em momento ofensivo, a equipa organiza-se em 4x3x3 e canaliza muito jogos pelas alas, procurando explorar a disponibilidade física dos homens que atuam nos corredores em contra-ataque. Tal como demonstrou durante a fase de qualificação, é uma equipa que se sente confortável sem a bola, cedendo a iniciativa ao adversário. Diante da seleção portuguesa, 32 por cento de posse bola foi o suficiente para regressar a casa com três pontos na bagagem. A façanha foi repetida na última jornada, com uma vitória na Arménia por três golos sem resposta e 38 por cento de posse.

Quem quer ser goleador?

Órfã de um “homem-golo”, a seleção albanesa marcou sete vezes na fase de qualificação e conheceu sempre marcadores diferentes – Balaj, Lenjani, Mavraj, Gashi, Memushaj, Sadiku (o sétimo tento foi um auto-golo do arménio Hovhannisyan). Verificou-se alguma rotatividade no que toca à referência de ataque, com Balaj, Çikalleshi, Gashi e Sadiku a ocuparem o lugar. O estilo de jogo dos albaneses obriga o ponta-de-lança a um trabalho ingrato e Gianni de Biasi procurou testar várias soluções a esse nível. Hamdi Salihi, jogador no ativo que tem mais golos pela seleção albanesa (11), está fora do lote de convocados.

Embora seja uma equipa pouco rematadora, revela uma taxa de eficácia invejável, tal como demonstram os dados do portal “Soccerway”: No encontro diante da seleção portuguesa (7/09/2014), a Albânia só precisou de rematar uma vez à baliza “lusa” para marcar. No confronto com a Arménia (11/10/2015), rematou quatro vezes (sete no total) na direção da baliza e fez três golos. Recorrendo a dados mais recentes, relativos ao amigável frente ao Qatar (29/05/2016), a mesma fonte apresenta quatro remates com destino à baliza contrária (seis no total) numa partida em que a Albânia triunfou por três bolas a uma.

“Les Bleus” e “Shqiponjat” já se conhecem

A Albânia está inserida no grupo A, juntamente com as seleções de França, Suíça e Roménia. “Outsider” no que diz respeito à luta pelo acesso à fase seguinte, os últimos dois compromissos frente à seleção francesa permitem encarar a equipa da casa com optimismo. A caminho do campeonato da Europa, a Albânia disputou dois amigáveis com os gauleses e o saldo foi positivo, com um empate (1-1) fora de portas e uma vitória em casa (1-0). Relembre-se que a seleção francesa disputou encontros de cariz amigável com as seleções do grupo I de qualificação.

No mês de junho, a seleção albanesa disputou dois encontros amigáveis e teve sortes distintas: Venceu o Qatar (3-1) mas perdeu com a congénere da Ucrânia (1-3). A estreia no campeonato da Europa está agendada para dia 11, frente à Suíça, num encontro em que estarão frente a frente os irmãos Granit e Taulant Xhaka.

Lista de convocados:

Guarda-redes: Etrit Berisha (Lazio), Alban Hoxha (Partizani), Orges Shehi (Skënderbeu)
Defesas: Lorik Cana (Nantes), Arlind Ajeti (Frosinone), Mërgim Mavraj (Colónia), Elseid Hysaj (Nápoles), Ansi Agolli (Qarabağ), Frederic Veseli (Lugano), Naser Aliji (Basileia).
Médios: Ledjan Memushaj (Pescara), Ergys Kaçe (PAOK), Andi Lila (Giannina), Migjen Basha (Como), Odise Roshi (Rijeka), Burim Kukeli (Zurique), Ermir Lenjani (Nantes), Taulant Xhaka (Basileia), Armir Abrashi (Friburgo).
Avançados: Bekim Balaj (Rijeka), Sokol Çikalleshi (Medipol Baksasehir), Armando Sadiku (Vaduz), Shkëlzen Gashi (Colorado Rapids).

Calendário: 

Albânia x Suíça – Stade Bollaert-Delelis, Lens – 11/06/2016
Albânia x França – Stade Vélodrome, Marselha – 15/06/2016
Albânia x Roménia – Parc Olympique Lyonnais, Lyon – 19/06/2016

Boas Apostas!