A cada início de temporada, enquanto percorremos o olhar pelo máximo número de partidas, guardamos sempre aquele desejo secreto de nos apaixonarmos por uma equipa que nos surpreenda. Muitas vezes, isso são apenas como os amores de verão que, entrando em setembro e com o passar dos jogos, se vai diluindo na sua normalidade.

Este ano é o Vitória de Guimarães quem nos vai conquistando. Os argumentos parecem estar todo lá. Um técnico a quem reconhecemos qualidades e um trajeto que nos permite confiar. Um conjunto de jovens jogadores a dar os primeiros passos na Liga. Um futebol ofensivo, aberto, rebelde, pronto a deliciar-nos com a sua mentalidade e capaz de chegar, com facilidade, ao golo. Agora que começa setembro e a Primeira Liga faz a sua primeira pausa, devemos perguntar-nos: será mesmo apenas mais um amor de verão?

Um técnico com garantias

Enquanto jogador, Rui Vitória nunca conseguiu marcar presença na divisão maior do futebol português, mas ganhou o respeito dos adversários nas divisões secundárias, tendo feito a maior parte da sua carreira ao serviço do Vilafranquense. Um médio com visão de jogo e segurança em posse, como que se adivinhava a sua transformação em treinador. Foi em Vila Franca de Xira que Rui Vitória deu os seus primeiros passos enquanto técnico, mas talvez tenha sido a saída para os escalões de formação do Benfica o passo decisivo para hoje o termos como um treinador de referência na Primeira Liga.

Depois de dois anos como técnico dos juniores do encarnados, Rui Vitória saiu para o Fátima, onde conseguiu duas promoções da 2ª Divisão B para a Segunda Liga. O clube não teria todas as estruturas necessárias para enfrentar a realidade do futebol profissional, mas o técnico foi capaz de ultrapassar as limitações e colocar Fátima no mapa futebolístico. A saída para Paços de Ferreira foi uma promoção natural para um treinador que tinha feito tudo para merecer a oportunidade. Na Capital do Móvel, Vitória voltou a demonstrar o talento que já lhe era reconhecido para, em pouco mais de um ano, se mudar para Guimarães.

Estando na sua quarta época ao serviço do Vitória de Guimarães, o treinador bate recordes em Portugal, mostrando que, da mesma forma que foi capaz de levar a sua equipa a uma vitória na Taça de Portugal, também se soube adaptar à realidade do clube para, com pouquíssimos meios, manter o Vitória muito competitivo e no topo da tabela.

Um plantel a sonhar com o futuro

André André

A.André salta mais alto

Três jogadores formam a base da equipa de Rui Vitória, alimentando com experiência e liderança um grupo pleno de juventude. O guarda-redes Douglas é já considerado como um homem da casa, tornando-se parte da paixão com que os adeptos vivem o emblema. Para a sua frente chegou, este ano, Rodrigo Defendi, um defesa-central que encaixa perfeitamente na estrutura vimaranense e permite-lhe a quase excelência defensiva nestes três primeiros encontros. Um espaço à frente, André André ganha relevo como um dos médios mais importantes do nosso campeonato, com a sua capacidade de ligar as duas áreas e uma personalidade que o transforma num capitão natural para esta equipa.

No entanto, o que torna o Vitória de Guimarães tão apaixonante é o facto do Estádio Afonso Henriques se estar a transformar no paraíso dos observadores. Aquele que detém o papel mais invisível na equipa, Cafú, promete ser dos jogadores que mais longe poderá chegar. Formado em Guimarães, o possante médio-defensivo passou pelo Benfica e regressou a casa, onde soube esperar pela sua oportunidade na equipa B. Este ano surge como titular indiscutível, deixando poucas dúvidas sobre o seu crescimento enquanto profissional.

Do meio-campo para a frente estão as pérolas de Rui Vitória, os meninos que o treinador sublinha parecerem jogar um futebol de rua, tal a sua alegria em cada jogo. Bernard Mensah é um jovem de apenas 19 anos, que irrompeu nestas primeiras jornadas como um foguete na lista dos marcadores de golos, enquanto Hernâni foi polido no laboratório de Guimarães depois de ter surgido no Atlético. Já numa etapa ligeiramente avançada da sua evolução, Alex tem comprovado toda a qualidade que o fez ser internacional jovem português, enquanto Tomané recebe a oportunidade de combater o mito de que os portugueses são incapazes de formar ponta-de-lanças.

Do mercado para o resto da época

O fecho do mercado trouxe novidades para a equipa, sobretudo em posições onde o técnico lutava para encontrar opções. A chegada dos laterais Bruno Gaspar, para a direita, e Chemmam, para a esquerda, permitirá a Rui Vitória respirar um pouco mais, ainda que o treinador tenha plena consciência de que não terá uma profundidade de plantel que lhe permita aguentar ausências forçadas. No entanto, com a contínua descoberta de novos talentos – João Afonso, que no ano passado jogava no Benfica de Castelo Branco, no Campeonato Nacional de Seniores, já foi lançado como titular este ano -, o Vitória de Guimarães arrisca-se a provar que alguns dos amores de verão são mesmo para durar.

Boas Apostas!