O presidente do Sporting CP, quando surgiu candidato à chefia da agremiação de Alvalade, apareceu com um discurso diferente, mas muito popular, lição apreendida nas bancadas do Estádio, e quis levar com ele, para a tribuna presidencial, esse discurso de povo, de quem grita para se fazer ouvir, mas que não tem responsabilidades factuais. Nem será confrontado, nunca, com as suas opiniões.
Bruno de Carvalho, o presidente do Sporting CP, levou esse discurso, diferente e popular, até ao limite. A corda ainda não quebrou. Mas está na iminência. E o presidente já está só. Só com o pequeno núcleo que não sobrevive sem o chefe e que lhe garantem sempre o Amén! Ele e o seu poder. Ele no seu próprio labirinto. E o seu séquito atrás. De onde parecem não saber, nem querer, sair.
Na verdade, de pouca importância teriam as provocações de Bruno de Carvalho, na sua maior parte de pólvora seca, ou seja, inconsequentes. Mas desta vez, feriu mesmo o núcleo da sua própria equipa, aquilo que, afinal, deveria defender a todo o custo, contra tudo e contra todos. Bastaria ter estudado a lição de casa. E ter visto os custos de acção semelhante feita pelo ex-presidente do SL Benfica, Vale e Azevedo, aquando de uma humilhante derrota em Vigo, contra o Celta local, por 7 a o.
Há alturas para tudo na vida de uma pessoa, e logicamente, na vida de um jogador de futebol. Dias que correm menos bem. Há dias em que tudo corre mesmo mal. Há dias em que a vontade desaparece. E é preciso, por vezes, um esforço hercúleo para a recuperar. E nessas alturas é necessário uma voz sábia que nos conduza em direcção à razão. Mas essa voz deve ser sussurrada ao ouvido, não gritada em praça pública. Porque aquilo que poderá ser motivador (o incentivo próximo), poderá ser altamente desmotivador (o puxar-de-orelhas público).
Não será por acaso que José Mourinho, que tem tanto de irritante como de campeão, sabe como motivar os seus jogadores. Por vezes também lhes zurze em praça pública, nomeadamente quando já não sabe o que mais fazer. Mas normalmente é sempre em privado, que os motiva ou lhes puxa as orelhas. Lhes faz ver o motivo, a razão, o porquê e para quê. Não é por acaso que nos lembramos dos jogadores do Inter, campeões da Europa, a chorarem na despedida do treinador. Há que saber fazer. Para perdurar.
Bruno de Carvalho não o sabe fazer.

Bruno de Carvalho festeja, como gosta, no relvado, mas sozinho
Depois do triste jogo feito pela sua equipa em Guimarães, onde perdeu com o Vitória local por 3 a 0, resultado sem contestação, e num fim-de-semana em que também o Sporting B perdeu, copiosamente, por 5 a 0 com o Atlético CP, Bruno de Carvalho deu asas à sua indignação para com os jogadores do Sporting CP num texto, bastante agressivo, colocado na sua página do Facebook. Algumas pérolas: “Ao nível do futebol sénior, este fim de semana jamais poderá ser esquecido. Quer a equipa principal, quer a equipa B brindaram os sportinguistas com péssimas exibições que não dignificaram o nosso clube e a nossa camisola. Não demonstraram garra nem vontade de vencer e isso é lamentável, só nos restando pedir desculpa por não termos sido dignos do clube que representamos.”
Um mea culpa presidencial que quer arrastar consigo os jogadores para um plenário de rua. O tribunal da bancada. O mesmo que, sendo responsável pelo sucesso do futebol, não pode ter responsabilidades. O grosso vai atrás de vozes mais possantes. Na maior parte dos casos, não há racionalidade. E é essa racionalidade que é pedida aos presidentes, que não podem ser cataventos de opinião, mudando após cada espirro de um adepto, por mais que esse adepto vocifere.
Já no seguimento deste texto, alguns jogadores manifestaram o seu repúdio perante as palavras escritas pelo presidente. Depois da sensacional vitória do Sporting CP sobre o Schalke 04, para a Liga dos Campeões, por 4 a 2, no final do jogo, Bruno de Carvalho, normalmente tão efusivo no relvado à volta dos jogadores, andou sozinho, não tendo trocado nenhum mimo com os jogadores sportinguistas. Como afirmou Nani, num desabafo: “Quem não sabe perder, também não sabe ganhar.”
Mas quando tudo parecia sanado, depois da derrota, das críticas presidenciais, das respostas de alguns jogadores e da vitória retemperadora, eis que o Sporting CP volta a fazer das suas, deixando-se empatar em casa com o Paços de Ferreira, pasme-se, de Paulo Fonseca. E tudo volta à estaca zero.
Hoje era noticiado, em alguns orgãos de comunicação social, que os jogadores Rui Patrício, Jefferson e Nani poderiam ser alvo de um processo disciplinar devido às respostas que terão dado depois do desagrado presidencial.
Ora, numa altura em que a equipa deveria estar focada no campeonato (ou na Taça de Portugal, para o qual será o próximo jogo), anda a desgastar-se em guerrinhas internas que não trazem nada de bom a ninguém.
Veja-se se alguma vez alguém ouviu Jorge Nuno Pinto da Costa destratar algum jogador na praça pública? Se Luís Filipe Vieira não aprendeu bem a lição? Todas e quaisquer críticas a serem feitas, e por vezes há necessidade de as fazer, são feitas internamente. Dentro do balneário. Não em autos-de-fé demagógicos que só servem para mostrar um poder pírrico.
O problema é como é que Bruno de Carvalho irá agora sair do labirinto que ele próprio criou. É que Rui Patrício e Nani, menos Jefferson, são peças essenciais para o Sporting CP de Marco Silva. E quando se começa a perceber que o plantel é muito curto para quem também tem jogos a efectuar na UEFA, dois jogadores como estes dois, que podem ser três, a menos, são um grande problema.
Mas este é o estilo de Bruno de Carvalho. O presidente que gosta de se sentar no banco dos suplentes, junto ao relvado, levantar os braços nas vitórias e correr pelo campo a agradecer os aplausos dos adeptos, como se de um super-herói se tratasse. Depois de ter agradado à bancada por ter zurzido nos atletas calões, tem de saber pedir desculpa a esses mesmos atletas que podem não estar para o aturar. E depois, Bruno, como é que vais construir uma equipa?
Boas Apostas!