Mauricio_PochettinoSei que é inevitável o destaque dado à campanha do Leicester. Mas o que o Tottenham está a fazer esta temporada não pode escapar entre os pingos da chuva da atenção mediática. A ação de Mauricio Pochettino na segunda temporada à frente dos Spurs é histórica. E se o clube souber ser inteligente pode ser a base de um novo patamar para a equipa de White Hart Lane.

Tottenham afirma-se em Inglaterra e na Europa

Na última jornada o Tottenham foi vencer o Manchester City ao Etihad por duas bolas a uma, o que já não acontecia há quase seis anos. Acresce ainda que esse triunfo no reduto dos poderosos Citizens alterou o equilíbrio de forças no top-4 da Liga Inglesa. Com os três pontos os Spurs passaram para o segundo lugar, com os mesmos cinquenta e um pontos que o conjunto de Arsène Wenger. A liderança do Leicester está apenas a dois de distância. A doze jornadas do final do campeonato não há forma de negar: o clube de White Hart Lane pode vencer a Premier League. E esta é apenas uma das frentes em que luta pela glória.

Na quinta-feira os Spurs foram a Florença impor uma igualdade à Fiorentina (1-1), na primeira mão dos dezasseis avos de final da Liga Europa. Saiu a provocação pela culatra ao treinador Paulo Sousa, quando na antevisão do encontro disse que o Tottenham podia estar a impressionar em Inglaterra mas ainda não tinha enfrentado um adversário como a sua equipa. Este resultado abre boas perspetivas para o segundo jogo, em Londres, na próxima semana.

Sucesso dos Spur está nos detalhes

A dimensão do feito de Mauricio Pochettino no Spurs só não brilha muito mais porque há uns tais de Foxes, que seriam candidatos à descida, no topo da classificação. Pode não ser tão espetacular mas o trabalho do argentino é tão ou mais notável. É impossível não tomar nota do talento que recheia o plantel do meio-campo para a frente. Jovens como Harry Kane, Dele Alli ou Bentaleb parece que já fazem isto há anos. Mas há duas características desta equipa que estão verdadeiramente a fazer a diferença.

Talento, juventude e um treinador com ideias claras

Talento, juventude e um treinador com ideias claras

Neste momento, os Spurs têm a melhor defesa da Liga Inglesa. Sim ouviram bem. Não só têm uma capacidade finalizadora de topo como são a equipa que concedeu menos golos no campeonato (20). Quem segue este campeonato com regularidade sabe o insólito da coisa. O Tottenham era conhecido por ter umas explosões ofensivas brilhantes, a espaços, e depois deitar tudo a perder com um setor recuado que era um desastre. Claro que tudo começa na baliza e por vezes até nos passa ao lado o fator de ser o detentor da baliza gaulesa o guardião de serviço. À sua frente uma dupla estável – Jan Vertonghen e Toby Alderweireld – que só foi quebrada com a lesão do primeiro. E assim o treinador pode ir rodando a utilização dos laterais sem que se note a mínima diferença na solidez defensiva. Outra peça essencial tem sido o ex-sportinguista Eric Dier. No fundo ele opera como primeira barreira defensiva e pode sempre recuar para compensa qualquer movimentação dos centrais. A subida dos homens das alas está assim bem protegida.

A segunda qualidade diferenciadora, e que à semelhança da anterior é atípica nos Spurs, é a profundidade do plantel. Isto numa equipa, que no início da temporada suscitava precisamente essa preocupação, sobretudo em duas posições: médio defensivo e avançado. Os jogadores revezam-se, cada um com características próprias, mas a equipa não se ressente. Pochettino dá-se ao luxo de ter Erik Lamela, Nabil Bentaleb ou Nacer Chadli a rodar pelo banco. E aqui entra outro pormenor de enorme importância. A equipa do Tottenham está a funcionar a um nível físico elevadíssimo. No top-10 dos jogadores que fazem mais quilómetros por partida estão três elementos dos Spurs – Alli, Eriksen e Lamela – e o mais impressionante é que essa exigência não se tem notado no número de lesões musculares. Mais um trabalho de topo a ser feito por esta equipa técnica.