Quando, no início de janeiro, Clarence Seedorf foi anunciado como o substituto de Massimiliano Allegri no comando do AC Milan, muitos duvidaram da capacidade do holandês, que abandonou nessa mesma semana a sua carreira de jogador, onde representava o Botafogo, para pegar num barco tão grande e instável como a equipa rossonera. No entanto, sendo Seedorf uma figura do clube e um dos meninos queridos da administração, parecia ter a retaguarda protegida para preparar um bom trabalho na equipa. Passados apenas dois meses, já chegou o ultimato. Ou vence as duas próximas partidas, ou acaba aqui a sua primeira etapa como treinador.

O jornal italiano La Gazzeta dello Sport tem vindo a dedicar espaço, nas suas páginas, ao que pode ser o fim de mais um equívoco da família Berlusconi à frente do seu clube. Na passada terça-feira, numa reunião que juntou Sílvio e a sua filha Bárbara, o diretor Adriano Galliani e três jogadores, ficou delineado o prognóstico sobre o futuro de Clarence Seedorf. As dúvidas ultrapassaram as certezas, pois na ideia de Sílvio Berlusconi, que foi o grande defensor da chegada de Seedorf para técnico do AC Milan, as escolhas técnicas e a incapacidade para mudar o clima no balneário tornaram a situação praticamente insustentável. Assim, aquele que foi um defensor do holandês, parece estar perto de mudar de ideias.

O afastamento da Liga dos Campeões às mãos do Atlético de Madrid veio colocar em evidência a situação atual da equipa. Sílvio Berlusconi não aceita que o AC Milan fique de fora da Europa, mas estando em 11º lugar e fora da Taça de Itália, a única opção que resta ao clube é alcançar a Liga Europa. Mas, sendo realistas, a equipa tem 12 pontos de atraso em relação ao Inter de Milão, o seu grande rival e atual 5º classificado da Série A, pelo que só uma verdadeira revolução na equipa poderia transportar os rossoneri para a posição desejada pelo seu presidente.

A reunião teve por objetivo manter Silvio Berlusconi ao corrente do que vai acontecendo em Milanello, onde cresce a sensação de que só vitórias nos próximos encontros poderão salvar Clarence Seedorf. Tanto que já vão sendo pesadas as alternativas, com Mauro Tassoti a ser o favorito para, uma vez mais, fazer a ponte até que chegue um novo treinador. Tendo em conta o momento da temporada, ficou certo que o melhor será entregar a equipa a alguém que, interinamente, prepare a chegada de um novo técnico. E se um outro ex-jogador, Filippo Inzaghi reúne admiração da parte de Berlusconi, também há quem veja no atual selecionador italiano, Cesare Prandelli, uma opção mais segura, tendo em conta a experiência.

As queixas dos jogadores

Mario Balotelli AC Milan

Balotelli sempre no centro das atenções

Numa outra peça publicada no diário italiano surgem expressas as queixas dos jogadores. Parte delas estão ligadas aos novos hábitos impostos por Clarence Seedorf, que agenda todos os treinos para a parte da tarde, não havendo preparação matinal no AC Milan desde a chegada do holandês. O ritmo dos treinos também é questionado, dado o excesso de palestras preparadas pelo treinador, que também é adepto de longas interrupções dos trabalhos para aprofundar as suas explicações sobre cada exercício. Para além do mais, Seedorf impôs um calendário de reuniões com a presença do psicólogo, algo que também é referido como um dos incómodos dos jogadores.

Passando para o campo tático, a colocação de jogadores fora das suas posições tem gerado um crescente descontentamento, com De Sciglio a ser um dos elementos menos satisfeitos com o novo papel. Para além disso, existe uma diferença de tratamento entre jogadores, com Balotelli a ver perdoadas situações que são cobradas a outros jogadores e a recente promoção do francês Mexés a capitão, na partida frente ao Nápoles, a não ter sido bem entendida pelo plantel.

Todo um conjunto de situações que poderão empurrar Seedorf para a rua antes de completar um terceiro mês na sua carreira de treinador.

Boas Apostas!