O povo suspirava para ver Samba e Tango nas meias-finais da Copa América, e o desejo foi tornado realidade, depois da Argentina afastar a Venezuela, nos quartos-de-final da competição. Assim, brasileiros e argentinos continuarão a sua rivalidade que perdura por mais de 105 anos, e que tornam estes encontros muito especiais. Não é apenas um jogo de futebol, não estão apenas fortes emoções à flor da pela, dentro das quatro linhas, e é por isso natural todo este entusiasmo.
A rivalidade não está apenas dentro do rectângulo de jogo, e até na contagem oficial temos uma rivalidade com contagens diferentes, senão vejamos. A “AFA” atribui um número igual de triunfos para as duas seleções, que se conta por 38 vitórias para cada uma e 26 empates. Mas, a “CBF” não concorda e apresenta números um pouco diferentes, atribuíndo 42 vitórias para o Brasil, contra 38 da Argentina, contabilizado, porém, o mesmo número de empates, ou seja 26.
Mas, vamos focando na Copa América, e aqui importa referir a “superioridade” Argentina. A turma albiceleste já triunfou por 15 vezes, contra 9 do Brasil, e 8 jogos terminaram empatados. Nos golos marcados, naturalmente que a Argentina também tem mais, contabilizando 52, sendo que o Brasil apenas se ficou pelos 38. Toda esta estatística poderá ser “atenuada” ou encurtada, por parte do Brasil, que tem a oportunidade de o fazer jogando em casa. No Mineirão, o povo brasileiro espera um triunfo, quase a qualquer custo, e poderá ser daqueles jogos onde Tite sairá “ileso” sem críticas, desde que pura e simplesmente vença!
Mas, duas seleções tão diferentes, mas ao mesmo tempo com pontos tão idênticos, que se chegam a tocar. Refiro-me não apenas ao “talento” que abunda em ambas as formações, e até ao facto de serem capazes do melhor e do pior, num curto espaço de tempo. Os resultados, nesta Copa América, comprovam um pouco de duas seleções quase que “bipolares”, senão vejamos.
O samba que ainda está “perro”
O Brasil tem o mérito de chegar às meias-finais, desta competição, sem qualquer golo sofrido, e a par da Colômbia são as únicas duas seleções que ostentam este registo. A primeira pergunta que se impões é: “é positivo”? Sim, claramente, mas “não há bela sem senão”, e este registo de solidez defensiva tem os seus custos na vertente ofensiva. Aliás tem sido essa uma das principais críticas à canarinha, mesmo depois de vitórias de (5-0) sobre o Peru ou (3-0) sobre a Bolívia.
Mas, este Brasil está tão favorito, para vencer esta Copa América, que se “exige”, por vezes demais, e os resultados não são somente o que importa. Eu diria que o Brasil está quase que “obrigado” a vencer e a convencer nesta Copa América, praticamente em todos os jogos. Mas, não é isso que tem acontecido, e temos uma canarinha “bipolar” em alguns jogos, como poderemos ver se seguida.
A primeira parte com a Bolívia foi de “sono”, enfadonha, e trouxe um Brasil sem ideias, constantemente a bater contra um muro, e a não conseguir ter criatividade, arte e engenho para desmontar a defesa boliviana. Mas, nada que uma grande penalidade não ajude, sobretudo para serenar os ânimos. Coutinho marcou ao minuto 50, e a partir daí tivemos “outro Brasil” completamente diferente, e foi com naturalidade que chegou à marca dos três golos.
Mas, depois desses bons 40 minutos, quando parecia que o Samba iria finalmente “engrenar, eis que choca de frente com a Venezuela, e mais uma vez, a canarinha não teve capacidade para fazer dançar uma defesa forte, com linhas juntas, e o resultado não saiu do nulo. Mas, o estado “bipolar” iria fazer-se sentir novamente, e no 3º jogo, um (5-0) ao Peru, trouxe novamente o melhor Brasil, mas sem tirar qualquer ponta de mérito, à seleção de Tite, o Peru participou na festa, e com erros incríveis, como no 2º golo, que praticamente foi “oferta”.
Mas, como não há duas sem três, chega o embate dos quartos-de-final e aparece, novamente, a versão Brasil “perro” e assistimos a mais um nulo, desta vez contra o Paraguai. Ou seja, já temos matéria, mais que suficiente, para poder antever grandes dificuldades, sempre que o Brasil enfrente seleções com abordagens defensivas. Não interessa o ranking da seleção, e isso ficou provado na vitória mais expressiva, contra a melhor seleção que defrontou até agora, o Peru. Aliás, contra seleções que joguem um pouco mais ofensivas, o Brasil tem outras chances de vencer.
É assim este Brasil de Tite, ou se gosta muito ou se detesta. Reconheço que seja difícil ver esta forma de jogar numa seleção com talento e magia, com jogadores como Coutinho, Firmino, Gabriel Jesus, Richarlison, Everton, entre outros… Mas, se ofensivamente, muitas vezes, falha muita coisa, no plano defensivo é das seleções mais fortes, e isso pode fazer a diferença, em muitos jogos. Este Brasil de Tite não joga bonito, por vezes não dá espectáculo, mas no final, se vencer a Copa América poderá ser que chegue para alguns dos seus adeptos.
Messi o professor do Tango
De Messi espera-se sempre mais, mesmo com a “idade” a passar, mesmo sabendo-se que nas seleções não há o mesmo entrosamento que nos clubes, mas quem tem Messi, tem sempre uma esperança “extra” e a verdade é que volta e meia lá aparece o verdadeiro professor do tango.
Jogando a 10, é evidente o papel que Scaloni quer dar a Messi, para que este jogue e faça jogar toda a equipa. Mas, para que este losango funcione estão a “sacrificar” do onze titular jogadores como Di Maria ou Dybala, ou se quisermos estão a “cortar as asas” a turma albiceleste. A verdade é que este jogo, diante da Venezuela, apesar de não ter sido uma grande exibição Argentina, muito longe disso, a verdade é que foi a melhor exibição da formação de Scaloni. Messi continua a “pincelar”, aqui e ali o jogo da Argentina com classe e talento, e a ideia é “alimentar” a dupla Aguero e Martínez, ou Dybala. Tal como o Brasil está hoje uma seleção mais paciente, e que tenta resolver, mais cedo ou mais tarde, os seus jogos, pelo talento que tem na frente, a verdade é que esta seleção Argentina tem uma receita idêntica, pelo menos na abordagem pragmática que muitas vezes tenta colocar em jogo.
Assim sendo, este duelo de Samba vs Tango, poderá ser apenas de nome, uma vez que ambas as seleções tem dançado estilos bem diferentes. No jogo do pragmatismo, quem vencerá?