A Liga Inglesa arranca dentro de três semanas. Longe vão os tempos em que o futebol inglês primava pela componente física, pela garra e pela pobreza tática. Esta temporada a Premier League promete transformar-se numa espécie de banquete nas componentes técnico-táticas. É inevitável a referência à rivalidade entre Mourinho e Guardiola mas essa é só a relação mais mediática. Há uma revolução a acontecer em Stanford Bridge e será o ano de afirmação de Klopp no Liverpool. Mas o mais importante é que esta liga, que já era a mais competitiva, se está a transformar numa liga de treinadores, de quipás com assinatura de autor.
A transformação não se deu de um momento para o outro. A prova maior é que Arsène Wenger está a trabalhar no Arsenal há quase duas décadas. Mas a temporada de 2016/17 vai ser um exagero. No melhor dos sentidos. Vamos ter a competir no mesmo campeonato, que já era o mais competitivo do mundo, alguns dos melhores pensadores e transformadores do futebol moderno. Quase como um menu, nos clubes ingleses vamos poder encontrar quase todas as tendências. É inevitável que os holofotes se centrem na rivalidade Mourinho/ Guardiola mas isso é em grande parte folclore. Há, evidentemente um confronto de filosofias. Mas o mais excitante pode estar a acontecer ao lado. Antonio Conte está obrigado a fazer uma revolução em Stamford Bridge. E Klopp terá que provar que pode elevar o Liverpool ao patamar seguinte. Mas não nos esqueçamos do resto. Terá Wenger condições de sobreviver com esta concorrência? E Ranieri, que coelho pode sacar da cartola depois do título? Sem esquecer os técnicos da segunda linha, aqueles que não são equacionados para vencer a liga mas estão a lutar para transformar a dimensão dos respetivos clubes, como Bilic, Pochettino ou Koeman. Dentro deste enquadramento, os menos excitantes de seguir serão os britânicos. E isso devia ser motivo de preocupação.
O Filósofo

Grandes expetativas rodeiam a chegada do catalão ao Etihad e o City precisa de carácter.
Pep Guardiola é talvez o mais conceituado dos treinadores a nível mundial. Por aquilo que fez no Barcelona, a construção do tiki-taka e a defesa do futebol estético fez dele uma espécie de ídolo no mundo do futebol. A sua passagem por Munique, apesar de amplamente sucedida, ficou com aquela pequena mácula de não conseguir vencer a Liga dos Campeões. O nível de exigência para quem apregoa a quase perfeição dá nisto. De qualquer forma, a experiência na Alemanha deu para percebermos – arrisco dizer nós e o próprio treinador catalão – que é irrepetível a era do Barça. E aqui eu acrescento, espero que Guardiola concorde, ainda bem. Porque também provou que Pep pode fazer outras coisas, adaptar-se ao contexto onde está inserido. O City tem o dinheiro e o catalão foi contratado para lhe dar caráter. Muito trabalho pela frente.
A fera amansada (?)
No polo oposto está José Mourinho. O Special One conseguiu, por fim, a sua cadeira de sonho no Teatro dos mesmos. Ainda que tenha continuado a ser um treinador ganhador, o português teve alguns desaires nos últimos anos, todos eles provocados pela sua personalidade demasiado abrasiva. Espero, que tenha realmente interiorizado as experiências e revisto as suas atitudes. A autoconfiança, que roça a arrogância, criou-lhe numerosos anticorpos e atrapalhou o sucesso profissional, é inegável. Mourinho só não foi parar a Old Trafford à primeira porque muitos dos históricos do United, Fergusson à cabeça, torciam o nariz ao seu comportamento. No Real e no Chelsea fez com que o balneário se virasse contra si. Esta é uma época de viragem e ele sabe melhor do que ninguém. Os Red Devils têm fome de vencer e isso vai jogar a favor dele.
O mestre da tática
Haveria muita gente em Inglaterra que não sabia muito bem o que esperar de Antonio Conte mas o Euro 2016 esclareceu os mais distraídos. O Chelsea contratou um grande treinador. Altamente competente no aspeto tático e estratégico, tem também a mentalidade vencedora que não admite contestação. O Martelo não é assim conhecido por ser de panos quentes e vai querer definir todos os ínfimos pormenores da equipa. Já disse que Terry é para manter, como capitão, e que vem para vencer. Diz que entende o seu trabalho como o de um alfaiate, que tem que desenhar um fato à medida do cliente. Mas o cliente que se livre de dar palpites.
O último dinossáurio

Os dois quase chegaram a vias de facto e Mourinho adora lembrar que Wenger é um perdedor.
Quem vai sofrer mais com esta vaga de treinadores que chegam à Liga Inglesa é Arsène Wenger. A comparação é inevitável e o francês não sai bem na fotografia. Apesar de continuar a ser um crónico candidato ao título, há muito que o Arsenal não vence o campeonato. Na temporada passada teve uma oportunidade única, com os problemas dos concorrentes, e foi ultrapassado pelo Leicester e quase até à última pelo Tottenham. O plantel, à exceção de dois ou três jogadores extraordinários – Ozil e Alexis Sánchez à cabeça – o plantel é mediano e o dirigentes do clube londrino já avisaram os adeptos para não terem expetativas de contratações milionárias. Da forma como os rivais se estão a reforçar, vai ser uma época complicada para os Gunners.
Não faltam aqui pontos de interesse para acompanhar a Liga Inglesa. Vinte e dois dias para o arranque, em contagem decrescente.
Boas Apostas!