
Adeptos do Liverpool abandonam o jogo ao minuto 77
No passado fim de semana, aos setenta e sete minutos da partida com o Sunderland, os adeptos do Liverpool começaram a abandonar Anfield, gritando “Enough is enough”. A iniciativa pretendia protestar contra a nova estrutura de preços dos bilhetes anunciada pela direção do clube. Ir ver um jogo pode custar até setenta e sete libras. As situações são muito distintas de clube para clube mas a verdade é que ir ao futebol em Inglaterra está pela hora da morte. Nas próximas semanas os protestos podem ganhar dimensão nacional e a discussão já chegou ao Parlamento.
Adeptos do Liverpool dizem basta
Depois várias semanas de encontros com representantes dos adeptos o Fenway Sports Group, proprietário do Liverpool, decidiu estabelecer uma estrutura de preços para a próxima temporada que vai ao arrepio das ideias discutidas. Apesar de o comunicado afirmar que sessenta e quatro por cento dos bilhetes não vai sofrer aumentos as várias análises não conseguem chegar à mesma conclusão.
O futebol não é nada sem os adeptos
Para começar, o Liverpool tinha seis categorias de preço e passa a ter vinte. O que complica e muito qualquer comparação. A direção do clube definiu como prioridade promover a frequência de jovens e apoiantes locais. Para os mais novos haverá bilhetes em Anfield entre nove e onze libras (onze e catorze euros, aproximadamente) e haverá também lugares reservados para os adeptos da cidade a preços acessíveis. Mas para quase todos os outros o aumento existe e pode ser muito significativo. No caso dos bilhetes de época, a média de preços passa dos atuais 1120 para 1330€. São duzentos e dez euros a mais. Mas não é só. Os adeptos com deficiência, que têm direito entradas de valor mais acessível para lugares perto do relvado, segundo investigação do Guardian, podem passar a pagar em média mais cinquenta por cento do que até aqui. E há o teto máximo para bilhetes individuais, o valor utilizado pelos fans para exprimir a sua indignação: setenta e sete libras, cem euros.
“Somos adeptos, não consumidores”
A renovação da Main Stand, bancada central do estádio, vai permitir um aumento da lotação para os cinquenta mil. Na próxima temporada entra em vigor um novo contrato de direitos televisivos que vai trazer muitos milhões a mais ao clubes da Liga Inglesa, a que no caso específico dos Reds se juntam chorudos contratos com patrocinadores. A comissão de adeptos esperava que essas fontes de financiamento pudessem aliviar os custos para quem acompanha a equipa no estádio e a expetativa saiu gorada. Por isso orquestraram o protesto do fim de semana. Ao minuto setenta e sete do jogo com o Sunderland os adeptos levantaram-se e começaram a sair. Os cânticos não podia ser mais eloquentes. “Enough is enough” e “we love you Liverpool, we do” dizem tudo. E ao que parece não exprimem apenas o sentimento dos Reds. Adeptos por toda a Inglaterra dizem sentir que os querem afastar das bancadas para as encherem com turistas. O protesto teve visibilidade para em todo o mundo e o Borussia Dortmund aproveitou para fazer uma manifestação no mesmo sentido, atirando bolas de ténis para o relvado.
Esta discussão não é nova em Inglaterra. Ir ao futebol, que era um entretimento popular e de massas está a ficar inacessível a muitos. Uma das coisas que mais apaixona na Premier League é a visão dos seus estádios repletos de gente, a interagir com o relvado com cânticos e tarjas. É também uma dos fatores que vende o produto “Premier League”, convém que os donos não percam de vista isso.
Isto é apenas o começo
Uma das aspirações dos adeptos ingleses era a de ver ser aprovado um valor máximo para os jogos fora de casa. Mas na última reunião de acionistas da Liga Inglesa o teto das 30£, que precisava dos votos favoráveis de catorze das vinte equipas, foi travado por United, Arsenal, Liverpool, Chelsea e City. Os fans do Liverpool já disseram que o de sábado foi apenas o começo e estão a preparar outras iniciativas. Nas próximas duas semanas este protesto pode ganhar dimensão nacional já que a FSF, federação de adeptos de futebol, está a pensar mobilizar os seus membros para se lhe juntar. Além de ações em dias de jogo podem estar na calha eventos para pressionar tanto os clubes como os seus principais patrocinadores.
Esta semana o assunto chega ao Parlamento e o Primeiro Ministro, David Cameron, já disse que ia debruçar-se sobre o assunto. O futebol movimento muito dinheiro mas mexe também com as paixões da população. Há poucos assuntos com a mesma capacidade de mobilização e unificação de uma sociedade civil e os poderes políticos sabem disso.
Boas Apostas!