Depois do tropeção inicial, Portugal volta a entrar no ringue, para um segundo round sem margem para mais erros. Fernando Santos promete refrescar a equipa mas garante que não haverá revolução no onze. A análise dos números dá algum conforto. A seleção portuguesa nunca perdeu um segundo jogo de um Europeu de futebol. E das duas vezes em que arrancou em falso – 2004 e 2012 – acabou por ir longe.

Justificar a confiança

De peito aberto: Portugal nunca perdeu o segundo jogo num Europeu.

De peito aberto: Portugal nunca perdeu o segundo jogo num Europeu.

Ontem, Croácia e Rep. Checa provaram, mais uma vez, que as coisas só se decidem no fim. Até ao lavar dos cestos ainda é vindima, é a expressão portuguesa e é nisso que Portugal se tem que focar. Como nós, portugueses, temos fama de ciclotímicos – vamos da euforia à depressão num abrir e fechar de olhos – convém recorrer a dados quantificáveis para mostrar que a esperança é justificada.

Portugal perdeu por duas vezes no jogo de arranque de um Europeu. No delírio coletivo que foi o Euro 2004 entramos a perder, premonitoriamente, frente aos gregos (1-2). Acabaríamos na única final, até à data, a perder com os mesmos. A outra situação aconteceu na abertura do Euro 2012, frente à Die Mannschaft (1-0). Fomos à meia-final e Nuestros Hermanos só se livraram de nós nos penáltis.

Acrescento aqui a parte não mensurável da análise à prestação da seleção portuguesa, aquilo que genericamente referimos como mentalidade. Portugal não se dá bem com facilidades. Porque mais que se repita o contrário em voz alta, no íntimo dos portugueses a abordagem a um grupo acessível é “está no papo”. Já quando temos algo a provar a coisa muda de figura. Neste momento, Portugal tem que vencer a Áustria e essa necessidade é a motivação que melhor funciona com a equipa das quinas. Pode não acontecer mas vai fazer por isso.

Ler as estatísticas

Gosto daquelas pessoas que desdenham das estatísticas com um “os números valem o que valem”, porque não diz absolutamente nada. De facto os números não falam, mas dão muitas indicações. E, como todos os símbolos, precisam de ser enquadrados no contexto e interpretados. É preciso ler os números, não os tomar como um valor em si. Um exemplo. No registo de confrontos diretos com a Áustria, Portugal está em desvantagem. Ganhou apenas dois de dez embates (2V/ 5E/ 3D). Afirmado assim, no vazio, estes dados só podem induzir em erro. Os austríacos foram uma potência do futebol mundial entre as décadas de 30 e 60 e foi nessa altura que nos começamos a cruzar. Mas desde então entraram em declínio, o que explica o facto de ser só esta segunda presença numa fase final de um Europeu – competição que arrancou em 1960. A evolução da seleção portuguesa passou por uma curva inversa. Teve o primeiro impacto fulgurante a nível internacional em meados dos anos 60 e de 96 para cá a presença nos grandes palcos tornou-se a norma. Ora, o último desses embates com a Áustria aconteceu em 1995, na fase de qualificação para o Euro do ano seguinte.

Revolução pacífica

Fernando Santos já disse que faz sentido refrescar a equipa em determinadas posições, em função do adversário, que é distinto, e ao ritmo dos jogos de uma competição deste género. Também foi taxativo ao reforçar a ideia de que não seria um castigo e que se desenganasse quem visse nas possíveis alterações uma revolução. O selecionador espera um jogo mais aberto, de parte a parte, com oportunidades para fazer transições rápidas. Desmistificou, se houvesse dúvidas, que não lhe repugna a ideia de alinhar com Nani, Cristiano Ronaldo e Quaresma em simultâneo. Isso seria adequado a essa expetativa de lançar contra-ataques. Mas esse cenário também obriga a cautelas defensivas. As queixas lombares de Danilo sugerem que William Carvalho entre para o lugar à frente dos centrais. Outra questão é a utilização de João Moutinho, longe do seu melhor rendimento, ou dar a Renato Sanches honras de titular. Entendo o burburinho mediático e a utilização do adolescente para causar impacto, a partir do banco. Mas para iniciar a partida Adrien parece-me uma opção muito mais acertada.

Boas Apostas!