Depois das rabanadas e do presépio, do Pai Natal e da Missa do Galo, chegou o espumante e as passas, alguns dias de festa e alegria, alguns a comer demais e o corpo a ressentir-se no cansaço mostrado no campo relvado, em jogos que se arrastaram, penosos, sonolentos.
Entre o início e o fim das festividades natalícias, o futebol português, mas não só, teve uma pequena pausa, que já foi maior, e este fim-de-semana, que não deixou curar a ressaca do Réveillon, trouxe o reinício da Primeira Liga, campeonato caseiro que, tirando mais do mesmo, voltou com a mesma emoção de sempre, ou seja, quase nenhuma.
Não que a Primeira Liga não seja uma boa Liga, que é. Mas pronto, há alturas em que já se sabe. Ganha quem ganha, quem pode ganhar. Una anos assim, outros anos assado. Sofrem, ou não, os adeptos dos 3 grandes clubes portugueses e, depois, mais umas poucas simpatias pelo segundo clube do coração, quase sempre o clube da terra, de nascimento, de adopção, de destino.
SL Benfica, FC Porto, Sporting CP e, esta época, o Vitória Guimarães, recomeçaram a Primeira Liga com as inevitáveis e esperadas vitórias. Umas mais suadas que outras. Mas tudo sem grandes medos e surpresas. E ainda não viramos o campeonato. Esta foi a 15ª jornada. Ainda faltam mais 2 jornadas para finalizar a primeira volta de uma Liga onde o verdadeiro campeonato se disputa a meio da tabela que, na frente, tudo está como há-de ir, e na cauda, começam a definir-se quem prepara o adeus. Tudo mais-ou-menos. Mas que não será muito diferente do que é.
Mas entre o início da pausa futebolística e o seu recomeço, houve bastantes outras disputas. Como sempre, fora das quatro linhas e, para não variar, deve-se esse entretém, ao Sporting CP, ao seu Presidente, ao seu treinador e a alguns adeptos mais ou menos mediáticos.
Guerra de Comadres
À falta de futebol, Bruno de Carvalho, o Presidente, Marco Silva, o treinador, e José Eduardo, o adepto mediático e comentador, chegaram-se à frente para entreter as hostes.
Tudo começou com algumas exibições menos conseguidas da equipa principal dos leões, e com o Presidente a ir para as redes sociais despachar uns textos bastante críticos à equipa e a alguns dos seus elementos. Alguns desses elementos, sentindo-se atingidos, não se negaram a ripostar. Marco Silva, o treinador, foi um dos elementos que respondeu, numa tentativa de defesa dos jogadores e do grupo de trabalho. Se a resposta de alguns jogadores, como Nani, ficaram por ali, sem consequências nem continuidade, Marco Silva foi combatido. Mais ainda do que pelo Presidente, pelo comentador e adepto sportinguista José Eduardo, de uma forma até bastante contundente, aparecendo como a voz do próprio Bruno de Carvalho.

O aperto de mão entre os desavindos Bruno de Carvalho e Marco Silva, num público enterrar do machado de guerra
Por um lado, Bruno de Carvalho sente-se agastado com os resultados da equipa que, prometia ele próprio no início da época, era candidata ao título. E depois, é o que se tem visto, uma boa equipa, mas frágil, a precisar de tempo e de um ou outro jogador, que tem vivido de golfadas, alternando entre o muito bom de jogadores exprimidos até não poderem mais, e o muito mau de jogadores cansados e gastos. É uma equipa pequena e jovem para todas as frentes onde está. Muito tem sido camuflado pela presença de um jogador superlativo como Nani. Mas este é só um jogador. E Marco Silva tem feito o possível com os jogadores que tem, mas não pode fazer milagres. E é isso que o treinador e os jogadores têm tentado mostrar ao Presidente. Que a equipa é boa. Mas jovem. Curta. E desequilibrada.
Claro que o problema não é só a equipa. Bruno de Carvalho tem especial gosto pela praça pública.
Mas depois de tudo, ainda apareceu José Eduardo, antigo jogador do clube, alegadamente com a cumplicidade do Presidente, a dizer que, este, supostamente, quereria substituir o treinador, e afirmar que Marco Silva tinha uma agenda própria e estaria a soldo de interesses de alguns agentes, ou empresários, e que teria, como objectivo final a destituição do Presidente leonino. Que ele próprio, José Eduardo, até gostava de Marco Silva como treinador, mas que um treinador não poderia estar no clube tendo uma agenda diferente da do próprio Sporting CP. O caldo entornou e Marco Silva respondeu a José Eduardo. Processou-o. E respondeu que a conversa de José Eduardo era digna de um filme de gangsters, como O Padrinho.
E isto tudo com o Sporting CP em blackout.
Ora, depois de terem ajudado a vender jornais e a sustentar os inúmeros programas televisivos de futebol nos 3 canais de informação portuguesa no cabo (RTP Informação, SIC Notícias e TVI24), com o fim da época de festividades, o Presidente Bruno de Carvalho acabou a fazer as pazes com o treinador Marco Silva, tendo os dois apertado as mãos e garantindo a paz. Pelo menos, para já. É possível que tenha algo a ver com a impossibilidade de o Presidente do Sporting CP despedir o treinador Marco Silva sem lhe pagar uma choruda indemnização. O que é certo é que, no final, ficou José Eduardo a falar sozinho para quem já não o queria ouvir. Tende a parecer que José Eduardo foi um joguete descartado quando deixou de ser útil. Mas a quem serviu todo este fait-divers?
As Vitórias das Equipas Habituais
Então, depois das guerras de comadres no seio da vida sportinguista, voltaram as notícias desportivas.
Primeira foi a venda de Enzo Pérez para o Valencia CF que, logo na sua estreia contribuiu para a vitória do seu novel clube sobre o todo poderoso Real Madrid de Cristiano Ronaldo, por 2 a 1. A saída de Enzo só veio agravar o meio-campo benfiquista que também está sem Salvio, Fejsa e Rúben Amorim, lesionados, e Samaris, castigado. Não obstante, a equipa da Luz conseguiu ir a Penafiel ganhar por 3 a 0, com golos brasileiros de Talisca, Jonas e Jardel, e manter a distância que separa o SL Benfica das outras equipas que lutam pelos mesmos objectivos. Com um meio-campo totalmente novo, com Bryan Cristante, Talisca e Ola John, o SL Benfica fez um jogo soporífero, mas suficiente para garantir a vitória num terreno onde também não encontrou grandes problemas. O Penafiel foi uma equipa tenrinha, incapaz de fazer frente a uma equipa triste, mas com o olhar focado sobre a baliza adversária, e com o pensamento na vitória. Principalmente depois de ver os seus mais directos adversários também ganharem os seus jogos e aproximarem-se, perigosamente, na tabela classificativa.

5 a 1, foi a vitória do FC Porto em Barcelos, garantindo a perseguição ao SL Benfica, e enterrando ainda mais o Gil Vicente na cauda da tabela
Tudo começou na Sábado passado, terceiro dia de um ano novinho a estrear, quando o Sporting CP, com paz restaurada, recebeu o Estoril-Praia, em Alvalade, e o derrotou por 3 a 0. Os 3 pontos conquistados catapultaram, por momentos, a equipa para o terceiro lugar da tabela e sanou as feridas caseiras. Pelo menos para já.
Logo depois entrou em campo o FC Porto que, como lhe competia, foi a Barcelos derrotar o Gil Vicente por uns concludentes 5 a 1 e com um grande golo de Casemiro e colocando a pressão sobre a equipa benfiquista que só iria jogar no dia seguinte. O SL Benfica aguentou a pressão. Já o Gil Vicente viu agravar-se a sua situação de permanente lanterna vermelha que vê as costas dos seus adversários cada vez mais distantes na tabela. O Gil Vicente é o último da classificação, e já está a 5 pontos do penúltimo, o Penafiel que também não conseguiu fazer tropeçar o SL Benfica.
Também o Vitória Guimarães, o quarto grande desta época, recebeu e derrotou, por 4 a 0, os madeirenses do Nacional, acabando por mandar o Sporting CP de volta para a quarta posição.
Destas equipas da frente, só o SC Braga, que eliminou o SL Benfica da Taça de Portugal em pleno Estádio da Luz, é que perdeu, por 2 a 1, curiosamente, contra a outra equipa madeirense da Primeira Liga, o Marítimo.
De resto, o Rio Ave comprova a sua boa época, indo ganhar, por 2 a 1, ao surpreendente Paços de Ferreira de Paulo Fonseca, enquanto que o Boavista e o Vitória Setúbal averbaram a sua quarta vitória em casa, o primeiro por 3 a 1 perante o Arouca, e o segundo por 2 a 1 perante o Moreirense.
Na Sexta-feira, a jornada foi inaugurada com o empate a zero entre o Belenenses e a Académica que partilha a penúltima posição da tabela com o Penafiel.
E como não há fome que não dê em fartura, depois da pausa natalícia, e antes que mais jogadores sejam vendidos nesta janela de oportunidades que encerra em finais de Janeiro, antes da próxima jornada que se vai executar no fim-de-semana, haverá, ainda, lugar para a Taça de Portugal, para quem andar ainda por lá.
Boas Apostas!