Era para ser uma noite de festa. E foi. Mas foi só para alguns.
A selecção portuguesa defrontava a selecção de Cabo Verde, num jogo amigável que servia, também, de solidariedade para com as vítimas do vulcão que vitimou muita gente na Ilha do Fogo.
O encontro foi no Estádio António Coimbra da Mota, no Estoril. E a história continuou o seu rumo.
No primeiro confronto entre as duas selecções, em 2006, Portugal venceu por 4 a 1. Depois, no segundo confronto, em 2010, Portugal e Cabo Verde empataram a zero. Ontem, no terceiro encontro, Portugal perdeu, por 2 a 0. E Cabo Verde venceu bem. E Portugal perdeu, também, bem.
Obrigado a um segundo onze por impossibilidade de utilização dos jogadores utilizados contra a Selecção da Sérvia no jogo de qualificação para o Campeonato a Europa de França, em 2016, por decorrerem menos de 72 horas entre os dois jogos, Fernando Santos optou por escolher um onze jovem, muito novo, com algumas primeiras vezes, declarando o caminho do futuro da Selecção e, o mínimo que se pode dizer, é que o projecto foi por água-abaixo. A Selecção de Portugal não esteve à altura do jogo.
Se há, neste onze composto por 16 jogadores, tantos quantos os que jogaram ontem, alguns jogadores que mostraram poder vir a ser jogadores da selecção, outros houve que redundaram em equívoco total. E dali não devem passar.
Certo que o jogo era amigável. Certo que os jogadores estão a proteger-se para as suas equipas prestes a iniciar uma altura bem difícil dos seus campeonatos. Mas o grosso da selecção cabo-verdiana também. E foram a jogo. E mostraram querer. E ganharam.
Por onde andou o futuro da selecção portuguesa?
Uma Equipa Fraquinha
Uma primeira observação, deixava antever uma boa equipa para a recepção à equipa cabo-verdiana, e deixar esperança numa vitória da equipa de Portugal. Afinal, a 7ª Melhor Equipa do Mundo, recebia, em sua casa, a 38ª. O que é que podia correr mal?

Num jogo de solidariedade, a selecção portuguesa foi tão solidária que escancarou as portas para a vitória dos cabo-verdianos
Na baliza aparecia, finalmente, Anthony Lopes, o guarda-redes português do Lyon. Nas laterais, Cédric Soares e Antunes. A central, Paulo Oliveira e André Pinto. No meio-campo, André Gomes, Adrien Silva e João Mário. O extremo era Vieirinha. O ponta-de-lança, e o miscasting nesta equipa, até pela idade, Hugo Almeida. Para o auxiliar, Bernardo Silva como avançado.
Não sendo uma grande equipa, parecia uma equipa razoavelmente equilibrada para levar de vencida a selecção cabo-verdiana e projectar alguns dos futuros seleccionados portugueses que poderão estar no Europeu de França do próximo ano.
Anthony Lopes, habitual suplente de Rui Patrício, mas que é o titular do Olympique Lyonnais, já merecia esta oportunidade. Mas as coisas não lhe correram bem. Em ambos os golos poderia/deveria ter feito muito mais. Não fica bem na fotografia. E não será para breve que poderá roubar o lugar ao guarda-redes do Sporting CP.
Cédric Soares, o lateral direito, até deixou boas notas, e mostrou que é aposta segura para ultrapassar José Bosingwa na maratona até França. Já Antunes, tal como Eliseu na noite anterior, mostraram que não são alternativa a Fábio Coentrão quando está em forma, e quando não está, não há, aparentemente, soluções para o lado esquerdo da defesa.
No eixo da defesa, Paulo Oliveira garantiu que podem contar com ele para outros voos, numa altura em que a média de idades dos centrais portugueses da Selecção A é bastante elevada. Já André Pinto, deu expressão à Lei de Murphy: tudo o que podia correr mal, correu. Não que tivesse sido directamente responsável por algum dos golos de Cabo Verde, mas não foi senhor do seu território e cometeu alguns, graves, erros.

O meio-campo português foi muito frágil perante o meio-campo galopante de Cabo Verde
No trio do meio-campo parece estar uma parte da selecção no futuro (embora seja de contar com William Carvalho), como André Gomes, Adrien Silva e João Mário. Mas ontem, mesmo deixando boas notas, mostraram-se demasiado frágeis, demasiado discretos, demasiado moles para o centro nevrálgico de uma equipa. O que deveria ser a primeira linha de defesa e a primeira linha de ataque, dona e senhora do campo em toda a sua extensão, deu-se a conhecer com pouca ou nenhuma garra, mesmo se, a espaços, se notasse qualidade e segurança. A verdade é que Cabo Verde foi muito mais forte e agressivo, e as peças portuguesas permitiram-no.
O único extremo da equipa, Vieirinha, foi uma das poucas peças que realmente marcaram a sua presença com a garantia de futuro na Selecção Nacional. Aliás, em dia sim, Vieirinha é bem capaz de relegar Nani para o banco, se os nomes não garantissem titularidade. Uma prestação muito positiva do português do Wolfsburg.
Bruno Silva, a grande surpresa do AS Mónaco que o SL Benfica deixou partir, foi também a grande surpresa da noite em grande correria a caminho da Selecção A. Bernardo Silva quer ser titular. Bernardo Silva quer ir ao Europeu. Bernardo Silva é um miúdo com talento e futuro. Bernardo Silva foi dos poucos que foi a jogo. Mas esteve quase sempre sozinho.
O ponta-de-lança, e porque é, e sempre foi, o grande problema de Portugal, não havendo, ou havendo à míngua, acabou por ser Hugo Almeida. Hugo Almeida, uma espécia de paizinho de todos estes miúdos que, bem ou mal (mais mal que bem, afinal), entraram em jogo, não conseguiu ser melhor que eles e servir-lhes de referência. Nunca foi concensual a sua vida na Selecção Nacional (um pouco, aliás, como o seu colega de posição, Hélder Postiga). E então, ontem, passou completamente ao lado do jogo, só se dando pela sua presença à medida que ia falhando as intervenções e os remates. Definitivamente, a vida de Selecção para Hugo Almeida já deixou de fazer sentido há muito tempo.
Alterações que Pouco ou Nada Alteraram
Mas para além do onze escalonado para início de confronto com a Selecção de Cabo Verde, e como era jogo amigável e de solidariedade, que até contou com Fernando Santos no banco (o castigo não se aplica aos jogos particulares), ainda tiveram oportunidade de jogar Ukra, Danilo, Éder, André André, Pizzi e André Almeida.
Ukra entrou e mexeu um pouco com o ataque nacional, conseguindo puxar pela Selecção e levá-la a proximar-se, mais perigosa, da área cabo-verdiana.

Hugo Almeida foi um erro de casting, mas Éder, que entrou para o substituir, também não fez melhor
Danilo, que saiu a tempo do Parma FC, e de quem se fala do interesse de SL Benfica, FC Porto e Sporting CP, entrou para ir ocupar o lugar deixado vago por André Pinto expulso. Ao lado de Paulo Oliveira, Danilo acabou por conseguir formar uma boa dupla e fechar bem a defesa portuguesa. Numa altura em que a selecção portuguesa já perdia por 2 a 0 e tinha um jogador a menos, Danilo foi um homem providencial e confirmou o seu potencial.
Éder entrou para o lugar de Hugo Almeida e tudo ficou na mesmo. Desde a lesão que Éder parece já não ser capaz do que tanto prometera. Dele também se falara que iria para o SL Benfica ou FC Porto. Mas pelo que se tem visto, as coisas não estão muito famosas. Nem na Selecção nem em Braga. E entre Éder e Hugo Almeida, que venha o Diabo e escolha.
André André está a passar por um grande momento de forma e, agora que vai para p FC Porto, é provável que ganhe um lugar no onze português (quer queiramos ou não, ainda continua a se preponderante o clube por quem se joga. André André no Vitória de Guimarães não tem lugar na Selecção Nacional, mas o André André no FC Porto, tem). De todas as formas, quando entrou, André André mostrou que foi um dos melhores portugueses em campo na noite de ontem.
Com Pizzi assiste-se ao mesmo que com André André. Desde que chegou ao SL Benfica, e desde que Jorge Jesus o colocou a jogar na posição de Enzo Pérez, que Pizzi tem rendido bastante e tem sido chamado com alguma regularidade à Selecção. Ainda não é um jogador imprescindível na selecção portuguesa, mas pode vir a ser um jogador a ser chamado com bastante regularidade e a ganhar um lugar no onze. Ontem esteve acima da mediania geral.
André Almeida entrou já bastante perto do final, sem tempo para mostrar o que quer que fosse. Mas André Almeida é aquilo que se sabe dele. Não é um titular indiscutível, mas é uma boa segunda escolha, e tem essa facilidade de poder jogar em inúmeros sítios no campo. Só lhe falta ir à baliza e a ponta-de-lança, mas com Hugo Almeida e Éder, não deve ser complicado ganhar o lugar.
A Obrigação
O jogo de ontem, entre a Selecção de Portugal e a Selecção de Cabo Verde era um jogo particular, amigável e de solidariedade.

O que seria o futuro da Selecção de Portugal não foi capaz de parar o ímpeto de Cabo Verde e acabou por perder por 2 a 0
A equipa portuguesa levou longe demais a deia de solidariedade entre os povos. A ideia era ajudar a angariar fundos para as gentes da Ilha do Fogo, fustigada pela erupção de um vulcão. Não era preciso estender um tapete vermelho até à baliza de Anthony Lopes. Mas foi o que aconteceu.
Claro que era um equipa completamente nova, por impossibilidade de jogarem os jogadores utilizados no encontro contra a Selecção da Sérvia. Mas se se pensar que a Selecção A que se apresentou no Domingo tem uma média de idades superior a 30 anos, é de supor que do grupo de ontem hão-de sair alguns jogadores para a Selecção principal. O problema que já se antecipa é quais?
Houve alguns jogadores que até estiveram acima da média, mesmo que a média de ontem seja muito baixa, para não dizer negativa.
Vieirinha e Bernardo Silva foram os únicos jogadores que mostraram querer fazer parte da Selecção Nacional. Jogaram o que foi possível com os companheiros que tinham. Jogaram o que conseguiram com o que a Selecção de Cabo Verde deixou jogar.
É que, para que conste, a selecção portuguesa não jogou sozinha. Cabo Verde teve muito mérito no jogo que fez, no esquema que Rui Águas montou para o embate com Portugal.
Mas Portugal tem a obrigação de fazer mais. Muito mais. Para já, o futuro parece estar em banho-maria.
Boas Apostas!