Aos vinte anos, Rodgers abandonou a ideia de uma carreira profissional, devido a um problema congénito no joelho, mas nunca o futebol. Continuou a jogar e treinar em equipas amadoras locais. Passou uma larga temporada a percorrer Espanha, a aprender e experimentar diferentes métodos de treino. Durante a sua primeira passagem pelo Chelsea, Mourinho convidou-o a juntar-se ao staff, primeiro assumindo as camadas jovens e mais tarde a equipa de reservas dos Blues. Saiu de Stamford Bridge em 2008 para tentar a sua sorte no Watford e um ano mais tarde não resistiu ao desafio do seu clube de juventude, o Reading, que lhe propôs o lugar de treinador principal. O casamento durou apenas seis meses mas a separação foi por mútuo acordo e em termos amigáveis. Segue-se o Swansea City, e é aqui que a carreira fulgurante começa a tomar forma. Com ele, os Swans conseguem a promoção à primeira divisão inglesa, a primeira vez que clube de Gales consegue tal feito. No primeiro ano de Liga Inglesa conquistam o décimo primeiro lugar, uma classificação notável para a época de estreia e que valeu ao técnico a cadeira que agora ocupa.

Um revolução mais ou menos tranquila

Brendan Rodgers Swansea

Paixão no País de Gales

Em Junho de 2012, Brendam Rodgers é apresentado como treinador do Liverpool, sucedendo a Kenny Dalglish. Na primeira temporada ao comando dos Reds terminou o campeonato em sétimo, um acima do ano anterior mas ainda fora dos lugares de acesso à Liga dos Campeões. Sob a batuta deste Irlandês do Norte, o Liverpool começou por ser predominantemente uma equipa de posse, seguindo o modelo do Barcelona. Mas rapidamente percebeu que era preferível adaptar o sistema aos jogadores em vez de os tentar encaixar à força num esquema que não lhes convinha. Justiça lhe seja feita, neste processo de descoberta Rodgers encontrou uma das suas assinaturas: a diversidade tática. O Liverpool não quer a posse pela posse, ter a bola é só o caminho mais curto para chegar à baliza adversária. Nick Truss, comentador do Football Ramble e adepto assumido dos Reds resume o papel de Rodgers no novo Liverpool. “Revolucionou a forma como jogamos futebol. Sob a orientação de Hodgson e Dalglish éramos muito defensivos, marcávamos poucos golos. Ele entrou e de um momento para o outro é entusiasmante ver o Liverpool jogar. Marcámos 90 golos esta época, o que é incrível. Ele livrou-se de jogadores que eram bons mas tinham salários muito altos, e que não rendiam o suficiente – como Andy Carroll, Joe Cole ou Charlie Adam. Reduziu despesas e contratou jogadores como Coutinho e Mignolet. Hoje somos uma equipa muito melhor, mais equilibrada, tanto do ponto de vista desportivo como financeiro. Acho que é também um grupo muito unido.”

Requisitos da função – Treinador / Gestor de Recursos Humanos

Rodgers insiste muito em ter os jogadores com o perfil certo, daí ter sido tão importante a limpeza de balneário no verão passado. “Todos querem estrelas mas é mais importante conseguir os jogadores que estão desejosos de ser tornarem craques. É o que temos no Liverpool neste momento, jogadores ambiciosos, cheios de vontade de vencer.” A tradução prática deste conceito está aos olhos de todos. Conseguir comunicar, orientar e controlar o génio de Luiz Suárez não é para qualquer um. Mas transformá-lo num jogador que trabalha incansavelmente para a equipa, e que ainda dá uma perninha como mentor dos novos talentos, é absolutamente fabuloso. Brendan Rodgers rejuvenesceu Steven Gerrard, dando-lhe um novo papel e reforçando a sua importância no plantel. Inversamente, ajudou elementos como Daniel Sturridge e Jordan Henderson a concretizar o seu potencial. E o que dizer de Raheem Sterling, da maturidade que atingiu em meia dúzia de meses a trabalhar com Rodgers? Ao fim da primeira temporada em Anfield, Henderson estava perto de ser tornar um flop, não faltava quem chorasse as 20 mil libras que custou. Afinal Dalglish tinha-o a jogar na posição errada, mais concretamente no lado errado. A disciplina tática, aliada à resistência e capacidades físicas que tinha, faz dele uma peça essencial desta equipa. Sterling, tendo em conta os seus 19 anos. É um caso ainda mais impressionante. O staff dos Reds deu-lhe um conjunto novo de ferramentas, para acrescentar à técnica e velocidade que já tinha. Hoje ele evidencia inteligência e visão de jogo, excelente noção de posicionamento em campo e muita vontade de corresponder ao que lhe é pedido. Seja onde for que o treinador o coloque, na ala ou no centro, mais recuado em bem lá na frente, ele entende o que tem a fazer e executa.

Não há equipa sem senão

Mas esta não é uma equipa perfeita, tem uma fragilidade evidente que muitos identificam com a defesa. Eu prefiro dizer antes que o calcanhar de Aquiles está no momento defensivo, porque inclui o meio campo e não apenas os defesas. Começando por trás, e em sua defesa, as diversas lesões obrigaram Brendan Rodgers a costurar diversos alinhamentos defensivos. Ainda não há muito tempo o Liverpool teve que se aguentar sem três dos seus titulares: Glenn Johnson, Mamadou Sakho e Daniel Agger. Isto sem falar do ausente José Enrique, que está de fora deste Novembro. As rotinas são essenciais para a segurança defensiva e estas alterações causaram momentos de grande insegurança. Mas não podemos esquecer a importância de Lucas Leiva nesta equação. O brasileiro é o quinto elemento desta defesa e quando ele faltou a coisa assumiu proporções preocupantes. Felizmente, na maior parte dos jogos os Reds foram capazes de marcar mais um do que os que sofreu.

Versatilidade tática

Liverpool v Manchester United - Premier League

Brendan agradece

As cinco partidas de Março prometiam ser decisivos para as aspirações dos Reds. Não podiam ter corrido melhor já que a seis jogos do fim da temporada os homens de Brendan Rodgers chegaram ao topo da Liga Inglesa. E as prestações do último mês são uma boa amostra da versatilidade tática que o técnico irlandês promove. No jogo com o Southampton o Liverpool provou ser capaz de contrariar uma equipa com um estilo de jogo semelhante ao seu, que privilegia a posse de bola e pressão alta. Já em Old Trafford foi uma formação oportunista, à espera da ocasião certa para explorar as conhecidas fragilidades do adversário. As vitórias seguintes foram exemplos da capacidade da equipa para superar as adversidades, diante de dois dos candidatos mais prováveis à despromoção. Frente ao Cardiff, Suárez e companheiros estiveram a perder por duas vezes, coisa que os teria desestabilizado completamente no início da época, e conseguiram dar a volta em grande estilo. O Sunderland representou um tipo diferente de teste: vencer a ansiedade. Quando todos esperavam que à meia hora de jogo os Reds já vencessem por dois ou três, continuando o festival de golos a que habituou os adeptos, nada. Mas o Liverpool não perdeu a cabeça, continuou com o seu jogo, o golo havia de chegar. E aconteceu. Aliás, nos últimos três o grupo provou que está cada vez menos dependente da parceria SSS (Suárez, Sturridge, Sterling) para ganhar jogos. Outros se chegaram à frente – Gerrard, Henderson, Philippe Coutinho ou mesmo Younès Kaboul.

No início da temporada Brendan Rodgers assumiu como objetivo o ataque aos quatro lugares do topo da Liga Inglesa. Dizia ele que era tempo do Liverpool voltar ao seu lugar na Liga dos Campeões, competição de que está arredado desde a época de 2010/11. Isso está garantido mas tudo indica que os adeptos terão bastante mais para festejar do que esse regresso aos palcos europeus. Ainda esta semana o técnico aliviava a pressão dos seus jogadores dizendo que não tivessem medo de arriscar nestes jogos que faltam. “Se a conquista do título falhar, culpem-me a mim”, dizia, apelando também às bancadas para manifestarem o seu apoio aos jogadores mesmo, ou sobretudo, quando fizerem asneira. Confiança para voltar a tentar, é assim que sonhos longínquos se tornam aspirações ao alcance da mão.

Boas Apostas!