Continua a saga da Liga dos Campeões por um lugar ao sol na liga milionária.
Depois do apuramento fácil do FC Porto e difícil do Real Madrid na véspera, ontem foi noite de exponenciar esses valores. Ontem foi noite de Céu e de Inferno.
Se o apuramento do FC Porto foi fácil, que dizer do apuramento do Bayern Munique que goleou o Shakhtar Donetsk por 7 a 0?
E se o Real Madrid foi apurado in extremis, com muitas dificuldades e com uma derrota em casa, que dizer do apuramento do PSG em Londres, com menos um jogador, e depois de ter estado a perder por duas vezes?
Jogos de exaustão, um e outro. O primeiro porque a equipa perdedora queria que o jogo acabasse o mais depressa possível para acabar com o sofrimento. O segundo porque a equipa que perdeu lutou até ao fim e deu tudo o que tinha e não tinha por um resultado que, afinal, não conseguiu atingir.
Foram, acima de tudo e primeiro que tudo, dois excelentes jogos de futebol.
A Autobahn de Munique
Resultados deste já não existem. Ou não existiam. Na Terça-feira passada, muito se disse da vitória por 4 a 0 do FC Porto sobre o FC Basel. Que era um resultado que já não existia muito no Mundo do futebol, muito menos a este nível de competição, entre equipas superlativas, onde o apuramento se faz por afunilamento, onde só os melhores chegam lá.
Que dizer então do resultado de ontem?

Uma autoestrada de um só sentido, foi o que ligou Munique a Dontetsk
O Bayern Munique cilindrou por completo a equipa ucraniana. 7 a 0 é, definitivamente, um resultado que já não se usa, nem mesmo em jogos da Taça quando o acaso manda uma equipa da Primeira Liga defrontar uma equipa amadora de um escalão secundário. 7 a 0 é um quase massacre e a equipa alemã está a banalizar o massacre. Ainda na fase de Grupos da Liga dos Campeões desta temporada, esta mesma equipa de Pep Guardiola foi a Roma vencer a AS por 7 a 1.
Claro que há sempre um condicionador que pode justificar o desaire.
Aos 3′ de jogo, o central do Shakhtar, Kucher, foi expulso do jogo. Terá sido, por ventura, o cartão vermelho mais rápido da história da Liga dos Campeões. Esta expulsão veio condicionar a equipa visitante.
Kucher foi castigado com o cartão vermelho por falta sobre o médio alemão, Gotze, dentro da área. Grande penalidade marcada por Thomas Müller que inaugurou o marcador. Estava feito o 1 a 0. Mas até ao intervalo, os alemães não lograriam mais que o 2 a 0, golo marcado pelo central Boateng à passagem da meia-hora de jogo.
Foi depois do intervalo que chegou o descalabro e que a equipa de Mircea Lucescu acabou por sucumbir á força dos alemães. Até parecia que estavam no Brasil, em pleno campeonato do Mundo, tal a fúria avassaladora de uns e a incapacidade de defesa de outros.
No reatamento, foi Ribéry a recomeçar a marcha do marcador, ao fazer o 3 a 0. 2′ depois, Thomas Müller volta a marcar e a fazer o 4 a 0, mas desta vez não foi de grande penalidade. Menos de 10′ depois foi a vez de Badstuber fazer o gosto ao pé e, até ao fim, ainda houve tempo para os golos de Lewandowski e Gotze. Aberta a autoestrada para a baliza ucraniana, foi um “vê se te avias” de golos, para todos os gostos e feitios.
De salientar que mesmo com o controle total do jogo, e com o Shakhtar Donetsk completamente manietado, com menos um jogador, incapaz de sacudir a bola do seu sector, o Bayern Munique nunca baixou a pressão sobre o adversário, procurando, até ao fim, mais um golo. Foram 7, poderiam ter sido muitos mais.
Mesmo condicionado e humilhado, do Shakhtar pode dizer-se que conseguiram, mesmo assim, evitar uma derrota ainda maior. O que não é pouco.
Entre o Céu e o Inferno
Enquanto em Munique a autoestrada alemã estava escancaradamente aberta para a baliza ucraniana, em Londres, o Chelsea e o PSG jogavam à cabra-cega. Ora agora és tu, ora agora sou eu. Tudo muito chochinho, até ao momento da aflição.
Ao Chelsea de José Mourinho bastava o empate sem golos para seguir em frente. E esse foi o problema de Mourinho. Mais que tentar ganhar o jogo, tentou que o PSG não marcasse golo.
E foi assim que foi jogado este Chelsea – PSG. Mal.

Foram os dois centrais brasileiros do PSG, David Luiz e Thiago Silva, os heróis do jogo ao marcarem os 2 golos da equipa de Paris
À meia-hora de jogo, Zlatan Ibrahimovic, a grande estrela do PSG recebeu o cartão vermelho e a consequente expulsão de jogo. O Chelsea estava à frente na eliminatória, a jogar em casa e com mais um jogador. Tudo se encaminhava para um pacífico passeio por Stamford Bridge. O Céu era já ali e não valia a pena esgravatar por um resultado que já se considerava ganho.
A arrogância tem destas coisas. E José Mourinho, provavelmente o Melhor Treinador do Mundo, por vezes também sofre de soberba.
Tudo estava a ir bem. E, aos 81′, Cahill inaugurou o marcador, colocando o Chelsea a ganhar por 1 a 0.
5′ depois, num cruzamento mal calculado, perdeu-se a calma estrada do Céu e viu-se, a equipa do Chelsea, numa correria louca a caminho do Inferno. O defesa central brasileiro que saiu de Londres para ir para Paris, no Verão passado, e que sobreviveu ao massacre brasileiro no Mundial de 2014, David Luís, que também passou pelo SL Benfica, marcou o golo do empate e obrigou ao prolongamento.
O Chelsea, que tinha passado quase todo o jogo a aguentar o zero que lhe garantia a eliminatória, marcou um golo que lhe dava mais garantias e, no fim, quando tudo parecia bem encaminhado, o balde de água-fria a pouco mais de 5′ do fim do jogo. E é preciso dizer que havia uma hora de jogo que este PSG jogava com menos um jogador, e que esse jogador não era um jogador qualquer, mas Ibrahimovic que, sozinho, pode valer por uma equipa (passe o exagero).
Seguiu-se então o prolongamento. Com tudo empatado, quem marcasse golo arriscava-se a seguir para a elite dos quartos-de-final.
Thiago Silva, central do PSG, fez falta dentro da área (tocou a bola com a mão) e foi marcada grande penalidade. Eden Hazard converteu a grande penalidade em golo. O Chelsea estava de novo na frente. Mas ainda faltava 25′ para o final. E não poderia haver desconcentrações.
Novamente, Thiago Silva, o outro central do PSG, que tinha provocado a grande penalidade que colocou o Chelsea em vantagem, responde a um canto com um potente e colocado remate que bateu Courtois, repôs o empate no jogo e passou a qualificar o PSG.
Nos poucos minutos que faltavam jogar, o Chelsea já não teve capacidade para voltar para a frente do marcador.
No final do encontro José Mourinho afirmaria: “Não soubemos lidar com a pressão.” E foi na verdade o que aconteceu. Na época passada o Chelsea afastou o PSG depois de ter perdido por 3 a 1 em Paris.
O PSG, com todas as dificuldades que enfrentou, acabou por encontrar o caminho da qualificação, mesmo sem o seu jogador-estrela, Zlatan Ibrahimovic, e jogando com menos um jogador, em casa do adversário. Os seus golos foram marcados pelso defesas centrais. Difícil a entrada no Céu. Mas possível.
Boas Apostas!