Começando, como tudo começa, pelo início, a história tende, ao chegar ao dia de hoje, a ganhar outro rumo.
No fundo, é tudo uma história de tendências, e elas tendem a inverter-se. Ou pelo menos, a modificarem-se. Mesmo que na prática nada se tenha alterado. O resultado é que pode ser outro. Por causa de diferentes factores.
Isto a propósito do derby do próximo fim-de-semana. Tão cedo e já tão importante. À terceira jornada, SL Benfica recebe o seu arqui-rival do outro lado da Segunda Circular, o Sporting CP. Estaremos a 31 de Agosto, portanto, oficialmente, ainda de férias. No entanto, a importância do jogo, não para a classificação, ainda no início e ainda sem expressão, mas para a alma dos adeptos, benfiquistas e sportinguistas, é enorme. Porque uns querem inverter o mau início de época, porque outros querem continuar com o bom início de época, porque todos querem ganhar e alguns querem que o outro perca. E porque uma vitória contra o rival vale muito mais que os 3 pontos em disputa.
O SL Benfica desfez-se de uma equipa campeã e tarda em refazê-la. A uma semana do encerramento da época de transferências, Jorge Jesus ainda espera pelo avançado (fala-se em negociações avançadas pelo uruguaio do Palermo, Abel Hernández) e, caso se venda Enzo Pérez, um médio que o substitua. O que não se afigurará simples.
O Sporting CP trocou de treinador, manteve o grosso da equipa da época passada, e reforçou-se cirurgicamente. Acabou por perder o defesa central, vice-campeão do Mundo, o argentino Marcos Rojo, depois de um braço de ferro entre jogador e clube (algo que está a acontecer muito no Sporting), e que acabou por ser vendido ao Manchester United, de onde veio, afinal, a antiga jóia sportinguista, Nani, sem espaço na equipa de Van Gaal, emprestado e com salário integralmente pago pelo clube inglês e a esperança de recuperar o prestigio e o futebol que o caracterizava e lhe deu futuro.
Uma Equipa Nova
Foi terrível e depressiva a pré-época benfiquista. Jogadores campeões que partiram, alguns deles por meros tostões, e carradas de jogadores, mais ou menos desconhecidos, que arribaram à Luz. Jogadas as primeiras partidas, ainda em pleno estio, perceberam, os benfiquistas, que estavam sem equipa. As contratações estavam longe do que se pretendia para uma equipa que pretende luar pela revalidação do título e pareciam não se encaixar. Mesmo tendo em conta a fase de adaptação, eram demasiados jogadores novos em demasiadas novas aprendizagens para se ter em conta tempos para adaptação. Este Benfica ganhou dois jogos na pré-época. Perdeu a Eusebio’s Cup. Jesus gritava por três reforços: guarda-redes, médio e avançado. E percebia-se.
Começou a Primeira Liga. Dois jogos e duas vitórias. Em casa, 2 a 0 frente ao Paços de Ferreira, e no Bessa, 1 a 0 frente ao Boavista em relvado sintético, mas aprovado pela FIFA. Dos reforços pedidos, chegou Júlio César, guarda-redes titular da selecção brasileira no último Mundial, quase 35 anos de idade (e tendo ficado pelo caminho, depois de uma infindável lista de guarda-redes, Orestis Karnezis, o guarda-redes titular da selecção grega), e Andreas Samaris, médio que, segundo se percebe, é um jogador para actuar mais na zona de Enzo Pérez que na zona de trinco, mas Jesus é especialista em transformar jogadores. Rúben Amorim, que faz, também, entre outras, a posição de trinco, lesionou-se e foi fazer companhia a Fejsa. Neste momento o único jogador que o SL Benfica tem para a posição é o adaptável André Almeida, que no Bessa substituiu Amorim. No ataque, estão a ultimar-se as negociações por Abel Hernández, o atacante uruguaio do Palermo, mas como este ano o SL Benfica já teve vários negócios quase finalizados que não se concretizaram, o melhor é esperar para ver. E, depois, é preciso esperar para ver, também, se Enzo Pérez continua, ou não, na Luz. Jorge Jesus já avisou que se Enzo sair, precisará de alguém para colmatar a saída (que até poderá ser Samaris, mas nesse caso continuaria, ainda, a precisar de um trinco).

Jorge Jesus quer continuar invicto em casa
E como é que Jorge Jesus tem tentado inverter este estado de coisas tão negativo? Recorrendo ao banco do ano passado. Artur voltou à baliza e tem sido a salvação da equipa. Foi-o na Supertaça contra o Rio Ave e voltou a sê-lo contra o Paços de Ferreira. Jardel passou a companheiro de Luisão. Numa altura em que se esperava que Lisandro López, possível substituto de Ezequiel Garay na selecção argentina, que esteve um ano emprestado e a jogar com regularidade e com bons resultados, entrasse de pedra e cal na defesa benfiquista, afinal não sai do banco e fala-se, insistentemente, num empréstimo aos italianos da Sampdoria. Também Franco Jara, com bons resultados em todo o lado, menos às mãos de Jorge Jesus, tem sido uma aposta do treinador neste início de temporada, a insistir, embora o jogador não tenha captado bem as oportunidades, o mesmo que se passa com Ola John, também de regresso, também a ser insistido, mas também a não conseguir reagir como esperado.
Daquele Benfica vencedor da época passada, restam Maxi, Luisão, Sálvio, Gaitán e Lima. Agora chegou, também, para esta equipa de vencedores, Eliseu, antiga paixão de Jorge Jesus, que ontem ganhou os três pontos para o Benfica. É claro que também lá estão Rúben Amorim (agora lesionado) e André Almeida. Boas segundas linhas. E que têm ajudado, e muito, a que este Benfica de início de época não se afunde prematuramente como já se estava prever. E a tentar levar o Benfica de vitória em vitória (mesmo com jogos fraquinhos, como foi o de ontem) até conseguir montar a equipa que Jorge Jesus gostará de ter – provavelmente com Júlio César, com Samaris, com Enzo e um novo avançado a fazer companhia a Lima. Numa nova construção de um equipa que se quer campeã.
Mas o tempo começa a escassear. No próximo Domingo o jogo é contra o Sporting CP. E isso é mais que um jogo de futebol. Que ninguém quererá perder. Muito menos os benfiquistas, em casa. E com os sportinguistas, sempre a lembrar os 7 a 1 de 1986.
Um Treinador Novo
O Sporting CP está em fase de reconstrução. Começou-a com a chegada de Bruno de Carvalho à Presidência do clube. Primeiro com a colaboração de Leonardo Jardim, com um excelente trabalho que o levou até ao novel rico Monaco. Agora com a colaboração de Marco Silva.
Marco Silva veio de três excelentes épocas no Estoril Praia (que, parece, se ressentiu da falta do seu antigo treinador, já que foi derrotado em casa, este fim-de-semana, pelo Rio Ave, por 5 a 1), chegou ao Sporting numa altura em que as exigências já começam a pedir a candidatura ao título, coisa que não se exigia, no ano passado, a Leonardo Jardim. É verdade que a equipa se manteve, mais ou menos a mesma, com alguma, poucas, alterações. Saiu Marco Rojo, depois de um braço-de-ferro com o clube, e Eric Dier. Mas também se reforçou bem. Pelo menos, teoricamente.

Marco Silva gostaria de dar uma grande alegria aos sportinguistas
Mas ao contrário da época de Leonardo Jardim, o Sporting CP de Marco Silva tem pela frente a Liga dos Campeões (o Sporting CP de Leonardo Jardim esteve afastado das competições europeias) e a obrigação de, internamente, ir o mais longe possível, ou seja, tem, finalmente de se assumir como candidato ao título. Poderá ser demasiado para um novo treinador que ainda tem pouco currículo, mas conta com uma equipa que se mantém, quase na íntegra, a mesma do brilharete do ano passado.
Na pré-época, o Sporting CP conseguiu muitos bons resultados, levando a que a massa associativa já embandeirasse em arco a caminho do título, mesmo que se falasse, apenas, de jogos de preparação. Além do mais, o Sporting contava, na sua constituição, com um vice-campeão do Mundo, Marco Rojo, e uma das surpresas da equipa sensação do Mundial, Slimani, tal como Rojo, em aberto braço-de-ferro com a direcção do clube – as últimas notícias dão conta que o jogador voltou atrás nas suas pretensões e já estará a treinar às ordens de Marco Silva. Mas os últimos jogos começaram a refrear os ânimos. E a recolocar tudo nos seus devidos lugares.
Acabou por tropeçar no início da Liga, ao consentir o empate no terreno da Académica de Coimbra. E já este fim-de-semana, foi com muita dificuldade que conseguiu levar de vencida o Arouca, passando para a frente do marcador, apenas, no tempo de desconto. Parece, assim, que este Sporting ainda está preso por arames e ainda não assimilou a linha de jogo que o seu treinador pretende.
Porém, tudo tem de estar a funcionar em pleno no próximo Domingo, dia 31 de Agosto.
SL Benfica versus Sporting CP
E assim se chega ao derby da terceira jornada da Primeira Liga.
O Benfica está a construir uma nova equipa. O Sporting está a assimilar um novo treinador.
O Benfica joga em casa. O Sporting não. E nos últimos anos, ter-se-ia de recuar à época de 2005/2006, para descobrir uma vitória do Sporting CP no estádio da Luz. E nessa ocasião, o Sporting Venceu por 3 a 1. Antes de isso, só o empate a 1 golo, na época de 2007/2008. E claro, não se contabilizando a derrota benfiquista, já esta época, muito lá no início da época, onde as equipas já não são, mas também ainda não o são, quando o Sporting foi ganhar por 1 a 0 para a Taça de Honra da Associação de Futebol de Lisboa.
Mas mais que os 3 pontos em disputa, neste jogo joga-se o prestígio e a honra. O Benfica não pode perder em casa. Mas o Sporting gostaria de pontuar em território do adversário. Nada mudará, para o vencedor ou para o vencido, a não ser a vontade, o prazer e a festa de derrotar o rival. Jorge Jesus parece mais preparado que Marco Silva. Mas a equipa deste parece mais consistente que a do Benfica. Mas o do Benfica tem obtido melhores resultados na liga que o Sporting. Ou seja, este jogo entre SL Benfica e Sporting CP é um jogo de tripla. Qualquer resultado será um resultado possível.
Boas Apostas!