Não deve haver no Mundo muitas instituições tão conservadoras e tão profundamente totalitárias quanto a FIFA e, em certa medida, também a UEFA.

A FIFA é conhecida pela imobilidade de conceitos, regras, formas. Primeiro que mude, ou promova a mudança de algum conceito, ou mesmo de alguma regra do jogo de futebol, propriamente dito, podem passar as areias do tempo. A FIFA joga sempre na noção da eternidade, como se ela própria fosse imutável e eterna. Ao mesmo tempo não permite veleidades. As coisas são como são e como a FIFA diz que são e não como se possa pensar que poderiam ser.

O recente caso da UEFA, a quem o Sporting CP fez uma exposição por se ter sentido roubado aquando do seu jogo na Alemanha contra o Schalke 04, resultou em nada, algo que o Sporting CP já estava à espera, mas no entanto, achou por bem marcar uma posição. Mas a UEFA, por intermédio do Comité e Controlo de Ética e Disciplina (bonito nome) não se coibiu, contudo, de chegar a dizer que o protesto apresentado pelo Sporting CP era inadmissível. E era mais que suficiente para fazer calar os leões para não serem eles a sofrer alguma sanção.

Com a FIFA se passa o mesmo. As suas vontades são leis. Mesmo que corruptas. Aliás, basta olhar para a forma como foi escolhido o Catar como país organizador do Campeonato do Mundo de 2022, onde se falou tanto de votos comprados, e que continua como nada se passasse. Ou como os interesses comerciais se sobrepõem às leis do país onde levam os eventos (basta lembrar o que aconteceu este ano, no Brasil, durante o Campeonato do Mundo de 2014).

Agora, algo parecido se passa com o CAF e a organização do CAN-2015. Embora o problema tenha sido levantado por Marrocos.

O CAN-2015

A lebre foi levantada por causa do vírus Ébola que está activo em vários países africanos: Guiné-Conacri, Libéria, Mali, Nigéria, Senegal e Serra Leoa. Com cerca de 13.000 casos até ao momento.

O facto de o vírus ser de fácil propagação, levantou-se o problema de grande concentração de jogadores, e adeptos, africanos, de várias proveniências, num mesmo sítio em África. É perigoso, ou não? Poderá ser um veículo de fácil propagação do vírus, ou não? Não será brincar com o fogo, quando estão em causa, tantas vidas humanas?

Perguntas legítimas.

CAN-2015 Marrocos Logo

Uma imagem desactualizada, que já não existe, CAN-2015 em Marrocos

O país que tinha sido escolhido para organizar o 30º Campeonato Africano das Nações, foi Marrocos. Mas Marrocos já fez saber que irá receber o Mundial de Clubes, que será agora em Dezembro, mas que se recusa a receber o Campeonato Africano das Nações que irá realizar-se entre 17 de Janeiro e 8 de Fevereiro de 2015. Marrocos ainda tentou adiar o CAN para as mesmas datas de 2016, esperando que, nessa altura, a epidemia já estivesse controlada. Contudo, o CAF não foi em cantigas e manteve as datas previstas e já afastou Marrocos da organização e da participação da sua Selecção (a Selecção de futebol do país organizador tem acesso automático à fase final).

Mas essa é uma das informações.

Outra informação, é que Marrocos teria desistido da organização do CAN-2015 para evitar que a Selecção da Argélia, com que os marroquinos têm um diferendo por causa do Saara, pudesse ganhar o Campeonato e levantar a Taça em Marrocos. Também se especula que Marrocos terá querido evitar manifestações independentistas a favor da criação da República Árabe Saaraui Democrática no Saara Ocidental, pela Frente Polisário. A epidemia do Ébola seria, afinal, só uma desculpa para Marrocos descartar aquilo que poderia ser um problema político que não quererá enfrentar.

De todas as formas, deve haver sanções para Marrocos, que poderão ir até à proibição de participação em eventos oficiais das Selecções Marroquinas, e das suas equipas de futebol. No entanto, e alegando questões de segurança (efectivamente, a epidemia do Ébola é bem real), Marrocos poderá sempre fazer uma exposição à FIFA. Não se sabe se se poderá esperar alguma coisa da FIFA, que é, como já se disse no início, muito avessa a alterações. Mas…

O certo é que, com tanto horror que a FIFA, e aqui, em concreto, a CAF, têm das questões políticas que abalam o Mundo, é bem possível que feche os olhos à posição de Marrocos porque a própria CAF não gostaria de estar perante manifestações durante um seu evento.

Por outro lado, a irredutibilidade da adiar o evento, mesmo perante a epidemia de Ébola, leva a pensar que Marrocos poderá não se livrar das sanções pois, os desejos da CAF (como da FIFA, e da UEFA, and so on…) falam mais alto.

E Onde?

Ora, agora que Marrocos desistiu, a pouco mais de um mês do evento, que soluções existem?

Selecção Cabo-Verdiana

A Selecção de Cabo Verde, a primeira a qualificar-se para o CAN-2015, está na expectativa de saber quem irá organizar o campeonato

É um quadro [quase] inédito. Em 2011, e com a queda do regime líbio de Muammar Kaddafi, a organização do CAN-2013, que tinha sido entregue à Líbia, passou para a África do Sul, que acabou por utilizar as infra-estruturas do Campeonato do Mundo de 2010.

Agora as opções estão a passar por ceder a organização a um só país, ou dividir a competição por vários países.

Sabe-se, entretanto, que Argélia, Gabão, Gana e Nigéria já se ofereceram para organizar, neste curto espaço de tempo, o Campeonato Africano das Nações. Sozinhos ou em conjunto. Angola também surgira neste pacote, mas os responsáveis angolanos já vieram dizer que é de todo impossível devido às restrições financeiras a que estão sujeitos com o Orçamento de Estado para 2015. Lá como cá. A CAF está a estudar o caso. Mas há pressa. E a FIFA está a observar como tudo se desenrola.

Entretanto, quem ficou decepcionado com a desistência de Marrocos da organização do CAN, foi Cabo Verde, que foi a primeira Selecção a conseguir o apuramento para o CAN-2015. É que Marrocos era um país próximo da Europa, onde vivem e trabalham muitos cabo-verdianos, além de ser relativamente próximo de Cabo Verde (3 horas de avião), o que era considerado uma mais valia. Agora… Agora só resta esperar.

Boas Apostas!