Balanço da temporada 2014/15 em Inglaterra, ano que marca o regresso de José Mourinho aos títulos, ele que queria ser o “Happy One” e acaba a temporada a ver o seu futebol apelidado de chato. O seu “inimigo” de estimação foi Arsène Wenger, que de crise em crise, lá vai alcançando os seus objetivos, apurando-se, de novo, para a Liga dos Campeões e juntando-lhe uma Taça de Inglaterra.

1.

Mourinho Chelsea

Para Mourinho, o futebol é um jogo de ganhar

Sim, chamem-lhe chato. Mas para aqueles que insistem em ver a temporada da Chelsea a partir das suas exibições da segunda metade da temporada, deverão lembrar-se que antes do final de ano, os Blues foram, de longe, a equipa mais atrativa da Premier League. O que aconteceu depois? Os jogos da Liga dos Campeões, com a eliminação precoce da prova, e a vantagem que aconselhava mais à gestão do que ao risco, condicionaram a forma de atuar do Chelsea. Assim, enquanto na primeira metade da temporada, vimos um Chelsea ofensivo e atraente, na segunda metade vimos uma equipa que fez tudo (ou deixou de fazer parte…) para ser campeão. No final do ano, foi campeã. E ganhou a Taça da Liga. José Mourinho é um homem de títulos. Quando não ganha, parece ter pouco. Mas, na verdade, ganha muitas vezes.

2.
Manuel Pellegrini e o Manchester City foram, inevitavelmente, a desilusão da época. Um segundo lugar cinzento, sem nada mais que oferecer aos seus adeptos, só seria desculpável perante uma excelente carreira europeia. No entanto, também essa ficou aquém das expetativas. Logo, a vida do chileno parece complicar-se em Manchester. Sem conseguir tirar o melhor rendimento de um conjunto de estrelas que, na verdade, talvez comece a precisar de ser revisto e melhorado, Pellegrini fica com o seu campo de ação excessivamente reduzido. Parece ser, aliás, uma espécie de condenação que persegue o treinador. Enquanto que, na vitória, as suas equipas raramente oferecem espetáculos memoráveis, na derrota lembramo-nos sempre porque Pellegrini não entusiasma.

3.

arsene wenger arsenal

Wenger feliz com a Taça

Como analisar Arsène Wenger e o Arsenal? Se formos pelos resultados, não há forma de afastar o francês. Sim, não terá tantos títulos quantos aqueles que os adeptos do Arsenal desejariam, mas a verdade é que a equipa dos Gunners acaba por ser a mais consistente ao longo da última década, sem nunca ter saído dos lugares que dão acesso à Liga dos Campeões. Se formos pelo futebol, o Arsenal parece ser daquelas equipas que raramente desilude. Ozil não esteve ao seu melhor nível, Giroud continua a ser um “marcador de golos” aquém das necessidades da equipa, que até teve em Alexis Sanchez o homem que terminou em melhor forma esta Liga. or outro lado, o plantel continua a ter alguma juventude e muita imaturidade. Por aí parece seguir a argumentação anti-Wenger. O Arsenal está sempre a caminho de um ponto onde parece nunca chegar. Mas aí, infelizmente, o “inimigo” de Mourinho talvez não possa fazer mais. Trabalha com aquilo que lhe oferecem e alcança aquilo que lhe permitem alcançar.

4.
Harry Kane foi a figura do ano dentro de campo. Ficou apenas em segundo lugar na lista de melhores marcadores – Kun Aguero foi o vencedor -, a sua equipa falhou o objetivo de ficar nos quatro primeiros lugares, mas a forma como o jovem inglês se afirmou no panorama da Premier League, estreando-se também na seleção AA inglesa, elevam-no a nova figura do futebol britânico, espaço deixado órfão depois da saída de Gareth Bale para Espanha. Não deve, no entanto, “Citizen” Kane esquecer que esse lugar tem sido bastante consumidor para outros que, como ele, o alcançaram. Wayne Rooney, por exemplo, segue como um incompreendido ou mal-amado grande jogador deste campeonato. Raheem Sterling talvez deixe Liverpool e apesar da forma como conduziu os Reds, poderá sentir que foi tornado essencial cedo demais. Caberá a Kane, nos próximos anos, mostrar um caminho diferente para ser uma estrela em Inglaterra.

5.
Louis Van Gaal não chegou, viu e venceu. Como é seu costume, chegou, complicou, arranjou problemas, causou incompreensões, tentou mexer em tudo e mais alguma coisa. Tornou o Manchester United ligeiramente mais forte do que era no ano passado, mas abriu, sobretudo, o caminho para um verdadeiro United pós-Alex Ferguson. O segundo ano do holandês será essencial para entender se a sua história no clube será de glória ou de limpeza. O primeiro passo, ainda assim, o mais fácil, foi conseguido.

6.
Comparem os meios e os nomes dos jogadores dos plantéis do Liverpool e do Southampton e consultem a tabela classificativa. Apenas dois pontos de diferença e, para ambos, um lugar na Liga Europa da próxima temporada. A equipa de Ronald Koeman pode ter prometido muito mais do que isto a determinado momento da temporada, mas a verdade é que o holandês consegue um autêntico milagre: manter os Saints que, no ano passado, com Pocchetino, já tinham namorado estas posições, ao mesmo nível. Será que em Southampton estarão preparados para ser mesmo uma equipa de topo na Premier League? José Fonte agradece (e contribui).

7.

Jonas Gutierrez Newcastle

Jonas salvou Newcastle e acabou despedido

John Carver talvez possa ser eleito como a figura mais negra da Premier League. Não só por ter deixado cair (ainda mais) o Newcastle na classificação, levando-o a salvar-se apenas na última jornada, como a oferecer-se para fazer o papel de cumpridor de serviços, ao saber-se que se dispôs a dispensar por telefone Ryan Taylor e Jonas Gutierrez. Para aqueles que estranharam a saída de Alan Pardew para o Crystal Palace (e que bom trabalho fez ele nos Eagles), agora percebe-se que o homem sabia coisas…

8.
Tal como em Espanha, assinala-se uma das tendências dos campeonatos mais ricos: quem sobe de divisão tem cada vez mais dificuldades para se manter. Burnley e Queens Park Rangers não aguentaram e voltam ao Championship. O Hull City, caiu também, permitindo ao Leicester City uma oportunidade de ficar entre os grandes de Inglaterra uma época mais, pelo menos. Regressam o Norwich City e o Watford, estrear-se-á o Bournemouth. A Premier League, essa, deverá continuar a ser um dos maiores campeonatos do mundo.