O Brasil foi a votos no passado fim-de-semana.
O Brasil inteiro teve de votar numa ínfima categoria de eleições. Um verdadeiro labirinto eleitoral. Foram as eleições para a Presidência da República. As eleições para Governador Estadual. Para Senador. Para Deputado Federal e Deputado Estadual. Milhares e milhares de candidatos. Alguns deles muito bizarros. Muito bizarros, mesmo. Como o Palhaço Tiririca, um dos deputados com maior percentagem de votos. O Palhaço Tiririca teve mais de 1 milhão de votos na sua área, São Paulo, para o cargo de Deputado Federal. É obra. Basta ver os tempos de antena do candidato. Um sinal dos tempos.
Entre as bizarrias e o resto, houve candidaturas para todos os gostos, vindo de todos os lados, géneros e feitios. Para conquistar votos. Para dar… Alguma coisa. Na maior parte dos casos, nem se percebe o quê, que a visão política de uma grande parte dos candidatos é nulo ou, no mínimo confusa.
Mas também houve muitos candidatos vindos do Mundo do futebol. Como Romário. Bebeto. E Mário Jardel.
Nada contra antigas estrelas dos relvados tornadas estrelas das câmaras de representantes. Parece que Romário, por exemplo, tem dado conta do recado.
Mas, já Mário Jardel…
O Herói da Área
“Tu querias perceber os pássaros
Voar como o Jardel sobre os centrais
Saber porque dão seda os casulos
Mas isso já eram sonhos a mais”
Jardel nas palavras de Carlos Tê para a voz de Rui Veloso. Não Me Mintas. Não me mintas, Mário Jardel, Super-Mário, herói da área. Um deus a voar sobre os centrais e a meter a bola nas redes.

Foi no FC Porto que Mário Jardel explodiu para o Mundo
Mário Jardel era o marcador de golos por excelência. Ele próprio dizia que marcava golos de qualquer maneira, mesmo com a bunda. E marcava mesmo. Herói do FC Porto, também o foi do Sporting CP. Chegou a ser falado para o SL Benfica. Mas não aconteceu. Mas aconteceu golos. De todas as formas e feitios. Era só empurrar, encostar, dar um ligeiro toque, provocar um desvio, e o golo surgia na baliza adversária. Mas o seu forte era mesmo a cabeça, quando aparecia a voar entre os centrais.
Depois de 4 anos iniciais no seu Brasil natal, no Vasco da Gama e no Grémio, onde se cruzou com Luiz Felipe Scolari, tornando-se dupla de sucesso, Mário Jardel veio para o FC Porto em 1996. E por cá ficou 4 anos. 4 anos de glória. Tri-campeão português. Ganhou a Taça de Portugal e a Supertaça Cândido de Oliveira. Foi o Melhor Marcador do campeonato português por 4 vezes seguidas. Ganhou a Bota de Ouro, de Prata e de Bronze.
Ao fim de 4 anos no FC Porto, saiu para o Galatasaray, onde ficaria em segundo lugar, mas marcaria 24 golos e ganharia a Supertaça Europeia. Mas Mário Jardel não se deu bem na Turquia e, no ano seguinte regressou a Portugal, desta vez para representar o Sporting CP.
A Segunda Vida em Portugal
De novo em Portugal, Mário Jardel mostrou, no Sporting CP, que quem sabe nunca esquece.

No Sporting CP, Mário Jardel teve uma segunda vida de sucesso
Mário Jardel voltou a subir os degraus da glória com a camisola leonina. Campeão Nacional. Vencedor da Taça de Portugal e da Supertaça. E voltou a ganhar a Bota de Ouro. Mário Jardel era mesmo um campeão. E espalhava a sua magia pelos estádios por onde passava. E continuava a marcar golos. Muitos golos. De todas as formas e feitios. Como dantes. Mário Jardel era um renascido. Do Porto para Lisboa, a magia não se tinha perdido. Continuava a voar sobre os centrais e a marcar golos.
Mas o tempo foi passando. E Mário Jardel, talvez cansado de tanto sucesso, começa a desleixar-se. Perde a vontade, o gosto, o prazer pelo golo, pelo futebol. Mário Jardel começa a marcar menos golos. Já não os marca de todos os géneros e feitios. Começa a engordar. Desleixa o físico.
Depois de ter feito uma dupla impressionante com João Vieira Pinto, tornando o ataque do Sporting CP imparável, auto-intitulando-se até de pai e filho um do outro, em 2003 Mário Jardel sai do Sporting. E começa um calvário.
O Declínio
Depois de sair do Sporting CP em 2003, Mário Jardel inicia uma viagem por qualquer coisa como 16 clubes, de vários países, pelo período de 8 anos.
Mas Mário Jardel já não era o mesmo jogador que espalhou magia pelos estádios portugueses. Fisicamente fora de forma, a sua vida fora do futebol entrou, também, ou principalmente, em espirais negativas. Droga. Jogo. Más companhias. Mentira.
Acabou por perder tudo o que tinha conquistado nos anos de ouro. Separou-se da sua mulher e mãe dos seus filhos. Perdeu a fortuna que ganhou. Foram os anos da cocaína (como ele próprio admitiu) e as especulações acerca dos inúmeros gastos em jogo clandestino.
Mário Jardel desceu fundo. Foi ao fundo do poço. Ao inferno. De vez em quando aparecia, dizia-se que iria jogar aqui e ali, mas ou não aparecia ou jogava apenas um ou outro jogo e percebia-se que já não tinha corpo, nem vontade, nem magia. E voltava a desaparecer. Esquecido, esquecia-se. Quem era? Quem fora?
Deputado Estadual
De tempos a tempo, Mário Jardel tentava colocar a cabeça de fora. Dizer que ainda estava vivo.
Acabou, definitivamente com o futebol, enquanto jogador, em 2011, aos 38 anos de idade, e depois de perceber, finalmente, que já não tinha condições para correr num campo, entre jogadores jovens, e marcar golos, depois da vida que levou.
Andou a estudar para tirar o curso de treinador. Mas a cabeça era melhor a marcar golos que a pensar. Aliás, não se lhe conhecem grande tiradas filosóficas ou grandes raciocínios.

Com o apoio de Luiz Felipe Scolari, Mário Jardel concorreu às eleições para deputado estadual
Mas agora, para surpresa de quase toda a gente, Mário Jardel apareceu com candidato estadual nas últimas eleições brasileiras. Foi apoiado por Luiz Felipe Scolari, amigo de longa data, mas que não o chamou à selecção nos seus melhores anos.
Mário Jardel deu nas vistas, na sua candidatura, pelas entrevistas que deu, e pelas frases polémicas que foi debitando, levando, até, que próximo do final da campanha tivesse optado pelo silêncio. O que lhe valeu a eleição.
Em 2014, Mário Jardel foi eleito deputado estadual no Rio Grande do Sul nas listas do Partido Social Democrático. Tem mantido o silêncio depois de ter sido criticado pelas últimas entrevistas onde falou coisas sem nexo. Coisas com esta: “Considero-me alguém de direita. Porquê? Porque sou um ‘cara’ direito de mais.” Ou ainda esta: “[…] não deixar gente na rua a pedir esmola. Não deixar o metro lotado. Não vou conseguir mudar o Mundo, a nossa cultura é difícil.”
Mas Mário Jardel já nos mostrou que é um sobrevivente. E há-de sobreviver.
Boas Apostas!