A saída dos quartos de final do Brasil partiu o coração a milhões de brasileiros, mas, ao mesmo tempo, também trouxe uma abordagem mais madura em relação à derrota.
Brasil, um olhar mais maduro

É preciso apoio nos bons, e nos maus momentos.
O Brasil tem uma bonita história no futebol, um grande palmarés, e sempre foi conhecido por contar com os jogadores mais talentosos do planeta. É como se os brasileiros nascessem com um dom especial para jogar futebol, donos de uma qualidade técnica diferente. Isto tudo fez o povo brasileiro ver a vitória e o favoritismo como coisas certas em qualquer Campeonato do Mundo, como se houvesse uma obrigação vencer apenas por ser, teoricamente, melhor que as outras equipas. O favoritismo gerado pelo paradigma da superioridade cria uma ideia de que uma equipa nunca perde para o adversário, mas para si mesma. A lógica da derrota é achar bodes expiatórios, culpados. Geralmente a culpa é do treinador, ou de um jogador que falhou um lance fatal. Tudo isto tem um ponto em comum: o ódio a quem errou.
Os brasileiros, e não só, sempre foram um povo apaixonado pelo futebol. Contudo, às vezes a paixão é tão grande que distorce a percepção do potencial de uma equipa ou de um adversário, torna as expectativas altas, e depois não sabem lidar quando a expectativa não é cumprida. Tal como uma criança chora quando não tem o que quer, também os brasileiros choraram, raivosos, quando perderam 7-1 contra a Alemanha, nas meias-finais do Mundial de 2014. Essa derrota resultou em anos de discussão à procura dos factores por tal acontecimento, ora era Felipe Scolari, o atraso do futebol brasileiro em relação ao futebol europeu, a geração que era fraca ou até mesmo Paulinho, que não merecia vestir a camisola do seu país.
Em 1974, Zagallo disse que o Brasil ia fazer sumo de laranja, referindo-se à Laranja Mecânica (Holanda) que na altura não tinha história nos Campeonatos do Mundo. Ora o Brasil acabou por perder 2-0. A Holanda de 1974 é a Bélgica de 2018, uma óptima geração belga que está, pela primeira vez, a conseguir traçar a sua história no futebol internacional. Mas houve algo diferente nesta derrota.
Após a derrota por 2-1 contra a Bélgica, e apesar de haver claramente quem continue a procurar culpados, talvez, pela primeira vez na história do Campeonato do Mundo, não houve um onda de ódio juntamente com a vontade de encontrar e crucificar o culpado. Basta ver que Tite continua com o cargo de treinador assegurado, ou como Fernandinho e Gabriel Jesus receberam apoio após uma campanha muito fraca na prova. As expectativas para a conquista do título eram enormes, e isso foi confirmado na fase de qualificação à prova, onde Tite conseguiu um registo fantástico.
Passo a passo, as coisas parecem estar a mudar, começa a deixar de se ver aquela necessidade de culpar alguém, de dizer que esta geração não tem amor à camisola. Começa-se a perceber que há um começo, meio e fim em todas as equipas de futebol, e muitas vezes, a derrota é só o começo do que ainda está por vir.
Boas Apostas!