O ano começou em Barcelona com Neymar e Messi sentados no banco, a equipa a perder frente ao Real Sociedad, Andoni Zubizarreta a incluir o atual presidente entre os culpados do castigo imposto pela FIFA no que toca a transferências e a acabar demitido, vindo a ser acompanhado na saída por Carles Puyol, que também abandonou a estrutura culé. No meio da tempestade, os olhares, e uns quantos dedos, apontam para Luis Enrique, que no meio deste caos parece estar do lado dos elos mais fracos, podendo mesmo ver-se afastado da equipa caso não consiga bons resultados nas duas partidas que ainda tem a disputar esta semana.

A espiral de eventos

Messi Pique Neymar no banco

Estrelas no banco, derrotas em campo

Já vem de trás o problema que parece estar, neste momento, totalmente descontrolado no FC Barcelona. Começou como um problema político, numa luta pelo poder no clube, e tem feito vítimas não só a nível diretivo, como a nível desportivo, com a passagem de Pep Guardiola pela equipa principal como um bom exemplo da espécie de loucura que se foi apoderando do clube. Na altura, Guardiola, uma figura considerada por todos os adeptos, viu-se enredado em questões eleitorais e acabou por ser “castigado” pela própria estrutura por isso mesmo. A sua saída foi uma espécie de fuga a problemas extra-desportivos que, pelo que vai sendo tornado público, nunca foram resolvidos. O Barcelona hesitou e errou, muito, na escolha dos nomes que tiveram, nestas últimas épocas, responsabilidades desportivas e o que começou totalmente fora da equipa profissional, é hoje um problema de solução distante e complicada.

O plantel e Luis Enrique

O plantel do Barcelona é, também ele, por estes dias, uma manta de retalhos que busca uma ideia unificadora. Por um lado, temos os jogadores históricos do Barcelona que, apesar de manterem a mística catalã bem viva no balneário, não dispõem já das condições ideias para, jogo após jogo, assumirem a condução do futebol do Barça. Por outro lado, elementos mais jovens, como Piqué, Busquets ou Messi, que estariam chamados a assumir esse papel já no presente, vivem momentos em que as suas qualidades são colocadas em questão. Piqué foi, desde cedo, na temporada, visto como parte do problema, saindo muitas vezes das opções do técnico, enquanto Messi, longe de ser um atleta satisfeito com toda a situação, não consegue ter o mesmo peso na resolução das partidas.

Luis Enrique Barcelona

O líder em posição complicada

No que toca a contratações, Neymar sente dificuldades em cumprir com o burburinho criado aquando da sua chegada a Barcelona. O brasileiro viveu, como seria de esperar, problemas de adaptação ao futebol europeu e a equipa pareceu nunca assumir a sua integração total, até porque tendo sido criado, desde cedo, como estrela de todas as equipas em que jogou, Neymar também ainda não sabe como ser mais um num plantel tão forte – e não teve um treinador que se ocupasse disso mesmo. Luis Suárez foi a figura do último mercado e depois de ter cumprido o castigo da FIFA, vai também procurando o seu espaço, ainda que num Barcelona com tantos problemas, o uruguaio não possa ser visto como culpado de alguma situação. Finalmente, sente-se que a equipa não terá feito bem todo o trabalho no que toca ao ataque aos mercados. Ten Stegen não consegue conquistar a titularidade a Cláudio Bravo na baliza, Mathieu e Vermaelen (que passará a temporada lesionado) nunca foram vistos como reais alternativas para a defesa catalã e a chegada de jogadores de valor duvidoso como Douglas também fragilizaram a posição dos decisores.

Perante tudo isto, Luis Enrique sente também dores de crescimento enquanto treinador. Por um lado, vive com o estigma de, em Barcelona, só se aceitar trabalho feito. Qualquer ideia de esperar para ver o trabalho render é ameaçada com o afastamento. Depois, a personalidade do técnico parece chocar com um grupo cheio de gente que já ganhou tudo e está habituada a ser figura inquestionada no balneário. Luis Enrique precisava de apresentar uma ideia clara e inequívoca daquilo que queria para a equipa, tentando, através disso, convencer o seu grupo a segui-lo mas, até agora, não foi capaz de o concretizar.

Se não vencer os próximos jogos, poderá não vir a ter tempo para tal.