Poucas coisas haverá nesta vida capaz de juntar Luís Filipe Vieira e Jorge Nuno Pinto da Costa, hoje. Quase nada haverá que possa ligar o SL Benfica e o FC Porto.

Entre o Norte e o Sul, um fosso. Um fosso mais imaginado que real. Que há muitos portistas na mouraria, como há muito mais benfiquistas no berço da nação. Mas não deixa de haver uma linha divisória entre os que estão lá para cima, e os que estão lá para baixo. Como se de uma enorme distância se tratasse. Mas é distante, a ideia de um e de outro, mesmo que próximos em quilómetros. Portugal está todo muito concentrado em poucos quilómetros quadrados. Mais ou menos 500 quilómetros separam o Minho do Algarve. E no entanto, uma vida não chega para falar da separação futebolística. Há os de lá de cima, e os de lá de baixo. E ambos acham que o problema está neles. Já dizia Sartre: o inferno são os outros.

Tudo começou quando, à frente do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa, já presidente, se armou em revolucionário e galopou contra os poderes instituídos do sul. Com frases rebeldes como Só Queremos Ver Lisboa a Arder, e ideias histórico-filosóficas que para sul do Douro são tudo Mouros, conseguiu cerrar fileiras, encher as trincheiras e combater a Lisboa despesista tomando as dores de um Porto trabalhador. Quem não é por nós é contra nós e por aí fora. Foi uma época de guerrilha. Que deu os seus frutos.

A verdade é que essa demanda foi de vitória, o Presidente do FC Porto conseguiu transformar o clube na mais importante equipa de futebol portuguesa, com bastante repercussão na Europa, e sendo, inclusivamente, a equipa portuguesa com mais e maiores prémios internacionais: 2 Ligas Europa, 2 Ligas dos Campeões, 1 Supertaça Europeia e 2 Taças Intercontinentais. Foi a partir dos anos ’80 que se deu esta sublevação do FC Porto, coincidindo, também, com um certo declínio do SL Benfica, mesmo que com alguns brilhantismos, como os anos de Sven-Göran Eriksson, e um total alheamento do Sporting CP. Mas o FC Porto nunca conseguiu fugir a esse estigma de clube regional. E isso tem servido como arma de arremesso.

À Mesma Mesa

Mas às vezes, às vezes os maiores inimigos têm de sentar à mesma mesa e discutir. Pensar. Arranjar soluções para problemas comuns.

No final de Segunda Guerra Mundial, em 1945, Franklin D. Roosevelt, Josef Stalin e Winston Churchill, encontraram-se por diversas vezes para discutir o fim da guerra. Sentaram-se às mesas (3 encontros), e discutiram o que tinham de discutir.

Ora, nada do que possa ter acontecido entre SL Benfica, FC Porto e Sporting CP, ou entre os seus líderes, é mais forte ou importante do que o que separava os 3 líderes Mundiais. É preciso pensar o futuro, principalmente quando o presente dá mostras de se desintegrar.

Jorge Nuno Pinto da Costa & Luís Filipe Vieira

Há muito, muito tempo, era assim, agora, por força das circunstâncias, Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira têm de voltar a entender-se

Ora, desintegrar é o que parece que está a acontecer à Liga de Clubes, a principal responsável pelo campeonato da Primeira e Segunda Liga. Luís Filipe Vieira e Pinto da Costa, esqueceram os seus orgulhos e engoliram os sapos que tiveram que engolir e sentaram-se à mesma mesa, na companhia do grosso de representantes das duas ligas para discutir o seu futuro. O presidente do Sporting CP não achou melhor compromisso do que faltar ao encontro e ignorar os problemas que afectam a Liga de Clubes, como se o seu orgulho e as feridas que tão bem sabe lamber fossem mais importantes. O sistema dá para tudo. Até para enterrar a cabeça na areia.

Mas o mesmo não acharam 27 clubes de futebol profissional das Primeira e Segunda Liga. De fora ficaram Sporting CP, CD Nacional, CS Marítimo, FC Arouca, GD Chaves, Académico de Viseu, Leixões SC, CD Santa Clara e Atlético CP. Não terão faltado todos pelas mesmas razões, mas alguns não acharam melhor forma de protesto do que meterem-se à margem da discussão.

O que está em causa é a desintegração da própria Liga. Com a transformação do BES em Novo Banco, e a PT a parecer vir a ser desmantelada pela Oi que, para já, a engoliu, fechou-se uma torneira que alimentava os clubes de futebol e a sua organização. Sob a presidência de Mário de Figueiredo, a Liga mostrou-se incapaz de gerar receitas e está à beira de falir. Os clubes, numa tentativa de atalhar caminho, enquanto ainda é tempo, tentaram arranjar uma solução de consenso. Essa solução passou pela escolha, maioritária, da figura de Luís Duque, antigo presidente da SAD do Sporting CP e da Associação de Futebol de Lisboa. Mas quem achava que a figura seria de consenso, desengane-se. O Sporting CP não foi à reunião, nem se fez representar, mas já fez saber que a escolha de Luís Duque é uma afronta aos sportinguistas.

Depois da reunião, que aconteceu na Quinta das Lágrimas, em Coimbra, a maioria dos presidentes presentes deslocou-se à Mealhada para o almoço. Ao almoço, também Luís Filipe Vieira e Pinto da Costa partilharam a mesma mesa, cada um sentado a uma das cabeceiras. Talvez a ausência de Bruno de Carvalho se deva ao facto de não haver mais cabeceiras disponíveis.

Luís Duque

Luís Duque, que ficou mais conhecido por ter sido dirigente do Sporting CP, é licenciado em Direito, e teve uma vida profissional que passou pela advocacia, pela administração de empresas, pela política e, obviamente, pelo futebol.

Luís Duque

Luís Duque: de consensual a provocação

Na década de ’90 chegou a ser presidente da Associação de Futebol de Lisboa. No final da década, em 1998, chegou a concorrer com Gilberto Madaíl à presidência da Federação Portuguesa de Futebol, mas perdeu. Gilberto Madaíl aguentou-se muitos anos no cargo e transformou a Federação num portento de dinheiro e poder, tendo consolidado a Selecção Portuguesa como uma das melhores do Mundo (embora, de facto, nunca tenha ganho nada).

Foi depois destas experiências que Luís Duque entrou como dirigente para o Sporting CP. Agora, o actual presidente sportinguista, Bruno de Carvalho, processou-o pelo período em que esteve como dirigente do clube, tendo-o acusado de gestão danosa.

Entretanto, Luís Duque já aceitou o repto que lhe foi lançado pelos clubes que se reuniram em Coimbra, aos quais se poderão ainda juntar Marítimo e Nacional, para a candidatura à presidência da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, nas eleições que se irão realizar dia 27 de Outubro.

O Sporting CP, por seu lado, também já fez saber que se o nome de Luís Duque era para o consenso, o mais que conseguiu foi colocar o Sporting CP fora desse consenso, e que o nome tenha sido, afinal, uma provocação.

Mas uma coisa é certa: com ou sem Luís Duque, os clubes têm um problema grave que têm de resolver e o mais rápido possível.

Boas Apostas!