Há gente que fala demais.

Há gente que fala o que não deve.

Há gente que fala só para não estar calado.

Há gente que fala só para se ouvir.

E também há gente que fala para ser reprodutor de outras vozes que se querem fazer ouvir mas não dar nas vistas.

No futebol, como na política, e em geral, um pouco por todo o lado, há sempre muita gente que fala só para não estar calado, gente que fala para se ouvir, gente que não tem nada de edificante a transmitir, mas não se consegue calar.

Jorge Jesus, treinador do SL Benfica, é daquelas pessoas que fala demais. Por vezes, se não falasse, limitava os disparates que diz. Pelo menos não deixava sair aquele enorme ego que garante serem dele as vitórias e nunca as derrotas.

Bruno de Carvalho, o presidente do Sporting CP, é daquelas pessoas que falam o que não devem. Como presidente de uma grande instituição, deveria medir as palavras que debita, e tomar-lhes o peso. É que o que diz tem consequências, como o próprio pôde confirmar na disputa azeda que provocou, e perdeu, com o seu treinador.

Julen Lopetegui, treinador do FC Porto, é daquelas pessoas que fala para reproduzir o que lhe sussurram ao ouvido. O que é pena.

Quando começou as primeiras conferências de imprensa, Julen Lopetegui era um agente futebolístico com ideias, teorias, estórias. Era alguém que faltava ao futebol nacional. Tinha um discurso novo e escorreito. Falava de futebol. Falava dos jogos. De tácticas. Do que via. Do que pretendia.

Talvez porque, na prática, as coisas não lhe correram pelo melhor, o treinador dos dragões mudou o tipo de discurso. Deixou de falar de técnica e de tácticas. Deixou de falar de futebol. Passou a falar do que, obviamente, não conhece. E passou a justificar os seus erros com culpa alheia.

Julen Lopetegui foi apanhado na corrente.

Os Árbitros, Sempre os Árbitros

Numa entrevista, em jeito de primeiro balanço pelo primeiro ano à frente da equipa do FC Porto, ao Porto Canal, Julen Lopetegui tece considerações várias sobre muitos assuntos que, de uma forma ou outra, estão ligados ao futebol ou ao FC Porto ou ao seu trabalho.

A entrevista até foi bem interessante, que Julen Lopetegui é uma pessoa culta e conhecedora.

Mas dois assuntos saltaram à vista: a rotatividade e a arbitragem.

Sobre o primeiro, Julen Lopetegui esgrimiu argumentos em defesa da rotatividade de jogadores que promoveu no início do campeonato.

Sobre o segundo, Julen Lopetegui deu-lhe bastante importância, como se este fosse o fulcro principal deste campeonato onde debuta.

Julen Lopetegui e o Árbitro

Nos últimos tempos, a arbitragem passou a estar muito presente no discurso de Julen Lopetegui

Ora, os árbitros podem ser bons ou maus, podem portar-se melhor ou pior num ou noutro jogo, podem, inclusivamente, tornarem-se responsáveis por um resultado, por alguma má análise de um facto (má visão, pouca atenção, decisão rápida, incompetência, …), mas nunca podem ser responsáveis máximos pela carreira final de uma equipa.

A responsabilidade última de uma equipa está nos jogadores, na equipa técnica e, em última análise, na equipa dirigente.

A equipa dirigente porque escolhe a equipa técnica e, em parte, os jogadores. A equipa técnica porque tem uma palavra a dizer na aquisição de jogadores e porque é a responsável pela escolha do onze pra cada jogo e pelas opções técnicas e tácticas a adoptar. Os jogadores porque são quem está em campo e são quem marca, ou não, os golos, e quem defende, ou não, os ataques adversários.

Quando, em forma desresponsabilizadora, se assacam aos árbitros a responsabilidade da vitória, ou derrota, de um campeonato, é atirar areia para os olhos dos adeptos do futebol.

Mas isto tem-se tornado norma, no treinador catalão, nos últimos tempos.

Não bastava ter-se metido a botar discurso sobre matérias que não conhece (o caso de Rui Gomes da Silva, dirigente do SL Benfica e antigo ministro, por exemplo), só demonstra que Julen Lopetegui é permeável à função de ampliar os sussurros que lhe vão debitando ao ouvido. E é pena que assim seja.

Lopetegui apareceu no FC Porto carregado de uma aura que lhe garantia o sucesso. Teve (quase) carta branca para erigir uma equipa à sua medida, com todos os custos inerentes. Emaranhado no seu próprio labirinto, Lopetegui acabou por se tornar uma caixa de ressonância. Há falta de resultados. Alguém tem de ser responsabilizado.

Ainda disse que nunca se queixou de ter perdido algum jogo por causa dos árbitros. Que se limita a responder às perguntas dos jornalistas. E como as conversas são como as cerejas, vai por ali fora e só pára depois da asneira.

A verdade é que, tal como Jorge Jesus se declara o maior do Mundo quando ganha, também Julen Lopetegui culpa as arbitragens quando não consegue ganhar. Mas vai ainda mais longe, acusando erros de arbitragem em jogos do seu novo rival, o SL Benfica. Percebe-se a preocupação de Julen Lopetegui que deixou fugir a equipa rival de Lisboa e ainda não teve arte de a alcançar. Mesmo com todos os tropeções encarnados. E a culpa não pode morrer solteira.

Enfim, ninguém é perfeito. E nem toda a gente sabe falar Latim.

Boas Apostas!