A poucos dias do início da Liga NOS, olhamos para aquilo que poderá ser a corrida ao título e à Europa, contando para isso com o perfil das nove equipas que na temporada passada ficaram na primeira metade da tabela. Entre estas equipas, podem-se definir três grupos. Os que vão lutar para ser campeões, um grupo onde estará apenas o SC Braga, equipa que está longe dos primeiros três, mas também a distância considerável dos restantes e um grupo onde haverá mais questões do que certezas, neste início de temporada. Venham connosco nesta viagem!

É mesmo a três!

Jorge Jesus lançou o repto no dia da sua apresentação, mas não teria sido necessário o técnico leonino lembrar a ninguém que, este ano, a luta pelo título será feita a três.

Fejsa B.Ruiz

Na Supertaça, o Sporting mostrou-se superior ao atual campeão

Comecemos pelo atual campeão, o Benfica, que deverá ainda aproveitar os últimos dias de mercado para arranjar o seu plantel. Raúl Jiménez estará prestes a ser confirmado e Melli poderá também chegar para fortalecer o meio-campo. Problemas de Rui Vitória? Sobretudo a sua incapacidade para, num mês de trabalho, não ter sido claro quanto aos seus objetivos. O Benfica continua a ter muitos dos jogadores que o tornaram campeão e também as dinâmicas que foram chave para os sucessos dos últimos dois anos. Como elaborar uma equipa para o futuro a partir desta base é a única responsabilidade de Vitória, que vive, também, sob a sombra do investimento (ou não) de Luís Filipe Vieira. Quanto mais tempo demorar o técnico a impor as suas ideias, mais dificuldades terá para ter sucesso.

O FC Porto apostou tudo na continuidade de Julen Lopetegui, apesar do técnico espanhol não ter somado nenhum título no ano passado. O investimento feito em jogadores como Casillas, Maxi Pereira, Imbula, Osvaldo ou Bueno é um reforço na ideia de evolução na continuidade. Mas é também uma chamada de atenção para a necessidade da equipa ganhar já. Aproveitar as transições que Benfica e Sporting necessariamente terão que ultrapassar no decorrer da época é outro dos pontos a favor dos Dragões. Os sinais da pré-temporada são preocupantes, apenas, na incapacidade da equipa marcar golos. Uma entrada em força na nova temporada é obrigação a cumprir por Lopetegui e as suas tropas.

Jesus e o Sporting entraram a ganhar na Supertaça e o primeiro obstáculo está ultrapassado. O treinador tem uma agenda pessoal, que passa por comprovar que as suas qualidades podem transformar-se em vitórias seja qual for o clube que representa. O Sporting tem tudo a ganhar com isso e aproveita a onda da chegada de Jesus para o fornecer um conjunto de jogadores experientes, mas com algo a provar. É uma mistura explosiva que só um técnico com a experiência e a atitude de JJ pode conseguir dominar. A entrada na Liga dos Campeões é outro objetivo (difícil) a atingir, pelo que a linha de partida para a temporada será um terreno propício para a afirmação ou para o desencanto.

As vantagens e desvantagens de ser-se único

Aquém da capacidade de investimento dos três grandes, mas distante das dúvidas que rodeiam as equipas que se preparam para lutar pela Europa, o SC Braga entra neste campeonato com quase tudo a perder. Um quarto lugar será sempre visto como algo normal, enquanto uma posição abaixo dessa acabará assinalada como um enorme falhanço. Entrar na luta pelo pódio é um sonho quase impossível, mas a única forma de se poder dizer que o Braga fez uma grande temporada. Haverá Taças para ganhar e uma Liga Europa onde voltar a fazer estragos. A aposta em jovens jogadores em busca de afirmação – Alef, Joan Román, Rodrigo Pinho ou Crislan – poderá valer mais um sucesso no mercado, território onde, sim, este Braga, parece ter possibilidades de evolução, garantindo a capacidade financeira para continuar a viver no “limbo” de se ser único.

Sonhar com a Europa com mais dúvidas que certezas

Se as cinco equipas que restam analisar sonham com a Europa, apenas uma terá ainda oportunidade de jogar “lá fora” este ano. O Belenenses mostrou fibra e experiência para ultrapassar o IFK Gotemburgo e tem no Altach, da Áustria, a última barreira para atingir a fase de grupos. O plantel do Restelo não parece ter condições para enfrentar tranquilamente meia temporada com duplas jornadas semanais, mas o crescimento do projeto de Rui Pedro Soares faz-se no risco. A aposta num plantel 100% português vale mais umas páginas de atenção mediática e, mais do que os reforços, terá sido fundamental para a equipa manter Carlos Martins e Miguel Rosa. Ricardo Sá Pinto regressa ao campeonato português e promete a agitação que lhe é tão justamente reconhecida.

Vitória Guimarães

União precisa-se em Guimarães

Por falar em agitação, são controversos os tempos em Guimarães, onde o Vitória já caiu das provas europeias e treme agora perante a possibilidade deste campeonato não se ver capaz de se manter na primeira metade da tabela. Sobre Montoya e Henrique Dourado, ambos chegados do Brasileirão, recai a responsabilidade de puxarem por uma equipa feita agora por uma juventude que era, no ano passado, a segunda linha de uma série de jogadores mais promissores. Tozé chega do Estoril para também se afirmar como capaz de chegar a um degrau competitivo mais alto, enquanto Armando Evangelista se estreia na Liga NOS como se vivesse no meio de uma tempestade. Precisa-se de capacidade para entender o lugar e o momento do Vitória, uma certa dose de realismo, para não deixar que a ansiedade traia o que de bom pode ainda sair daqui.

Na Madeira, Nacional e Marítimo enfrentam ambos a necessidade de cortar nas despesas. Ambos continuam a apostar forte no mercado brasileiro para reforçar as suas equipas, mas os maritimistas saíram desse mercado para ir contratar um jogador que pode ser sensação, o arménio Ghazarian. O Nacional espera fazer com Salvador Agra aquilo que fez com Marco Matias, sendo que ambos os conjuntos começam a temporada com os técnicos que fecharam a última época. Quer Manuel Machado, quer Ivo Vieira são já homens da casa (Vieira cumpriu o caminho da equipa B para a A, como alguns dos seus antecessores) e conhecem bem o contexto em que estão inseridos. Terminamos com Jorge Simão que começa, pela primeira vez, uma temporada na Liga NOS, depois de no ano passado ter aguentado o Belenenses nos lugares europeus. A saída de Sérgio Oliveira pode acabar por ser compensada com a chegada de Pelé, que apesar de não ocupar a mesma posição, será seguramente uma garantia para o meio-campo pacense. Sem ter, propriamente, a obrigação de atacar a Europa, o Paços de Ferreira tem as condições (e o à-vontade) para manter a sua posição na primeira metade da tabela.

Lê a nossa análise às restantes nove equipas da Liga NOS.