Ontem a festa foi de arromba em Inglaterra. Os Leõezitos de Southgate superaram o trauma de uma nação: há vinte e dois anos que a Inglaterra não vencia uma eliminatória nos penáltis! Nunca tinha acontecido num Mundial. Jordan Pickford é herói nacional e agora o céu, os a final, é o limite. Os ingleses reconciliam-se com a seleção.
Manter a cabeça fria
Foi um jogo épico para a seleção inglesa. Um penálti sobre Harry Kane colocou a equipa na frente do marcador até aos descontos, quando Yerry Mina fez a igualdade e forçou o prolongamento. Numa partida fisicamente muito desgastante, em que cada bola foi disputada, apanhar com um balde de água fria desses podia ter feito com que os jovens jogadores perdessem a cabeça. Mas a equipa técnica, sabe-se agora, passou a mensagem de que tinham tudo controlado, era preciso manter a calma. Durante o prolongamento, e perante as habituais provocações dos sul-americanos, a câmara registou mais de uma vez Gareth Southgate e Steve Holland a repetirem o mantra para o relvado.
Enfrentar os penáltis de frente

Jordan Pickford disse que só Falcao não escolheu o lado que o estudo antecipava. A sorte tem pouco ou nada a ver com o sucesso.
A decisão por grandes penalidades era o cenário que nenhum inglês queria revisitar. Mas foi obrigado a isso. Muitos terão pensado que estava tudo acabado; não aqueles rapazes que se alinharam para marcar. Harry Kane, tendo já convertido um durante o jogo, tinha a dificuldade de repetir frente a Ospina. Não fraquejou. Seguiu-se Marcus Rashford e o menino de vinte anos, que se estreava em Campeonatos do Mundo, marcou como se estivesse no quintal de casa. Nervos de aço. Ao terceiro, o tropeção. Coincidência ou não, foi Jordan Henderson, um dos mais experientes e que tinha bem presente o peso da responsabilidade, a falhar. Sem dramas! Kieran Trippier veio a seguir e o sorriso de reguila não enganou. O último a avançar foi Eric Dier, muito concentrado, e a bola foi parar onde devia. Se a Inglaterra está nos quartos de final do Rússia 2018 deve-o também, sobretudo, a Jordan Pickford. O jovem guarda-redes do Everton, que ainda na jornada anterior tinha sido criticado pela exibição frente aos belgas, com Courtois a aludir à sua pequena estatura, eleva-se ao estatuto de herói nacional. Antecipou as intenções de Carlos Bacca e defendeu a última penalidade.
Longa espera de vinte e dois anos

A seleção inglesa a libertar-se do passado para fazer a sua própria história.
Pela primeira vez num Mundial a Inglaterra não cai vítima do desempate por grandes penalidades. Em 90 e 98 o carrasco foi a Argentina, nas meias e nos oitavos de final, respetivamente. Em 2006 fomos nós, ou antes, Ricardo, a frustrar os ingleses. Mas este peso histórico ia bem além dos Campeonatos do Mundo, aconteceu também nos Europeus. Há vinte e dois anos, gravados a ferros em quem viveu a experiência, que o destino era esse.
3 de julho de 2018, o dia em que o trauma foi superado. Ironia do destino, por uma seleção jovem que tem ao comando um homem que sabe como ninguém o que é falhar o penálti decisivo. Isto é guião de filme!
Ultrapassado o Cabo da Boa Esperança, os adeptos ingleses parecem reconciliados com a seleção e já se atrevem a sonhar. Football is coming home! É a frase repetida, agora mais às claras. Sabia-se que passados os oitavos o caminho ficaria navegável. Não é fácil, são as fases finais de um Mundial, mas os adversários que saírem ao caminho estão mais ou menos no mesmo barco. Ir até ao fim nunca se afigurou tão possível!
Boas Apostas!