O campeonato chinês ainda não começou e já começa a haver uma equipa que ameaça tornar-se em sensação. Poucos duvidam que Guanzhou é, por estes tempos, a capital do futebol na China. Se bem que todas as atenções se concentrem nos milionários do Evergrande, quem merece destaque, por agora, é o Guangzhou R&F, uma equipa que foi apenas fundada em 2011 e que entrou nos noticiários europeus pela forma como contratou Cosmin Contra, técnico romeno que estava ao serviço do Getafe. Ora, depois de terem feito eco nas páginas do sensacionalismo, já começam a demonstrar em campo que fizeram a escolha certa.

Uma história toda recente

O Guangzhou R&F foi fundado em 2011, sendo no entanto um clube que tem história desde 1986, primeiro com o nome de Shenyang – entre outras denominações, este era o Shenyang Ginde que Toni treinou em 2002 -, depois Changsa e finalmente Shenzhen Phoenix, antes de se mudar para Guangzhou e adoptar a presente sigla. O regresso à divisão maior do futebol chinês deu-se logo em 2012, com um interessante sétimo lugar, tendo na temporada passada, sob a liderança de Sven-Goran Eriksson, terminado em terceiro lugar e conquistado a presença na fase de apuramento da Liga dos Campeões da Ásia.

Uma lança em Espanha

A contratação de Cosmin Contra foi o primeiro passo na preparação da nova temporada. Se há sinal de que o futebol chinês começa a merecer atenção no panorama asiático, é a forma inteligente como se vão fazendo os investimentos. Procuram-se técnicos conceituados para liderar as equipas – a escolha de Alain Perrin para a seleção não é inocente -, dando grande espaço de destaque aos jogadores chineses – vários deles com experiências de formação na Europa -, e completando os planteis com estrangeiros que adicionam qualidade e estão, ainda, na posse das suas faculdades. Depois de o Japão ter assumido este caminho, a China copia o que dá bons resultados.

Para se juntar a Cosmin Contra, o Guangzhou R&F contratou também Míchel Herrero, um médio ofensivo criado em Valência e que estava sob as ordens do romeno no Getafe. A contratação mais cara foi feita, no entanto, na própria Liga, contratando o guarda-redes Liu Dianzuo, de 24 anos, por 2.8 M€ ao Shangai Shenxin.

Sistema e Modelo de Jogo

Guangzhou-rfA forma de arrumação do Guangzhou R&F nas partidas observadas, frente ao Central Coast Mariners (vitória por 3-1) na fase de apuramento da Liga dos Campeões da Ásia e frente ao Gamba Osaka (vitória por 2-0) na primeira jornada da fase de grupos, apresentam uma equipa em 4-2-3-1. Cosmin Contra apresenta uma linha defensiva muito sólida, com grande entreajuda e aproximação de linhas com a do meio-campo, pressionando sempre o jogador em posse e as suas primeiras linhas de passe. Uma vez conquistada a bola, a equipa desdobra-se ocupando muito bem os espaços, beneficiando, sobretudo, da velocidade de Jiang e do poder físico de Hamdallah, enquanto Michel explora sobretudo o passe e distribuição de jogo.

Organização defensiva

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Com uma estrutura muito solidária, o Guangzhou R&F dá privilégio a uma linha de quatro defesas, encerrando a equipa adversária com uma segunda linha de outros quatro elementos que respondem à dinâmica de circulação de bola do adversário. Sempre em constante pressão sobre a bola, desde a primeira fase de construção do adversário, o Guangzhou R&F isola o jogador em posse criando-lhe dificuldades nas linhas de passe primárias, originando várias perdas de bola do adversário na zona intermediária.

Organização ofensiva

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Procurando, muitas vezes, jogar com a vantagem de conquistar a bola em terrenos proibidos para o adversário, a qualidade técnica de jogadores como Jiang ou Hamdallah conseguem criar situações de golo iminente. No entanto, em ataque organizado, o Guangzhou R&F espalha-se pelo terreno de jogo e procura alargar ao máximo a tensão defensiva adversária, de maneira a poder explorar-lhe os espaços entre jogadores. Para que isso aconteça, é muito importante a ação de Wang, médio de características mais defensivas, mas que aparece algumas vezes na área adversária para finalizar. Essa sua dinâmica de subida no terreno é bem lida por Michel, que menos rápido, mantém o equilíbrio no meio-campo para o caso do contragolpe adversário surgir.

Reinar em posse

Em ambos os encontros, uma vez em vantagem, o Guangzhou R&F soube congelar a iniciativa adversária com a sua posse de bola. Com os seus jogadores bem espalhados pelo terreno de jogo, com mudanças entre linhas dos três médios, na mesma dinâmica registada no momento de finalização, o R&F soube manter a bola e impedir as perdas em situações de perigo para a sua baliza. Ao mesmo tempo, com Jiang e Hamdallah no terreno de jogo, a procura de passes para as costas da defesa pode também surgir como oportunidade de golo. Vê aqui um exemplo no segundo golo marcado frente ao Central Coast Mariners.

O que nos diz o calendário

Na Liga dos Campeões da Ásia, a vitória no terreno do Gamba Osaka, campeão japonês, indicia um certo favoritismo a cair para o lado do Guangzhou R&F, até porque no outro jogo do grupo, os tailandeses do Buriram United bateram o Seongnam da Coreia do Sul. É a equipa tailandesa que será o próximo adversário do conjunto orientado por Cosmin Contra.

O campeonato chinês inicia-se no dia 7 de março e, se o Guangzhou Evergrande continua a ser o principal favorito, não devemos afastar o R&F de uma possível corrida, já que a organização evidenciada pela equipa numa fase tão precoce da sua temporada só pode mesmo prometer o melhor.

Boas Apostas!