E assim, de repente, o nome premiado de Cristiano Ronaldo torna-se uma banalidade.

Na mesma semana, o mais mediático dos jogadores de futebol da actualidade é vencedor de dois grandes troféus. Um deles mundial, o outro nacional, mas com repercussões fora de portas. Ou não estivessem presentes, na cerimónia, e entre outras personalidades, Joseph Blatter e Michel Platini, os presidentes da FIFA e da UEFA, respectivamente.

Ora, se para o Mundo inteiro, o interesse estava em saber quem seria, em 2014, o Melhor Jogador do Mundo, que já se esperava ser Cristiano Ronaldo, para os portugueses, o interesse estava em saber quem seria o Melhor Jogador Português do Século, sendo que havia três finalistas: Eusébio, Figo e Cristiano Ronaldo.

É preciso dizer que este prémio foi votado pela internet. E o vencedor foi, mais uma vez, e com alguma surpresa, Cristiano Ronaldo, o CR7 que veio da Madeira para conquistar o Mundo.

Os 100 Anos da Federação Portuguesa de Futebol

A FPF – Federação Portuguesa de Futebol, responsável máximo pelo futebol em Portugal, está a fazer 100 anos.

Uma data tão redonda e bonita merecia ser comemorada com pompa e circunstância, e foi o que aconteceu. A FPF organizou uma série de conferências e debates e estudos sobre o futebol e os desafios que enfrenta hoje em dia. Foram feitos vários painéis com convidados sonantes vindos de toda a parte do Mundo, de treinadores a dirigentes, em sessões espalhadas por vários dias.

Mas foi ontem a gala onde foram distribuidos os prémios que consagraram os 100 anos da FPF e as personagens que ao longo desta centena de anos lhes tem dado espessura e lhes fizeram a história.

O prémio mais aguardado da noite era um prémio irrepetível, o que iria encontrar o Melhor Jogador Português do Século. O número um para este s 100 anos de história.

Havia três jogadores na contenda final, que já tinha sido encontrados anteriormente: Eusébio, Figo e Cristiano Ronaldo.

E o vencedor, numa votação que decorreu na internet, acabou por consagrar Cristiano Ronaldo, pela segunda vez na semana, como o Melhor Jogador, só que em vez de ser do Ano para todo o Mundo, é de Sempre e para os portugueses.

Cristiano Ronaldo

Cristiano Ronaldo foi escolhido, em 2015, como o Melhor Jogador Português do Século

Muito se poderia dizer, discutir, perguntar, analisar sobre estes resultados, inquinados à partida. As pessoas tendem a lembrar mais e melhor o mais recente. A maioria das pessoas não viu Eusébio a jogar. Luis Figo já é pouco mais que uma lembrança. E Cristiano está, constantemente, a surfar na crista da onda.

Quando muitas vezes se tenta abrir o debate sobre quem seria o Melhor Jogador do Mundo de Todos os Tempos, há sempre uns ajuizados que chamam a atenção para demasiadas variáveis. Há o tempo, as tácticas, a técnica, o número de jogos, a tecnologia, os treinos, o alto rendimento, a profissionalização, a informação, enfim, uma série de itens que podem alterar as condições de comparação.

Hoje a informação dá a volta ao Mundo em segundos. Há 10 anos, aquando do tsunami que matou milhares de pessoas e alterou zonas de costa no oriente, foi descoberta uma criança perdida, num qualquer fim-do-mundo, vestido com uma camisola da selecção portuguesa com o número e o nome de Cristiano Ronaldo. Nos anos ’60, os jogadores davam-se a conhecer em eventos e jogos importantes europeus (poucos) e nos eventos mundiais (muito menos, ainda).

Eusébio criou uma aura na Europa e no Mundo com um Campeonato do Mundo. Em 1966, Eusébio da Silva Ferreira foi a imagem da irreverência portuguesa e também do seu descontentamento. Mas pouco mais foi dado a conhecer, tirando um ou outro jogo do SL Benfica na Europa, nos jogos da UEFA, que não tinham as transmissõs de hoje, nem as inúmeras horas gastas em programas de análise e escalpelização e estudo e discussão em várias televisões em quase todos os países do Mundo.

Cristiano Ronaldo começou cedo nas bocas do Mundo através da equipa do Manchester United, então na sua melhor fase. Quando se mudou para Madrid, só foi aumentar essa sua exposição mediática.

Mas com isto não se está a colocar em causa o valor de Cristiano Ronaldo, por demais evidente. Só se questiona se Eusébio, como resultado da sua época e, na sua época, não seria ainda melhor que o CR7.

Hoje, um craque da bola é endeusado como um super-herói. Nos anos ’60 (e fala-se dos anos ’60 porque foram os de Eusébio, mas se mais recuarmos, maior a agonia da descoberta), era um mistério de que se ouvia falar vagamente nalgumas revistas encontradas por acaso aqui ou ali, ou num jonal de A Bola, lido todo, de fio a pavia, como se de uma bíblia se tratasse (e tratava!).

Já Luis Figo é um caso diferente. Mais próximo de Cristiano Ronaldo. Mais difícil porque o primeiro de uma geração. Uma geração que começou a viver esse mediatismo. Mas mais fácil porque foi uma geração que explodiu quase em simultâneo. Mas Figo teve o azar de ter vivido uma época onde houve muitos e bons jogadores. E é mais difícil sobressair no meio de um imenso grupo.

Hoje também os há. Mas Cristiano Ronaldo tem tido a arte, o engenho e o trabalho de se manter no centro do tufão.

Um prémio que se aceita, mas que se pensa ser um pouco injusto para com a memória.

Os Outros Premiados

José Mourinho

Sem grande surpresa, José Mourinho ganhou o prémio de Melhor Treinador Português do Século

Mas outros foram os premiados ao longo da noite. E deu para premiar muita gente.

Jogador do Século: Cristiano Ronaldo, jogador do Real Madrid e da Selecção Nacional.

Treinador do Século: José Mourinho, treinador do Chelsea. Um dos poucos prémios onde houve menos controvérsia, ou mesmo nenhuma. Joaé Mourinho veio inaugurar uma época. E o treinador português é considerado antes de José Mourinho e depois de José Mourinho. E é, obviamente, o mais bem sucedido dos treinadores portugueses de sempre.

Onze do Século: Vítor Baía; Fernando Couto, Germano, Humberto Coelho e Ricardo Carvalho; Coluna, Figo e Rui Costa; Cristiano Ronaldo, Eusébio e Paulo Futre. Aqui está outro exemplo da memória recente. Não se discute o grande valor dos jogadores escolhidos, mas em 100 anos de história, não deixa de ser bizarro o grosso da Melhor Equipa Portuguesa do Século, ser quase toda da mesma geração.

Onze Contemporâneo: Vítor Baía; Fernando Couto, João Pinto, Ricardo Carvalho e Humberto Coelho; Chalana, Figo e Rui Costa; Cristiano Ronaldo, Paulo Futre e Pauleta. Aqui assste-se a uma variação do Onze do Século. Mais do mesmo. Mas não merecia Chalana estar no Onze do Século? Vitor Baía era melhor que Manuel Bento? E onde está o João Vieira Pinto? E o que faz aqui um jogador como o Pauleta?

Eusébio e a Selecção Portuguesa de 1966

Eusébio e a Selecção Portuguesa de 1966 também ganharam os seus prémios e cravaram a sua história na história da FPF e de Portugal

Onze Histórico: Costa Pereira; Germano, Hilário, Vicente e Virgílio; Coluna, Simões e Travassos; Eusébio, Matateu e Peyroteo. Um onze que se torna difícil de avaliar por falta de conhecimento real dos jogadores. Mas basta consultar ps livros e os jornais da época para descobrir este nomes e as loas que lhes estão associadas. Merecedores de grandes elogios e genealidade numa altura em que era difícil afirmá-la. Um Onze de História e para a História.

Selecção do Século: Selecção A – Mundial 1966. Foi a primeira e uma das melhores participações portuguesas num palco Mundial da grandesa que foi o Inglaterra 66. E a selecção portuguesa esteve muito perto de ainda ir mais longe. Foi um virar de página, um fazer história, partindo da periferia para o centro do Mundo. Isto tudo depois do SL Benfica já ter fascinado a Europa.

Jogadora do Século: Carla Couto.

Árbitro do Século: Pedro Proença.

Quinas de Platina: Eusébio. O prémio de consolação, já que o Melhor do Século iria para Cristiano Ronaldo. Mas foi merecido.

Quinas de Honra: Camacho Vieira (ex-médico da seleção), Gilberto Madail (ex-presidente da FPF), Carlos Queiroz (ex-selecionador de Portugal), Luís Figo (ex-jogador) e Liga Portuguesa de Futebol Profissional (clubes).

Prémio do Presidente: Associação de Futebol de Lisboa, Associação de Futebol de Portalegre e Associação de Futebol do Porto.

E no fim, e depois de todas as considerações, só nos podemos congratular com a história que o futebol já construiu em Portugal. Com mais ou menos acordo sobre os prémios, no fundo percebem-se. E acabamos por aceitar e perceber que são merecidos. E foi uma bela festa.

Boas Apostas!