Tendo a Fase de Grupos do Campeonato da Europa chegado ao fim, segue-se uma fase de eliminatórias que não terá nem a Albânia nem a Turquia, os dois piores terceiros classificados que apanham o voo de regresso a casa por pior diferença de golos em relação aos restantes que fizeram 3 pontos, Portugal e Irlanda do Norte. Esta foi uma Fase de Grupos onde se pôde ver uma Croácia surpreendente a vencer a actual Campeã Europeia em título, Espanha, uma actual Campeã do Mundo a mostrar breves instantes de magia inconstante, e uma Islândia e República da Irlanda a qualificarem-se com golos tardios.
Croácia

Perisic marca o golo da vitória sobre a Espanha.
A característica mais notável para além de terem vencido a Espanha, é que mesmo sem Luka Modric esta selecção manteve-se uma potência a ser reconhecida. Os croatas não conseguiram um registo perfeito na Fase de Grupos graças ao bizarro empate por 2-2 contra a República Checa, perdendo a vantagem de 2-0 no marcador, ficando a culpa a ser tanto apontada aos fãs, devido aos incidentes ocorridos durante o jogo, como aos jogadores. Baseado naquilo que vimos até agora, os croatas são uma selecção que não deve ser subestimada, especialmente agora, que o seu percurso nas eliminatórias ficou, teoricamente, mais fácil por terminar acima da Campeão em título no Grupo D. Enquanto que Luka Modric e Ivan Rakitic são as estrelas da equipa, é Perisic que tem vindo a ser, indiscutivelmente, o melhor jogador da selecção. Defensivamente, são sólidos. Mario Mandzukic ainda poderá ter um grande impacto no ataque.
Alemanha
Na 1ª metade do jogo contra a Irlanda do Norte, a actual Campeã do Mundo em título pareceu excepcional, um desempenho penetrante repleto de lances de ataque complexos, embora viriam apenas a marcar um golo através de Mario Gómez. O avançado do Besiktas desperdiçou uma serie de boas ocasiões de golo e a segunda parte tornou-se um pouco mais confusa. Devemos esperar períodos mais prolongados de brilho, ou irão os alemães continuar inconstantes? Deve ser um pouco preocupante para o técnico Joachim Low que a sua equipa consiga apenas manter-se ao seu melhor nível durante alguns minutos de cada vez, e seria incompreensível para a Alemanha estar a dominar um jogo para depois o perder apenas por uma falta de concentração.
Itália
Não nos vamos deixar levar por aquilo que vimos no jogo entre a Itália, que entrou com uma equipa mais fraca, e a Irlanda do Norte. Apesar do treinador Antonio Conte dizer o contrário, os Azzurri mereceram perder, havendo ainda sinais óbvios de uma atitude de “deixar andar” por parte da equipa. Alguns jogadores-chave foram descansados nesta última jornada graças ao garantirem o lugar no topo do agrupamento de antemão. O embate com a Espanha promete ser o encontro mais escaldante dos oitavos de final, mas com as duas equipas a perderem o respectivo último encontro do agrupamento, os seus dois primeiros encontros podem parecer mais promissores, com a Itália a sofrer apenas 2 remates à sua baliza. Esta eliminatória será a reedição da final do Europeu de 2012.
Espanha

Irá Del Bosque apostar novamente em David de Gea, depois deste conceder 2 golos contra os croatas?
O que é que se pode tirar da derrota contra a Croácia? Se Sergio Ramos tivesse conseguido converter a grande penalidade na 2ª parte do jogo, as coisas teriam sido muito diferentes. Em vez disso, uma impenetrável Itália orientada por Antonio Conte está à espera nos oitavos de final e Andrés Iniesta, apagado do jogo contra os croatas, David Silva e companhia, precisam de ter a criatividade no seu auge para conseguirem avançar. A forma como David de Gea foi batido, dois golos marcados no seu poste mais próximo, no desfecho do Grupo C foi pouco normal, o que levantou algumas questões sobre se o furor fora de campo, que envolve a vida pessoal do guarda-redes, pode ou não estar a ter um impacto no seu rendimento.
França
A França falhou em vencer o único jogo que tiverão no torneio onde a pressão não era insuportavelmente intensa. Sem Dimitri Payet, a equipa aos comandos de Didier Deschamps parecia estar com falta daquela faísca no ataque, apesar de Paul Pogba ter sido mais convincente na primeira metade do encontro. A capacidade dos franceses em defenderem bolas paradas continua a ser uma preocupação, mas não tanto como a sua capacidade de corresponderem às esperanças da sua nação. Conseguirão canalizar a força de quando foram Campeões do Mundo em 1998, tornando um início de prova pouco convincente, numa máquina implacável nas eliminatórias?
Polónia
A Polónia parecia uma equipa inércia, que avançou pela Fase de Grupos sem ter demonstrado grande poder, e suspeita-se que se a finalização não lhes tivesse falhado contra a Alemanha, os pupilos de Adam Nawalka poderiam ter mesmo conseguido os 9 pontos e a liderança do Grupo C. A Alemanha mostrou-se ineficaz ofensivamente, o que deixou o sector defensivo polaco ainda por ser devidamente examinado. É seguro dizer que ainda há mais para mostrar e não há dúvidas, as Águias Brancas têm armas suficientes, salvo um colapso mental, para baterem a Suíça, e avançarem contra Portugal ou Croácia. Mesmo assim, ainda esperamos que Robert Lewandowski deixa a sua marca.
Bélgica
Ainda existem alguns problemas que o técnico Marc Wilmots precisa de resolver, mas os Diabos Vermelhos já mostraram sinais positivos contra a República da Irlanda, e a vitória de 1-0 sobre a Suécia veio justificar isso mesmo. Teimosa e difícil de bater como a Hungria tem vindo a ser, seria desastrosa se a Bélgica não conseguisse alcançar os quartos de final contra o País de Gales ou Irlanda do Norte. Importa destacar que os galeses somaram 4 pontos contra os belgas da fase de apuramento, vencendo 1 encontro e empatando o restante, o que deixa os quartos de final mais complicados do que aquilo que pode parecer.
País de Gales

A dupla galesa que tem espalhado magia pela Fase de Grupos deste Euro 2016.
O País de Gales alcançou pela primeira vez na sua história a Fase de Grupos de um Campeonato da Europa, e terem terminado esta etapa como lideres do Grupo B deve ter ido muito além dos maiores sonhos do povo galês, por isso, o que quer que aconteça daqui para a frente irá entrar para a história da selecção como um sucesso. O técnico Chris Coleman e os seus jogadores não deveriam, e não vão, contentar-se com isso, e o facto de terem terminado a Fase de Grupos acima da Inglaterra proporcionou-lhes um caminho apetitoso nesta fase de eliminatórias. Os Dragões não irão temer ninguém, e se os seus 3 grandes actuarem, Gareth Bale, Aaron Ramsey e Joe Allen, estes podem vencer qualquer um num jogo único. O desmantelamento da Rússia foi o ponto alto na carreira do técnico Chris Coleman.
Hungria
Zoltán Gera tem 37 anos, e é ele que ainda continua a puxar os cordelinhos na selecção húngara, que por sua vez conseguiu surpreendentemente sobreviver contra todos os adversários e terminar como líderes do Grupo F. Para uma equipa que se orgulha da sua solidez defensiva, conceder três golos contra Portugal tornou-se um factor preocupante antes de enfrentarem a Bélgica, contudo, lutaram até ao fim para conseguir o empate contra a equipa lusa.
Inglaterra
Como avaliar as suas hipóteses nesta fase de eliminatórias? Dominar os jogos é muito bom e bonito, mas é descaradamente evidente que uma equipa com 5 atacantes tem faltado uma vantagem clínica. O treinador Roy Hodgson disse “não estamos condenados” quatro vezes na sua conferência de imprensa após o empate contra a Eslováquia, mas a falta de um plano e estilo de jogo coerente permanecem uma preocupação indubitável. Talvez as coisas se comecem a endireitar quando enfrentarem equipas que precisam de atacar, ao contrário das equipas da Fase de Grupos, que pareciam felizes por recuarem e deixarem a Inglaterra terem a posse de bola.
Portugal

Portugal parte para as eliminatórias onde espera ter outra sorte.
Cristiano Ronaldo tem andado com fome de golos desde o início do Campeonato da Europa, apesar da grande penalidade falhada contra a Áustria. Só precisou de algum tempo até voltar a encontrar o seu toque finalizador, e com os dois golos marcados contra a Hungria, o capitão luso agora está novamente confiante, o que o torna uma ameaça constante aos adversários de Portugal. A Croácia, os seus oponentes para os oitavos de final, têm parecido mais unidos e, com base nos jogos da Fase de Grupos, são um conjunto superior. Mas uma equipa com o melhor jogador do Continente não pode ser descartada assim, embora outros tenham que se esforçar mais noutras posições do campo de modo a conseguirem ir além na prova.
Suíça
Tendo-se mostrado surpreendentemente teimosa contra a França, podendo mesmo chegar a ter ganho no fim do encontro, não fosse um desvio injusto na bola com a mão. Granit Xhaka destacou-se como o melhor jogador da selecção suíça, certamente o suficiente para animar os fãs do Arsenal, e enquanto Xherdan Shaqiri pouco deu nas vistas dentro de campo, esta turma aos comandos de Vladimir Petkovic poderá ser capaz de fazer a Polónia passar um mau bocado no sábado à tarde. Contudo, para avançarem mesmo na prova, irão precisar de um nível de finalização superior.
Islândia

A Islândia continua a fazer história no Campeonato da Europa.
Os islandeses sonharam, e realizaram-no. Corridos 93 minutos e meio de jogo, Arnor Ingvi produziu o maior momento deste Campeonato da Europa, e talvez da história do desporto do seu País, ao proporcionar ao técnico Lars Lagerback e à sua equipa um lugar nos oitavos de final contra a Inglaterra. Mais uma vez, partem como underdogs para o encontro com os ingleses, mas esse é um rótulo que os islandeses parecem apreciar. Tendo em conta a sua atitude de quem não tem nada a perder a juntar à falta de capacidade de finalização de Inglaterra, será mesmo sábio duvidar deles?
Eslováquia
Nos dois primeiros jogos da Fase de Grupos, a dupla de centrais de Martin Skrtel e Jan Durica pareceu um pouco problemática, mas estes mostraram uma firmeza recém-adquirida no jogo contra a Inglaterra, impedindo os ingleses de marcarem um único golo, qualificando-se assim como um dos melhores terceiros classificados. Marek Hamsik, obviamente, tem a capacidade de acender qualquer jogo, não importa o quão importante, mas esta continua a ser uma equipa com demasiados “passageiros”, e seria uma grande surpresa ver a Eslováquia conseguir chegar aos quartos de final.
República da Irlanda
A República da Irlanda levou 14 anos até conseguir voltar a vencer um jogo numa grande competição internacional, tendo a última vez sido no Mundial de 2002 contra a Arábia Saudita, e que maneira de quebrarem este jejum. O cabeceamento, perto do final do jogo, de Robert Brady contra a Itália proporcionou à turma de Martin O’Neill a qualificação aos oitavos de final como 3º classificado. Os jogadores irlandeses festejaram em Lille como se tivessem vencido a competição e chegaram mesmo a ser vistos a desfrutar de pizza e cerveja. Em circunstâncias normais, a França não deveria ter grandes problemas contra uma equipa trabalhadora mas tecnicamente limitada, contudo, a sua atitude perseverante poderá proporcionar um obstáculo aos franceses.
Irlanda do Norte
Semelhante ao País de Gales, em atingir os oitavos de final que equivale a enorme sucesso, mas completamente diferente em que esta é uma selecção sem nenhum jogador estrela. O par do West Bromwich de Gareth McAuley e Jonny Evans tem sido excepcional no sector defensivo. O guarda-redes Michael McGovern desempenhou o jogo da sua vida ao limitar o marcador da poderosa Alemanha a apenas 1 golo, tendo tido surpreendentemente mais toques e feito mais passes que qualquer outro jogador de campo da sua equipa. Um desempenho semelhante é mais que preciso para avançarem até aos quartos de final. Contudo, o mais provável é irem para casa no fim de semana.
Depois de uma Fase de Grupos com muitas surpresas, estas são as 16 equipas que se qualificaram aos oitavos de final deste Campeonato da Europa. As surpresas prometem não ficar por aqui e poderemos desfrutar de um emocionante encontro entre a Croácia e Portugal logo no dia 25, uma Alemanha contra Eslováquia no dia 26, e uma Itália contra Espanha no dia 27, naquela que será uma reedição da final do Euro 2012.
Boas Apostas!