Será do clima, da água? Que estranho fenómeno concentrado na parte vermelha de Manchester estará na origem da absurda vaga de lesões que afeta o plantel do United? Desde que Louis van Gaal chegou ao clube foram trinta e nove os jogadores a integrar o departamento médico, com lesões de maior ou menor alcance. Como bom holandês, o treinador do United não deve ter grande inclinação para as superstições mas, pelo sim pelo não, devia benzer o balneário. Mal não fazia.

Eles caem como tordos

Desde o ano passado que a designação de Red Devils parece deslocada ao Manchester United. Acabou o tabu e não inspiram terror a ninguém. E nesta temporada estão a mostrar toda a sua vulnerabilidade. A que devemos atribuir a devastadora vaga de lesões que alastra pelo plantel dos Diabos Vermelhos? À preparação física, ao sistema de treino, ao nível de exigência? À propensão natural de alguns jogadores para acumular mazelas? À incapacidade do departamento médico do clube? À falta de confiança, a um certo desespero para mostrar empenho e serviço? Todas as anteriores, possivelmente, porque só uma dessas razões não poderia originar trinta e nove – sim, praticamente quatro dezenas – de jogadores lesionados numa temporada que ainda nem sequer cumpriu o primeiro terço. A sorte é que Van Gaal é um homem experiente, que já passou por muita coisa. Muitos outros, na sua situação já tinham desesperado, talvez até desistido. Mas não o holandês que já teve que alinhar trinta e um elementos diferentes, entre jogos da Liga e Taça de Inglaterra. Há muito que não se via tamanho recurso à equipa de reservas que, diga-se de passagem, tem correspondido e até ultrapassado as expetativas. Tyler Blanckett e Paddy McNair, apesar da tenra idade e inexperiência a este nível, entraram na equipa como homenzinhos.

Não há condições

É impossível construir uma equipa base nestas circunstâncias, impossível exigir notar um crescendo de familiaridade com o modelo de jogo, de fluidez de processos. Ou quase, porque apesar de todas estas contrariedades vai-se notando uma transformação na equipa do United. O futebol é mais ofensivo, enche mais o olho, aproxima-se um bocadinho mais à imagem que os Red Devils têm de si próprios – jogadores, dirigentes e adeptos incluídos. E só  isso pode explicar a paciência das bancadas.

Em vésperas de viajar até Londres para defrontar o Arsenal, a equipa tem pelos menos doze jogadores entregues ao departamento médico e esta recente interrupção para compromissos de seleções só veio piorar o cenário. Um jornal inglês brincava, há dias, escalando um onze de indisponíveis. Apesar do tom de sarcasmo é verdadeiro: há de tudo, desde guarda-redes ao avançado, nestas condições em Old Trafford. Já se sabia que o setor mais afetado era a defesa. Eu sei que o sistema de Van Gaal pressupõe uma adaptação a defender com menos homens mas de certeza que não era isto que ele tinha em mente.

Lesões para todos os gostos

Rafael tem um problema muscular, já não joga desde o confronto com o Chelsea. Jesse Lingard lesionou o joelho, Ashley Young a virilha, Jonny Evans o pé e Phil Jones os gémeos. Marcos Rojo deslocou o ombro. Falcao continua condicionado com problemas na barriga da perna. Este era o cenário antes dos jogadores partirem para representar os respetivos países. Se alguém fez figas, não resultou. Num treino da seleção espanhola, David de Gea deslocou um dedo na mão direita. Michael Carrick, que regressou há tão pouco tempo aos relvados, é dispensado por Roy Hodgson com uma lesão na zona abdominal. Luke Shaw sentiu dor nos músculos posteriores da coxa, ainda na primeira parte do jogo amigável contra a Escócia, mas acho por bem manter-se em campo mais quinze minutos, correndo o risco de agravar o problema. Van Gaal deve estar radiante com esta. Angel di Maria sofreu uma falta dura de Nani, no particular contra Portugal mas também continuou a jogar. Os raios-x tirados no final parecem indicar que não há fratura e o argentino espera poder alinhar nos Emirates, se o inchaço e a dor diminuírem.

O golpe de misericórdia

Deixei, propositadamente para o fim, o maior golpe. Daley Blind, o jogador âncora do onze do United na era Van Gaal, sofreu lesão nos ligamentos do joelho esquerdo. De início fala-se em seis semanas mas o jogador voltará a ser avaliado dentro de dez dias. O holandês que o técnico trouxe consigo para Manchester tem sido uma das peças mais decisivas. Pode não ter a visão de jogo nem a capacidade de passe de Paul Scholes mas Blind trouxe estabilidade defensiva à equipa. Não só acalma o setor quando a bola chega aos seus pés como ainda providencia ao treinador uma versatilidade preciosa em momentos de escassez de recursos.

É bem possível que alguns destes elementos sejam recuperáveis para o duelo com o Arsenal mas mesmo esses estarão longe da sua melhor condição física. A quarenta e oito horas do apito inicial continua a ser uma lotaria tentar alinhavar um onze inicial para os Red Devils. Até para o seu treinador.

Boas Apostas!