A Primeira Liga regressa à atividade esta sexta-feira, num campeonato que, fora dos relvados, surge fortemente marcado por várias crises. A financeira e política têm afetado a própria Liga, que começará, este ano, sem nome de patrocinador. Nas contratações da generalidade dos clubes também se sente essa falta de competitividade com emblemas estrangeiros. Mas, no relvado, a paixão acabará por tomar conta de todas as atenções, com três candidatos assumidos à conquista do título.
Os três grandes
O Benfica sossegou os seus adeptos com a exibição na Supertaça, momento em que recorreu a todos os titulares que restam do ano passado para, praticamente, retomar atividade onde a tinha deixado. A dúvida é saber se Enzo Pérez se mantém, provavelmente a figura mais difícil de substituir no esquema encarnado. De resto, a manutenção de Jorge Jesus poderá acabar mesmo por ser uma vantagem frente à concorrência. O técnico das águias sabe bem como quer chegar a um novo título, resta que não lhe faltem armas para isso.
Em questão de reforços, o FC Porto ganhou o mercado. As apostas feitas em Espanha, a começar pelo treinador e a tocar todos os setores da equipa, elevam a exigência de uma massa adepta que não está habituada a perder duas vezes. Julen Lopetegui parece lidar muito bem com a pressão, tendo recebido a renovação de Jackson Martínez como uma benção. Todo o reforço da equipa só faz sentido com a manutenção do colombiano na zona do golo. Ele será garantia de muitos.
O Sporting chega a dias do início da Liga em situação periclitante. Marcos Rojo e Slimani desejam sair para outros campeonatos e ainda haverá a possibilidade de William Carvalho os acompanhar. De uma assentada, poderá ser a espinha-dorsal da equipa do ano passado a sair de Alvalade. Marco Silva fica assim com o seu presente envenenado. O técnico até tem mostrado ser capaz de fazer evoluir a arrumação tática da sua equipa, mas sem reforços à altura, a luta pelo título será bem mais complicada.
Quanto vale a classe média?
Com o SC Braga a voltar a uma era de investimento, tendo agora Sérgio Conceição sentado no banco, a alimentar de energia o seu futebol, será de esperar que os minhotos regressem à luta pelos lugares europeus de uma forma efetiva. Irão encontrar o Nacional da Madeira como equipa que tem vindo, com consciência e sem alaridos, a assegurar a sua presença nesses territórios. Manuel Machado é um técnico que não conquista favores com o seu discurso, mas que monta equipas com qualidade.
O Estoril Praia viveu mais um verão de saídas e experimentará uma terceira vida. Tem sido o emblema com maior capacidade de se reinventar, perdendo sempre muitas peças no mercado, para apresentar novas apostas no início do campeonato. José Couceiro regressa a um lugar onde, tendo o apoio de um plantel equilibrado, sabe que pode alcançar resultados. A presença na Liga Europa será uma pressão extra para uma equipa à procura de nova identidade.
O regresso ao mundo real
Não é muito habitual que um treinador que passe por um grande regresse ao meio da tabela da Primeira Liga. Paulo Fonseca fê-lo em tempo recorde. Volta ao Paços de Ferreira depois de uma experiência falhada no Estádio do Dragão e experimentará todas as dificuldades que teve que ultrapassar há tão pouco tempo. A sua personalidade garante-lhe uma certa naturalidade para enfrentar um desafio que não se adivinha fácil.
Paulo Sérgio e Domingos Paciência percorrem o mesmo trilho, ainda que ambos já tenham trabalhado pelo estrangeiro, entretanto. Com Paulo Sérgio, a Académica espera voltar a estar num lugar condizente com o seu orçamento, algo que os homens de Coimbra parecem condenados a não conseguir. Já Domingos Paciência terá como missão alimentar um Vitória de Setúbal jovem e ambicioso.
O outro Vitória, de Guimarães, mantém-se fiel à sua aposta nos jovens da equipa B e Rui Vitória veste a pele do equilibrista que tenta satisfazer uma massa adepta exigente com uma equipa de jovens com tudo a provar. Na Madeira, o Marítimo experimenta Leonel Pontes para se alavancar para a primeira metade da tabela, enquanto o “europeu” Rio Ave terá em Pedro Martins o realismo suficiente para saber lidar com uma época que dificilmente se medirá com a do ano passado.
Dizer 18 com o Boavista
É um regresso saudado, o do Boavista, à Primeira Liga. A justiça assim decidiu e veremos como a Pantera reage a uma subida do Campeonato Nacional de Seniores para o convívio dos grandes. Petit conhece bem a realidade que a sua equipa vai pisar, mas fará a sua estreia a este nível como treinador. Com um plantel cheio de pontos de interrogação, o Bessa sonha alto, já que marcará o seu regresso com uma partida frente ao Benfica, na segunda jornada. Aguentar o campeonato inteiro será história diferente.
Também regressam Moreirense e Penafiel, dois emblemas que têm andado pelo sobe e desce, sempre com políticas realistas e de controlo financeiro. Sem loucuras, deverão estar com Arouca, Belenenses, Boavista e Gil Vicente numa luta para se escapar os últimos lugares da tabela. Ainda que em todas as Ligas existam surpresas, equipas que se superam e outras que não conseguem comprovar o valor que apresentam no papel, trinta e quatro jornadas costumam ser o suficiente para que conquistas e descidas de divisão tenham a sua justiça bem marcada. Que comece a bola a rolar!