O regresso. Assim, como se fosse a continuação de algum blockbuster hollywoodiano.

Para não levar ao engano, diga-se que não é nenhuma sequela cinematográfica. Estamos no domínio do futebol. Quem aqui regressa, é um histórico que, de tão arredado, quase que desapareceu.

Mas sejamos ainda mais concretos. A equipa em causa, não regressou a nenhum grande patamar de convívio com os grandes como o fez outrora. Nem derrotu nenhuma outra grande equipa nacional nalgum nefasto encontro.

Bom, na verdade, está a falar-se do histórico Clube Oriental de Lisboa, cujo passado contempla estadia na Primeira Divisão, e que agora, e de há vários anos a esta parte, frequenta as mais sombrias divisões secundárias, mas que neste último fim-de-semana, em confronto com um primo-divisionário Vitória de Setúbal, em eliminatória da Taça de Portugal, a festa do povo, fez taça e eliminou os setubalenses da Primeira Liga, agigantando-se e olhando para o seu passado com um misto de orgulho e inveja.

Hoje, e depois deste jogo que o Oriental ganhou por 1 a 0, o COL voltou a somar dias de glória, que já não se julgavam possíveis e, por isso, merecem referência a uma história que também já foi gorda.

O Nascimento de um Histórico

O Clube Oriental de Lisboa, nasceu, como o próprio nome indica, na zona oriental da cidade de Lisboa, mais concretamente, no bairro de Marvila.

Nasceu no final da Segunda Guerra, em 1946. O Oriental, como é conhecido, não é um clube idoso, nem vintage, no entanto, já ostenta alguns pergaminhos que o tornam um clube histórico, e um dos principais emblemas da capital: durante 7 anos andou pela Primeira Divisão e, na temporada de 1950/51, o Oriental conseguiu um 5º lugar na tabela classificativa, a sua melhor classificação de sempre.

COL

Mais que um clube… Uma paixão. Isto é o Clube Oriental de Lisboa

O Oriental, no entanto, era uma ideia que já germinava na cabeça de vários dirigentes há, pelo menos, uma década antes da formalização do clube. Naquela zona da cidade existiam, então, 3 agremiações que se debatiam, acerrimamente, umas contra as outras.

O Chelas Futebol Clube, o Marvilense Futebol Clube e o Grupo Desportivo “Os Fósforos” eram os clubes dessa zona da cidade e consentiram em juntar as mãos e formarem, naquela zona, uma potência capaz de ombrear com as de outras potências de outras zonas da capital.

Foi assim, na mistura destes 3 emblemas (que na verdade contribuíram para a criação do emblema do COL com elementos dos seus próprios emblemas), que o Clube Oriental de Lisboa nasceu, e jogou o seu primeiro jogo contra os campeões nacionais em título, o Belenenses, e com o qual perdeu por 2 a 1, mas, jogo esse que ficou para a história por o grenat do equipamento do Oriental ostentar nas costas dos jogadores, um número, coisa nunca vista por cá, mas que a partir de então passou a ser obrigatório.

Obrigatório passou a ser, também, o campo Engenheiro Carlos Salema que, entre modificações, transformações, desejos de erguer outros e mais faustosos estádios ali para os lados da Madre de Deus, lá acabou o Oriental por se ir sempre adaptando ao campo nascido das cinzas dos campos do Marvilense e de Os Fósforos, mesmo quando teve de ser aumentado, deslocado, e quando recebeu as novas e fantásticas bancadas de última geração, protegidas por uma pála de encher a vista. O Oriental era um orgulho.

O Clube Oriental de Lisboa chegou à Primeira Divisão pouco tempo depois de ter nascido.

Na altura havia uns jogos de acesso, disputados entre os vencedores das diferentes zonas da Segunda Divisão, chamada de liguilla, e desses jogos saía a equipa que iria subir à Primeira Divisão. nessa época, de 1949/50, o vencedor dessa liguilla foi o Boavista, que assim , subiu directamente à Primeira Divisão. Ao Oriental, que tinha ficado em segundo lugar nessa liguilla, foi dada a oportunidade de defrontar o penúltimo classificado da Primeira Divisão, e o vencedor desse jogo iria frequentar a Primeira Divisão na época seguinte, que na altura fora o CAD O Elvas. O Oriental fez o que lhe competia e ganhou o jogo, garantindo o acesso à Primeira Divisão, 4 anos após o nascimento. E nessa primeira época, a glória: o 5º lugar na classificação, atrás de Sporting CP, FC Porto, SL Benfica e Belenenses, as principais equipas da altura.

Oriental 1 - 0 Vitória Setúbal

A vitória por 1 a 0 ao Vitória de Setúbal e o continuar em frente na Taça de Portugal é, para já, um pequeno regresso à glória do Oriental

Mas foi sol de pouca dura, porque no ano seguinte o Oriental ficou em penúltimo lugar e teve de disputar o jogo final com, vejam lá só, o CAD O Elvas. E desta vez foi a equipa alentejana a ganhar o jogo e a garantir a participação na Primeira Divisão.

A partir desta época, o Clube Oriental de Lisboa passou a viver um carrossel de sobe-e-desce entre a Primeira Divisão e a Segunda.

A última vez que o COL visitou a Primeira Divisão foi na bastante estranha época de 1973/74. Por lá ficou na época seguinte e, em 19775/76, lá voltou, de novo, a descer de divisão e, desta vez, de vez. Nunca mais o Oriental conseguiu voltar ao convívio com os grandes.

E depois deste último período de glória, o Oriental entrou em sucessivas crises financeiras que se transformaram em crises desportivas e acabou por descer à Terceira Divisão.

Agora, em 2014, o Clube Oriental de Lisboa teve o seu pequeno momento de regresso às velhas glórias de antigamente, ao derrotar o Vitória de Setúbal na Taça de Portugal e a garantir a passagem aos oitavos-de-final. Que seja bem-vindo, Oriental.

Boas Apostas!