O alarme soou nos últimos dias de março, na sequência de uma reunião realizada em Coimbra, na qual marcaram presença os árbitros que dirigem o principal escalão.
O alegado incumprimento da Liga relativamente ao pagamento da publicidade que os árbitros exibem nas respetivas camisolas despoletou uma reação dos juízes, que se prontificaram a alinhavar estratégias caso a situação permaneça inalterada. Um pedido de dispensa às últimas jornadas foi o (radical) método de protesto proposto caso não se chegasse a um acordo sendo que, até agora, não houve lugar a entendimento.
No decorrer da presente semana, os árbitros da principal categoria formalizaram o pedido e apresentaram-no à Federação Portuguesa de Futebol. Em causa encontra-se, claro está, o incumprimento no pagamento de uma verba que é atribuída aos árbitros das competições profissionais – Liga NOS e 2ª Liga. O valor em causa, além de variar consoante a categoria para a qual o árbitro se encontra designado, depende também do número de anos no ativo. Esta situação coloca em causa, inclusive, a realização do importante clássico da 30ª jornada entre Sport Lisboa e Benfica e Futebol Clube do Porto, marcado para o fim-de-semana de 25 e 26 de Abril.
Esta não é, de resto, a primeira vez que um clássico fica em risco devido a ameaça de entidades ligadas à arbitragem. Em Abril de 2013, na sequência dos graves incidentes na deslocação do Braga B a Guimarães, os árbitros pediram escusa ao Conselho de Arbitragem caso o policiamento nos estádios não fosse assegurado. Agora, uma vez mais, os árbitros unem-se para reclamar algo que consideram seu por direito.
Os Direitos Publicitários
De há uns anos até há bem pouco tempo, era recorrente vermos árbitros com o patrocínio da imobiliária ERA nas camisolas que, segundo Pedro Henriques (ex-árbitro), atribuía diretamente o montante aos árbitros.
Agora, com a recente entrada da NOS enquanto principal sponsor da Primeira Liga, os árbitros consideram naturalmente que a publicidade que ostentam deve ser devidamente paga. Aparentemente, embora a NOS esteja presentes nos equipamentos das equipas de arbitragem, a empresa alega que não deve qualquer valor aos árbitros uma vez que é a patrocinadora oficial da Liga e, como tal, a distribuição do dinheiro dos valores reclamados compete à Liga de Clubes. Nesta linha de pensamento, os árbitros atribuem ao órgão responsável pela prova o dever de suprir a dívida em causa. A bola está, por isso, do lado de Luís Duque.

O árbitro é parte integrante e fundamental de uma partida de futebol sendo, por isso, importante chegar-se a um acordo entre as partes
Juntamente com Vitor Pereira, presidente do Conselho de Arbitragem, e Fontelas Gomes, presidente da APAF, Luís Duque procurará solucionar a questão de modo a evitar que o boicote seja efetivado.
De salientar que Olegário Benquerença é o único elemento que não se associou ao movimento.
Perante um hipotético boicote, a imprensa fala em duas potenciais soluções para contornar a situação e impedir que o campeonato seja parado numa fase crucial: recorrer aos serviços de árbitros amadores, – à imagem do que aconteceu com Fernando Idalécio Martins, que apitou o Beira-Mar x Sporting, em 2011, após João Ferreira ter pedido dispensa – ou destacar árbitros estrangeiros.
Em suma, estima-se que os árbitros estejam a reclamar, ao todo, uma verba a rondar os 350 mil euros. Para já, não há reação oficial da Liga de Clubes nem sinais públicos de abertura a uma negociação que se impõe. Na mais recente abordagem ao caso, Emídio Guerreiro, Secretário de Estado do Desporto e Juventude demarcou o Governo da situação e remeteu responsabilidades para o órgão presidido por Luís Duque: “Acredito que o futebol resolva os seus problemas, como fez, por exemplo, na questão da Liga. Acredito que os clubes e os dirigentes da Liga consigam resolver esses problemas. Tenho muita confiança nisso. O Governo não vai interferir. Limitamo-nos a fiscalizar”.
Em declaração à Rádio Renascença, Vitor Pereira também remeteu responsabilidades para a mesma entidade: “A questão não é com os responsáveis da arbitragem. A questão é em concreto com a Liga e desde há algum tempo que tem estado a ser discutida”.
Aguarda-se, portanto, que haja fumo branco e se encontre uma solução que, enfim, não prejudique ou condicione a calendarização do futebol português numa fase em que as decisões se aproximam a passos largos.
Boas Apostas!