Muitas são as diferenças entre Chelsea e Atlético de Madrid. Imediatamente viria à baila os muitos milhões de Abramovich e o estatuto do Happy One, em oposição à condição de campeão do povo e homem da casa, na frente colchonera. Mas é muito mais o que os une do que aquilo que os separa. Ambos os clubes estão ainda na luta pelos dois troféus mais apetecíveis da época – os campeonatos nacionais e a Liga dos Campeões –, competições para as quais tanto Chelsea como Atlético não partiram como favoritos. Um e outro são tutelados por treinadores extraordinários, cada um ao seu estilo, que dão um cunho muito pessoal aos grupos que orientam. Mercê da fase adiantada da época, e de estarem várias frentes de batalha, os dois planteis estão no limite do desgastes. Por fim, até à segunda mão Mourinho e Simeone ainda podem ganhar tudo. Mas na quarta-feira, um dos dois vai perder. O que neste momento pode ter consequências trágicas.

Génio ou cínico? Os dois

No último fim de semana, José Mourinho teve mais um dos seus momentos “Special One”. Depois de ameaçar alinhar um equipa de reservas, numa visita a Anfield que pode decidir o título inglês, o técnico português baralhou tudo e acabou por sair de Liverpool com um surpreendente e precioso 2-0. Como em tudo o que respeita a Mourinho, as reações estremam-se. Para uns foi um golpe de génio, para outros, como Brendan Rodgers, “estacionar dois autocarros em frente da baliza” pode ser eficaz mas não é forma de dignificar o futebol. Sei que José Mourinho não é “mister simpatia”, que se põe muito a jeito com as atitudes e comentários que faz, ou se ama ou se odeia. Mas escapa-me o princípio lógico de desprezar a capacidade defensiva. É uma componente do jogo e, ao contrário da opinião generalizada, é uma coisa espantosa de ver quando bem executada. No caso do Chelsea, o melhor ataque – até pela falta de avançados à altura – é mesmo a defesa. E não é qualquer equipa que o consegue, é preciso grande determinação, disciplina e sangue frio para recuar, cerrar fileiras, sentir a pressão e não sair da posição. Mais impressionante ainda quando se altera o alinhamento dos quatro defesas, privada dos seus dois patrões, Cech e Terry.

Sem euforismos, até à vitória final

Diego Costa

Diego Costa, génio à solta

Por sua vez, El Cholo está a duas vitórias de conquistar Espanha. E está a fazê-lo, muito à custa desse mesmo trunfo, a solidez defensiva. Mesmo tendo na frente um homem como Diego Costa, Simeone não acredita em complacências e a sua equipa defende a campo inteiro. Em Valência, o Atlético impôs-se com um golo de cabeça de Raúl Garcia, e, se conseguir bater o Levante e o Málaga, vai quebrar o rotativismo dos suspeitos do costume, Real e Barça. Pela Europa fora sucedem-se os elogios aos homens de Simeone mas os jogos do Atlético de Madrid não são sempre espetaculares. Um campeão tem que saber ganhar feio e El Cholo aprendeu essa lição. Mas ninguém pode acusar os Colchoneros de falta de entrega e intensidade, do primeiro ao derradeiro minuto. O argentino sabe retirar o melhor dos seus jogadores, basta ver o que Tiago tem feito esta época. Ou como transformou Diego Costa num dos avançados mais cobiçados do mercado.

Crença e superação

Perseguir dois objetivos tão exigentes, como os títulos de Inglaterra e Espanha e ainda a taça dos campeões europeus, tem um risco evidente, o da manta ser curta para tapar tudo. Mas a dinâmica de vitória é uma força tremenda e nessas circunstâncias os jogadores descobrem forças que nem sabiam existir. Costa, Cech ou Terry sofrem lesões dramáticas? Não há problema, fazem trabalho extra para recuperar em tempo recorde. Gabi, Lampard e Obi Mikel vêem-se afastados, por castigo, das partidas decisivas? O grupo une-se ainda mais e quem entra a substituir vai em espírito de missão. Estes são homens que acreditam em quem os lidera, reconhecem em Diego Simeone e José Mourinha a capacidade para os orientar até à vitória. Estamos no intervalo e para ambos o sonho ainda está intacto. Mas só até ao final da noite de quarta. Aí um deles começa a perder.

Boas Apostas!