As contratações do Chelsea e Stoke City, tornadas públicas nestes últimos dias, resumem o pior do mercado de transferências no mundo do futebol. Os Blues, que precisavam de limpar o balneário e começar do zero mas não podem, trataram de assegurar o empréstimo de Alexandre Pato. Como se isso fosse fazer algum tipo de diferença. Já os Potters estão dispostos a perder a cabeça por Giannelli Imbula. Os méritos do francês podem até ser consideráveis. Mas alguém me explica como é que um jogador que não se conseguiu impor no FC Porto se valoriza ao ponto de poder vir a render vinte e quatro milhões de euros?

ImbulaEu nisto estou com Gary Neville: acabem com o mercado de janeiro, só serve para criar ruído. Nunca se fez uma grande contratação no mercado de inverno. Um clube que se preze, bem estruturado, planeia as suas contratações e negoceia no período alargado do defeso, sem a distração da competição. Esta dita janela de oportunidade só serve para quem está desesperado. Querem um salvador, bom e barato? Querem uma saída airosa para uma péssima aquisição? Não temos. Mas arranja-se qualquer coisinha. As transferências de Alexandre Pato e Giannelli Imbula concentram em si tudo o que há de errado no mercado.

Chelsea vai pagar o Pato

O Chelsea não resistiu à tentação de ir ao mercado de inverno. O que o clube de Abramovich precisa é de uma limpeza exaustiva de balneário. Já se falava disso antes de José Mourinho regressar a Stamford Bridge e a presente temporada só veio sublinhar a ideia de que há algo podre no reino de Abramovich. Na impossibilidade de se verem livres de quase todo o plantel, os Blues resolveram aliviar a carga com a saída de Ramires para a China. John Terry toma a iniciativa de anunciar que se vai porque não lhe foi proposto um novo contrato. Todos os dias saem short-lists dos putativos candidatos a treinador do clube londrino. E alguém decide: grande ideia era ir buscar o Alexandre Pato, que andou a ser oferecido a tudo o que é clube europeu! Para (não) fazer o que Diego Costa e Loic Rémy (não) conseguem fazer já está o Chelsea bem servido.

É um nome que apaixone os adeptos, que faça sonhar? É do tipo inspirador, desequilibrador, que possa contagiar o grupo? Não e não. Mas é preciso passar a mensagem para a bancada de que se está a fazer alguma coisa. E depois, convenhamos, qual é o jogador com estatuto que quer assinar pelos Blues, a esta altura do campeonato? Um grande nome dirá: limpem a casa, resolvam os vossos assuntos e depois liguem-me, lá para o verão.

Porque Pato não é um desconhecido. Na altura própria ele debutou na Europa. Veio para o AC Milan com toda a pompa mas depressa passou o fogacho.

O Ferrari na garagem valoriza?

Giannelli Imbula foi a contratação mais cara de sempre do futebol português. Chegou, supostamente, por vinte milhões de euros. Pinto da Costa disse há dias que Lopetegui lhe garantiu que tinha ali um Ferrari. Para se meter numa transação desta envergadura, em tempo de vacas esquálidas, o FC Porto contou com um colaboraçãozinha da Doyen. Sim aquele fundo que segundo Bruno de Carvalho é o demónio. Ou porque não soubesse o que fazer com ele, ou porque quisesse fazer dele o que não era, certo é que o ex-treinador basco fez uma utilização reduzida do médio francês. Nunca se conseguiu impor no onze inicial e foi muitas vezes suplente.

Independentemente dos grandes méritos que possa ter, e é certo que vinha bem recomendado, custa a entender que o Stoke está disposto a dar vinte e quatro milhões de euros para assegurar os seus serviços. Um jogador cujo valor de mercado, segundo o transfermarkt, não vai além dos dezasseis. E nem sequer me vou debruçar sobre a habitual discrepância de valores – dezoito ou potencialmente vinte e quatro milhões, dependendo a prestação do jogador – e como isso é essencial para que o Porto possa salvar a face de uma aposta que fracassou.