O CAN não é o Europeu.

Mas o CAN tem o dom de pôr o continente europeu em polvorosa.

Pode até nem ligar-se muito à Taça das Nações Africanas. Pode nem ver-se os jogos. Pode nem saber-se os resultados. Mas concerteza toda a gente sabe das faltas que fazem todos aqueles craques africanos que não podem mostrar toda a sua mestria nos estádio europeus porque estão perdidos em África, a defender as suas selecções em jogos a que a Europa, em geral, não liga.

A não ser que haja um brilharete de algum jogador mais conhecido de um dos clubes de maior esplendor. Ou alguma afinidade histórica ou cultural.

Aos portugueses interessou o trajecto de Cabo Verde, ainda por cima treinado por Rui Águas, antigo jogador do SL Benfica e do FC Porto e da Selecção de Portugal, pelo menos enquanto durou a esperança de seguir em frente. Aos portugueses, pelo menos aos sportinguistas e portistas, também interessou o trajecto da Selecção da Argélia, por onde andaram Islam Slimani e Yacine Brahimi, e se por um lado gostariam que voltassem o mais tarde possível, até mesmo com a Taça no bucho, por outro lado esperavam que chegassem o mais depressa possível pela falta que as suas prestações fazem aos seus clubes.

Mas aos portugueses nunca interessou o trajecto da Guiné Equatorial, nova amizade descoberta através da CPLP. Bem, talvez um bocadinho por via de Balboa que passou pelo SL Benfica e está, actualmente, no Estoril-Praia.

E Quem Manda Nisto É a Guiné Equatorial

Poderia ser o título de uma investigação jornalistica sobre a entrada do país na CPLP e das origens em comum que, definitivamente, não temos. Ou ainda sobre o poder da Guiné Equatorial na África dictatorial onde Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, e a sua família, dão cartas. E dinheiro. O PIB da Guiné Equatorial é dos maiores de África. Mas este é um dos países mais pobres de África. Contra-senso? Não, é África.

Guiné Equatorial 2 - 1 Tunísia 2015

Nos quartos-de-final, a Guiné Equatorial venceu, por 2 a 1, a Tunísia, no jogo mais contestado do torneio

Depois da desistência de Marrocos da organização do 30º CAN por causa do surto de Ébola que evoluiu pela região, a Guiné Equatorial chegou-se à frente como única opção viável para organizar o torneio: tinha estádios e dinheiro e ordem.

E lá começou o CAN 2015.

No Grupo A passaram à fase seguinte, o Congo e a Guiné Equatorial, este não sendo reconhecido por ser uma grande potência do futebol, mas num grupo fraquinho, onde as outras selecções eram o Burkina Faso e o Gabão, a Guiné Equatorial a jogar em casa, passou em segundo lugar do grupo, com 2 empates e uma vitória.

No Grupo B passaram Tunísia e República Democrática do Congo, deixando para trás os tubarões de Cabo Verde e Zâmbia. Cabo Verde ficou com os mesmos pontos, 3, que a República Democrática do Congo, ambos sem vitórias nem derrotas, ambos com 3 empates, mas a RD Congo ficou em segundo lugar por ter marcado mais 1 golo que Cabo Verde, se bem que também tenha sofrido mais 1 golo, ficando a RD Congo com 2 – 2, e Cabo Verder com 1 – 1. E assim ficaram os pupilos de Rui Águas pelo caminho.

No Grupo C passaram o Gana e a Argélia, deixando para trás as selecções do Senegal e da África do Sul.

No Grupo D seguiram em frente a Costa do Marfim e a Guiné-Conacri, sobrepondo-se, surpreendentemente, ao Mali e aos Camarões. No entanto, tal como Cabo Verde foi ultrapassado nos limites pela RD Congo, aqui também o Mali foi ultrapassado nos limites pela Guiné-Conacri, ambas sem derrotas nem vitórias, ambas com 3 empates e ambas com 3 golos marcados e 3 golos sofridos.

Depois vieram os quartos-de-final e encontraram-se os dois Congos, tendo a RD Congo levado a melhor ganhando por 4 a 2. O Gana derrotou com alguma facilidade a Guiné-Conacri por 3 a 0. E a Costa do Marfim fez o mesmo com a Argélia de Slimani e Brahimi, ganhando por 3 a 1. No último jogo, a Guiné Equatorial, a jogar em casa, ganhou à Tunísia por 2 a 1, no prolongamento, com o golo do empate guineense já marcado fora da hora, e com o jogo a ser muito contestado pelo adversário e a levantar muitas dúvidas. Mas quem manda lá em casa é a Guiné Equatorial, membro de pleno direito da CPLP, país que, supostamente, até tem o português como uma das línguas oficiais.

No Fim Ganha CAN Tem Marfim

Nas meias-finais a Costa do Marfim superiorizou-se à RD Congo e ganhou por 3 a 1. Por seu lado, a Guiné Equatorial foi derrotada pelo Gana por 3 a 0,  nem o factor casa nem outras valências os salvaram.

Costa do Marfim 0 - 0 Gana 2015

Reeditando a final de 1992, a Costa do Marfim defrontou e derrotou, na final, o Gana, e sagrou-se vencedor do CAN 2015

No jogo para apurar o terceiro e quarto lugar, a Guiné Equatorial manteve a sua especial apetência para continuar a perder, que foi o que aconteceu frente à RD Congo que ganhou por 4 a 2, mas só na marcação de grandes penalidades.

Na final voltaram a cruzar-se duas grandes selecções africanas: a Costa do Marfim e o Gana. E a sorte, trabalhosa, pode dizer-se, acabou por sorrir à Costa do Marfim que, após o 0 a 0 ao longo do tempo regulamentar, conseguiu superar-se na marcação de grandes penalidades, ganhando por 9 a 8 ao Gana. Foi uma final muito equilibrada e renhida.

Na equipa campeã, misto de veterania e juventude, cruzaram-se os irmão Touré, Kolo e Yaya, Kalou e Gervinho ou Wilfried Bony. Neste regresso da Costa do Marfim às grandes vitórias, tinha ganho o último CAN em 1992, faltou o seu símbolo maior, Didier Drogba, mas que esteve ausente por já ter renunciado à selecção após o Mundial de 2014, no Brasil.

Depois de ter passado uma década a quase conseguir chegar lá, sendo finalista vencido e semifinalista, os pupilos de Hervé Renard, que já tinha ganho o CAN em 2012, com a Zâmbia, lá conseguiram levantar o troféu e carimbar uma geração que está, agora, a dar os últimos passos de uma caminhada que foi mágica. E a Europa, os clubes europeus, podem-no testemunhar.

E agora que o CAN acabou, e que a Costa do Marfim ganhou a edição de 2014, que retornem os craques aos seus clubes que bem falta têm feito.

Boas Apostas!