Se é uma daquelas pessoas para quem uma imagem vale mais discussões do que as cambiantes táticas de um jogo de futebol, este texto não é para si. Ainda assim, o clássico de ontem à noite deu muito material para que todo o tipo de pessoas se interesse pelo que se passou no jogo. O FC Porto dominou uma partida da qual o Benfica sai com a sensação de estar vivo na Liga NOS. Todos têm o que lamentar, todos têm pelo que sorrir.
Sem surpresa não significa sem contexto
Os onzes de cada treinador seguiram as expetativas criadas. O FC Porto com Sérgio Oliveira no meio-campo, entendido o seu posicionamento como tentativa de impor número no corredor central, permitindo desta forma um maior conforto para o jogo dos seus laterais. O camisola 27 surgia, no entanto, mais pela direita, revelando uma maior preocupação, quando não tinha bola, com aquilo que os encarnados faziam pelo flanco esquerdo. Marega ocupava a faixa direita do ataque e era o elemento preferencial para explorar a profundidade nas costas de Luisão e Jardel, capítulo onde o Benfica esteve permissivo. Com Brahimi e Herrera a caírem muitas vezes na área de influência de Fejsa, os azuis e brancos criavam aí uma zona de superioridade.
Rui Vitória foi a jogo com o mesmo onze que havia apresentado frente ao Vitória de Setúbal. Os primeiros quinze minutos, com os encarnados mais pressionantes sobre a bola, mesmo no meio-campo adversário, e com Krovinovic e Pizzi a surgirem a dar perfume à bola nas proximidades da área contrária, impuseram aos da casa alguma ansiedade. José Sá teve duas intervenções algo nervosas, no período que o Benfica fez quatro das suas sete tentativas de remate. A estratégia do Benfica demonstrava que, com bola, a equipa encarnada poderia criar muitos problemas aos da casa. Mas acabaria por ser sol de pouca dura.
Depois da tempestade
A partir dos quinze minutos, chamando Sérgio Oliveira para um maior envolvimento na saída de bola, o FC Porto pegou no jogo. É curioso como, nesta temporada, a equipa de Sérgio Conceição nos oferece a perceção do processo de construção que vai impondo. Ao longo dos jogos, apontam-se as dificuldades e entende-se as soluções que o técnico traz. E assim foi. O Benfica não tinha capacidade para aguentar o jogo pressionante com que tinha entrado no jogo e recuou perante os primeiros sinais de à-vontade dos azuis e brancos. Ainda assim, até ao intervalo, o FC Porto só conseguiu fazer três remates à baliza de Bruno Varela.
A segunda parte começou com os azuis e brancos, uma vez mais, a tentar assaltar a área do Benfica. Sérgio Conceição entendia que os encarnados não apresentavam sinais de criação de perigo e decide mexer primeiro no onze, lançando Otávio para o lugar de Sérgio Oliveira. O treinador do Porto pegava taticamente no jogo, tomando ele a opção que iria obrigar Rui Vitória a colocar Samaris em campo, no lugar de um Pizzi que havia desaparecido do mesmo. Aliás, a pouca intervenção defensiva da dupla constituída com Krovinovic ajuda a entender a dificuldade dos encarnados em equilibrar a contenda. A narrativa escrevia-se como o Porto a ser uma onda sobre a equipa encarnada e Bruno Varela vestia a capa do super-herói somando três grandes intervenções no decorrer do segundo tempo.
O nulo é a cara do falhanço
Moussa Marega era o homem que, na estratégia de Sérgio Conceição, funcionaria como o último elemento da equipa no desenho do golo. O problema é que o maliano não apresentou capacidade de passe na proximidade da área, nem foi capaz de, nas três oportunidades flagrantes de que beneficiou, impor-se na finalização. Pelo meio, uma decisão errada do árbitro auxiliar que marcou um fora-de-jogo num lance onde se perceberia, depois, que Aboubakar estava em jogo. O VAR coloca novos desafios à equipa de arbitragem, um deles é torná-los agentes secundários da decisão. Neste caso, isso não aconteceu.
A quinze minutos do fim, ambos os técnicos mexeram de novo na equipa. Rui Vitória procurava maior capacidade de ter bola, com Zivkovic a entrar no lugar de Pizzi, enquanto Sérgio Conceição refrescava a referência de área. Era, nesta fase, o momento dos encarnados lançarem a sua última cartada. No entanto, o sérvio não esteve mais de oito minutos em campo, vendo dois amarelos. O Benfica ainda teria Krovinovic, por duas vezes, a finalizar na área, mas também José Sá mostrou dotes ao salvar a sua equipa.
Para além das diferentes apostas táticas que os dois treinadores procuraram efetuar, a tornar este um dos jogos mais interessantes da presente edição da Liga NOS, o jogo teve a dose de conflito esperada de um clássico. O FC Porto segura o primeiro lugar, agora com os mesmos pontos do Sporting, numa partida onde sentirá que poderia ter tido bem mais. O Benfica segue a três pontos, com muito trabalho para fazer na nova versão tática da equipa, mas com as aspirações intactas. Esta Liga não terá vencedores antecipados.