A 23ª jornada marca a história da Liga ZON Sagres com o Benfica a escapar-se ao FC Porto no topo da tabela classificativa. Depois dos portistas terem empatado na Madeira, ao final da tarde, os encarnados golearam o Vitória de Guimarães por 4-0 e assumem quatro pontos de vantagem sobre o seu adversário direto na luta pelo título. No fundo da tabela, o Olhanense caiu abaixo da linha de água.
A noite da afirmação
Jorge Jesus é hoje um técnico bem mais consciente da forma de lidar com uma equipa que luta pelo título nacional. Em Guimarães, depois de bater o seu adversário por 4-0 e de ganhar uma vantagem de quatro pontos sobre o FC Porto, o técnico encarnado aproveitou para ressalvar que nada ainda estava ganho e que o seu rival tem equipa para conseguir ainda recuperar na Liga ZON Sagres. Discurso inteligente de um técnico que saberia, também, poder estar a viver o momento da decisão nesta competição. Com os portistas a completarem um mês sem vencer fora de casa (Alvalade, Málaga e Funchal marcam a série negativa dos Dragões), o Benfica entrou no Estádio Afonso Henriques percebendo que este jogo valia mais de três pontos. Sem Luisão, mas com Garay disponível, Jesus apostou no seu onze mais habitual.
A equipa soube corresponder ao pensamento do técnico. Desde cedo a iniciativa do jogo foi dos encarnados, que foram ultrapassando a estratégia vimaranense sem grandes dificuldades. O Vitória tentou afirmar-se com um futebol de bola no pé, de pensamento ofensivo, mas as suas armas eram claramente inferiores às do Benfica. Leonel Olímpio, André André e Tiago Rodrigues pouco podiam fazer para parar Enzo Pérez, Gaitán e Sálvio, sendo que a opção por jogar no fora-de-jogo foi mantendo o conjunto de Guimarães na luta, embora também fosse já visível que seria por aí que haveria de cair. Foi aos 37 minutos que Lima se conseguiu isolar e, depois de ultrapassar o guarda-redes Assis, foi derrubado por El Adoua. Grande penalidade e Cardozo a fazer o 0-1, resultado com que se encerrou a primeira parte.
A segunda parte começou com o Benfica a tomar conta das operações, algo que ficou ainda mais facilitado com a expulsão de Kanu, aos 60 minutos, logo seguida do segundo golo encarnado, marcado por Garay. Rui Vitória tentou reagir chamando Marco Matias e Amido Baldé teve uma grande oportunidade para diminuir a vantagem, numa jogada em que, primeiro de cabeça e depois numa tentativa acrobática de pontapear a bola, o ponta-de-lança português permitiu a defesa de Artur. Já sem a mesma frescura física, os vimaranenses viram o Benfica aumentar a vantagem com golos de Sálvio e Rodrigo, dando ao resultado uma expressão demasiado pesada para o que se viu no relvado.
Quem caça o fantasma?
No espaço de um mês, o FC Porto cedeu quatro pontos na Liga ZON Sagres, todos aproveitados pelo Benfica, e ficou afastado da Liga dos Campeões. Em todas estas deslocações, um ponto comum: a ausência de João Moutinho (que jogou em Málaga, apenas 45 minutos, e sem estar ao seu nível). Esta ausência parece ter-se transformado num fantasma para a equipa portista, que, uma vez mais, se viu incapaz de contrariar a adversidade. Na Madeira, essa foi alimentada por um Marítimo bem conhecedor das fragilidades azuis e brancas, tendo fechado os espaços até à sua baliza e explorado, intensamente, a velocidade dos seus alas. O Porto até começou melhor, com mais bola, e com James Rodríguez a corresponder bem a um centro de Defour para fazer o 0-1. No entanto, durou pouco essa vantagem. Praticamente na resposta, Suk aparece na área portista e, com todo o tempo do mundo, consegue fazer com que a bola ultrapasse Helton.
Esperava-se bastante mais de Vítor Pereira no reatar da partida. Mas o técnico português nunca deu sinais de querer arriscar para alcançar a vitória. Chamando Castro e Izmaylov para os lugares de Defour e Varela (que tinha entrado aos 10 minutos para o lugar do lesionado Atsu), a aposta foi sempre a de manter a mesma estrutura e a mesma receita para chegar a um golo que parecia cada vez mais distante. Para piorar as coisas, Jackson Martínez desperdiçou mais uma grande penalidade, permitindo a defesa a Salin, que viria a brilhar de novo com uma defesa quase impossível a cabeceamento do colombiano.
No final do encontro, prémio justo para os madeirenses que acreditaram sempre na possibilidade pontuar. Mesmo que, esta semana, se veja ultrapassado pelo Estoril na corrida ao 5º lugar, o Marítimo mostrou ser um dos mais fortes candidatos a esse lugar europeu. Para o FC Porto, é agora urgente caçar o fantasma que tem assombrado a equipa.
Moreirense dá o salto
A intensa luta pela manutenção na Liga ZON Sagres viu, neste jornada, o Moreirense sair da zona de descida, algo que não acontecia desde a 8ª jornada. Ao vencer em Vila do Conde, frente a um Rio Ave que é das piores equipas a jogar em casa, o conjunto de Moreira de Cónegos ganha um novo alento na fuga à Segunda Liga. Filipe Gonçalves, o capitão de equipa, foi o homem golo.
Nessa mesma luta, o Gil Vicente perdeu em casa por 1-3 frente ao SC Braga e o Olhanense, no jogo 500 de Manuel Cajuda na Primeira Divisão, perdeu por 1-2 para o Paços de Ferreira. Os algarvios mantém-se na sua caminhada descendente, sem encontrar forma de regressar às vitórias e desperdiçando pontos que poderão acabar por condenar a equipa à divisão inferior.
O Beira-Mar ainda sonhou com uma vitória que o faria, também, sair dos últimos lugares, mas acabou por empatar no seu estádio frente ao Nacional. Os golos de Rúben e Abel Camará não foram suficientes, perante Mateus, que bisou em Aveiro. Finalmente, a Académica voltou a perder, agora no Estoril por 0-2, e está cada vez mais envolvida neste mano-a-mano que promete durar até à última jornada da Liga ZON Sagres.