A primeira mão dos quartos-de-final da Liga dos Campeões tinha deixado em aberto uma série de confrontos e sabíamos que esta segunda mão oferecia desafios bem diferentes a cada uma das equipas presentes. O jogo de maior interesse para os portugueses era, sem dúvida, o do FC Porto em Munique, onde Julen Lopetegui, depois de ter surpreendido o Bayern, tinha uma segunda prova à sua capacidade para contrariar o ex-companheiro de equipa. Se bem que os resultados, muitas vezes, nos dizem muito pouco, o 6-1 deste encontro demonstra como foi brutal a resposta de Pep Guardiola.

Não existem dois jogos iguais

Julen Lopetegui sabia como parar o Bayern de Munique que esperava encontrar no Dragão. No entanto, sabia também que, para Pep Guardiola, não existem dois jogos iguais, daí que em Munique haveria uma equipa bem diferente para defrontar. No entanto, Lopetegui não soube, ou não foi capaz, de montar a sua equipa para o que aí vinha. É nestes momentos que nos deparamos com um saber tático acima da média que ficamos a saber se estamos perante um grande treinador ou não.

Bayern FC Porto

Bayern chega mais alto

Perder por 6-1 frente a este Bayern não é uma vergonha, apesar dos números do resultado poderem sempre fazer-se brutais, sobretudo quando falamos da “pior” derrota desde que Pinto da Costa se tornou Presidente. Mas aquilo que o jogo nos conta é uma história bem mais simples, feita de pensamento lógico, inteligência para o jogo e capacidade de transformar pormenores em decisões de partidas.

O FC Porto voltou a arrumar-se no mesmo 4-3-3 que tinha apresentado na primeira mão, com Quaresma e Brahimi ocupados a pressionar a saída de bola e o meio-campo a fazer uma segunda linha de pressão que impediu aos bávaros olharem a baliza de Fabiano desde o meio-campo. Sabia-se que Pep Guardiola compreendera a sua fragilidade perante este estado das coisas e que haveria de mudar. Mudou descendo Lahm para a saída de bola, criando uma linha de três jogadores nesse espaço, subindo Rafinha e Bernat nas faixas. Com isto, Brahimi e Quaresma ficavam reféns da sua própria pressão, já que ao fechar no central, destapavam o lateral, enquanto no meio havia agora mais gente – Thiago Alcântara e Muller – a oferecerem linhas de passe.

Os laterais do Porto fizeram falta, porque os bons jogadores fazem sempre falta, mas o problema do FC Porto não foram os jogadores que estiveram em campo, mas a forma como estes se organizaram. Os azuis e brancos desceram as suas linhas para tentar “resolver” a desvantagem numérica entre meio-campo e defesa, acabando por oferecer demasiado espaço ao Bayern para começar a construir o jogo. Criada a teia de progressão alemã, seria necessário que Brahimi e Quaresma fossem muito mais solidários no momento defensivo, o que não aconteceu no primeiro golo – Quaresma ficou a marcar com os olhos – e depois acabou por se desmoronar durante uma primeira parte em que, do banco do FC Porto, não saiu uma correção para dentro do relvado.

Do outro lado, mesmo a ganhar por 5-0, o que se viu foi uma equipa capaz de, qual camaleão, continuar a adaptar-se às circunstâncias do jogo, muito mais focada e precisa do que o conjunto de Lopetegui, que foi “abandonado” em campo pelo seu treinador, ao sentir que aquilo que conseguira na primeira mão poderia ser suficiente. Nunca se deve tratar como morta uma equipa que, claramente, ainda não morreu.

Quem é Sergio Ramos?

Sem poder contar com Luka Modric e com Illarramendi, Khedira e Lucas Silva no banco, Carlo Ancelotti abordou a partida frente ao Atlético de Madrid com Sérgio Ramos no meio-campo. O italiano sabia que ia entrar numa guerra de tensões, frente aos colchoneros que sempre se superam nestas partidas, e só confiou ao seu maior lutador uma missão que qualquer um dos outros jogadores em questão, todos eles médios por formação, talvez não tivessem a mentalidade para travar. Mas a verdade é que, Ramos, para além de defesa-central, já passou muitos jogos da sua carreira a atuar como lateral-direito, e foi a pensar nisso que Ancelotti o terá escolhido a ele para aquela posição.

Sergio Ramos Real Madrid

Sergio Ramos foi a garantia usada por Ancelotti

No fundo, o italiano não abdicou dos seus princípios, não queria um bombeiro para atuar como pivô defensivo do meio-campo, mas sim um jogador que tivesse regras e conhecimento do espaço quando a equipa estivesse a atacar. No fundo, Ancelotti procurou o jogador que pudesse, no relvado, ser o mais parecido com as características de Modric que eram fundamentais para este jogo – posicionamento, capacidade de resistência, procura de bola e participação no momento ofensivo.

Não foi por Sergio Ramos que Ancelotti ganhou o jogo, mas poderá ter sido a partir dele que não o perdeu. Com ele no meio-campo, o Real tinha sempre mais uma ameaça perante um Atlético que se ocupou demasiado a defender. Com Cristiano Ronaldo a servir, neste jogo, mais como um íman dos defensores do Atlético e uma influência de maturidade na forma de nunca desistir de procurar a vitória, o prémio acabou para ir para Chicharito Hernandez. O mexicano tem passado grande parte da temporada sentado no banco, mas como aqueles miúdos que têm o sonho de jogar num grande clube, Chicharito entra sempre em campo como se tivesse a ter a oportunidade da sua vida. Desta vez, colocou o Real Madrid nas meias-finais da Liga dos Campeões. Não é pouco.