A Juventus foi campeã e o futebol italiano continua a redescobrir-se como um jogo onde a organização ofensiva tem um peso, no mínimo, igual à defensiva. Estas duas verdades têm sido como que imutáveis nestes últimos anos e, se no segundo caso esperamos que a evolução se mantenha (e manterá), no primeiro, parece mais complicado dar de barato que o conjunto de Turim será igualmente dominador. Depois de terminar com dezassete pontos de vantagem sobre a Roma, a Juve vê Fiorentina, Nápoles, AC Milan e Inter de Milão mudarem para melhor. Conseguirá, alguma destas equipas, recuperar todo o terreno?
Mais Allegri, menos Conte
Allegri teve, na temporada passada, a ingrata missão de lutar pelo título com uma equipa que era, essencialmente, do seu anterior técnico, Antonio Conte. Ainda assim, o técnico que chegou de Milão, soube trabalhar a estrutura e oferecer-lhe um vinco pessoal, sendo que no final da temporada já ninguém falava dos problemas de adaptação a um novo modelo de jogo, mas sim dos sucessos da Juventus na Liga dos Campeões e na Série A. Este ano, após as saídas de Pirlo, Vidal e Tévez, Allegri terá oportunidade de tornar a equipa ainda mais próxima das suas ideias. Oportunidade e dinheiro, já que os cofres se abriram para preparar um ataque fortíssimo dos adversários. Paulo Dybala, Mandzukic e Zaza renovam, por inteiro, o ataque, Khedira chega para o meio-campo e até ao final do mercado deverá ainda chegar reforço para a defesa. Mesmo com a perspetiva de domínio a desvanecer-se, parece óbvio que a Juventus parte, ainda, na linha da frente. Quem a quiser derrubar terá que crescer, e muito!
A capital mantém-se na perseguição?
A AS Roma e a Lazio foram as duas equipas que terminaram, o ano passado, em lugares da Liga dos Campeões, mas este ano terão que evoluir muito mais para poderem manter-se nas posições logo a seguir à Juventus. Para a Roma, que terá entrada direta na prova milionária, a aposta no mercado fez-se, sobretudo, através de empréstimos, que valerão a chegada de Ibarbo, Dzeko, Salah e ainda Iago Falqué. Rudi Garcia poderá ter perdido o encanto que trouxe para o seu primeiro ano no futebol italiano e sabe que tem, agora, uma responsabilidade diferente. Vencer pode não ser fundamental, mas manter-se no topo (o que será mais difícil), é.
A Lazio, com Stefano Pioli, terá que conseguir ultrapassar o Bayer Leverkusen para estar na fase de grupos da Liga dos Campeões, sabendo também que a sua capacidade para intervir no mercado é menor do que a dos restantes concorrentes. Experiência e constância são valores que Pioli tentará manter altos num plantel que vê chegar Dusan Basta e Milinkovic-Savic, numa abordagem heterodoxa às aquisições. Quando tudo parece que as Águias de Roma podem ficar para trás na nova temporada, não se deve nunca deixar de fora uma equipa que já demonstrou ser capaz de sobreviver em condições agrestes.
A melhor dupla de novos técnicos de toda a Europa
Já todos nos regozijámos com o Borussia Dortmund de Thomas Tuchel, mas é na Itália que se alimentam expetativas sobre dois técnicos que chegam a equipas que estarão, no mínimo, na luta dos lugares europeus.
O Nápoles pescou no Empoli o técnico sensação da temporada passada, Maurizio Sarri. Depois de ter brilhado na forma como organizava a sua equipa, muito parca em recursos e de ambições limitada, Sarri chega aos 56 anos a um contexto bem diferente. O Nápoles é uma equipa grande mas procura a devolução de uma identidade que se perdeu com Rafa Benítez. Dir-se-á que o Nápoles pretende assim voltar às origens e Sarri procurará na história do futebol o desenho mais indicado para esta viagem em direção ao futuro. O técnico terá mais experiência na baliza com Pepe Reina, transporta Valdifiori e Hysaj do “seu” Empoli e aposta em Chiriches e Allan para reescrever a maneira de jogar futebol na cidade do Deus Maradona.
Outro “reescritor” de verdades futebolísticas, Paulo Sousa, aterra na cidade da arte. A Fiorentina já fez sensação na pré-temporada, batendo o Barcelona e apresentando um estilo que Sousa poderá agora desenvolver numa grande Liga e com diferentes recursos daqueles que teve na sua carreira. Será, talvez, a grande expetativa desta Liga, perceber como e até onde chegará a Fiorentina com o técnico português. Mário Suárez, do Atlético Madrid, e Kalinic, do finalista da Liga Europa do ano passado, o Dnipro, serão as duas contratações mais sonantes, numa equipa que valerá, seguramente, pelas ideias e pelo coletivo.
Milão brilha de novo
Será que este é o ano do regresso das equipas de Milão à ribalta? O Inter mantém Roberto Mancini e oferece-lhe Kondogbia, Shaqiri, Miranda, Jovetic, Montoya, para reformular o seu onze e ter, no papel, todas as condições para estar na luta pelos lugares da Liga dos Campeões. Cresce, ainda assim, a responsabilidade sobre um técnico que, no ano passado, acabou por ficar aquém das expetativas. Foi falta de jogadores, só, o problema de Mancini? Se foi, agora, pelo menos, parte melhor armado para esta guerra.
O outro concorrente da cidade precisava de uma mudança mais radical e a chegada de Sinisa Mihajlovic providencia o tipo de liderança barulhenta que poderá ajudar a convencer as bancadas e a vencer resistências internas. No entanto, ainda é no relvado que se disputam e ganham jogos. Para isso, o sérvio contou também com um livro de cheques que trouxe Bacca e Luiz Adriano para serem figuras da equipa. Num território muitas vezes armadilhado, Mihajlovic tem a seu favor o facto de precisar apenas de um pouco para ser muito melhor do que o passado do AC Milan.
Para além das sete equipas analisadas neste artigo, a Serie A promete ainda muito equilíbrio e luta, com Sampdória e Genoa a poderem intrometer-se na Europa e conjuntos como Torino, Palermo ou Udinese a terem a capacidade para incomodar. Para seguir a partir do próximo fim-de-semana.