Há nomes que são maiores que as suas personagens, representam-nas mas levantam voo.

Não são muitos. Mas os que o são entram na esfera da quase lenda.

No SL Benfica, há alguns nomes que vampirizam tudo à sua volta: Eusébio, Coluna, José Águas, Chalana… Chegam antes das personagens. E têm uma dimensão de estrelas. Daquelas como as de Hollywood ou maior, que se fixam no firmamento e de lá não mais saem.

Mas há outros nomes que por vezes nos esquecemos que também são enormes, e só quando olhamos e os vimos é que nos lembramos da sua superlativa existência. Deve ser por serem nomes demasiado próximos. Como Rui Costa, por exemplo. Mas também como António Oliveira. Quem? O ex-jogador de FC Porto e Sporting CP? Não, não, o Toni, senhores. O Toni do Benfica. Que parece que já anda cá há tanto tempo, que nos esquecemos da sua grandeza.

Toni, o homem que um dia passeou pelo Mundo com um saco de rebuçados para contratar craques para o SL Benfica, é, hoje e amanhã e sempre, um dos grandes craques de uma equipa mítica do SL Benfica que fascinou Portugal e a Europa, entre o final dos anos ’60 e o início dos anos ’80, vivendo em pleno os não menos bons anos ’70 de glória benfiquista.

Um Início Glorioso

Toni nasceu em Mogofores, Anadia, ali para os lados de Aveiro, nos idos de ’46, estava finda a Grande Guerra.

Toni Jogador

Toni, referência do Benfica e do benfiquismo, capitão e líder

Começou por dar os primeiros toques na bola nos Salesianos e depois no Anadia FC. Aí deu nas vistas a um tal de Mário Wilson que o levou para a Académica de Coimbra. Na cidade dos estudantes deu ainda mais nas vistas, e o SL Benfica viu-o, gostou e contratou-o.

Toni tinha 22 anos quando rumou a sul, para Lisboa, para jogar no SL Benfica, clube onde viria a ganhar 8 campeonatos nacionais, 4 Taças de Portugal e 1 Supertaça Cândido de Oliveira, tendo vindo, também, a representar a Selecção de Portugal por 33 vezes. Tanto no SL Benfica como na Selecção, Toni acabou sempre por voltar como treinador.

Mas temos de voltar atrás. A 1968. O ano em que tudo começou.

Toni era médio da formação da Académica que chegou à final da Taça de Portugal em 1967, que acabaria por perder para o Vitória Futebol Clube, o Vitória de Setúbal.

Mas Toni chamou a atenção do SL Benfica e, no anos seguinte, lá seguia Toni para Lisboa, rumo ao Estádio da Luz. E aí começou a escrever-se uma história de sucesso, que também entrou na lenda dos grandes jogadores benfiquistas, maiores que a vida, símbolos vivos do clube. Em 1972 foi eleito Jogador do Ano.

Não teve início fácil, no SL Benfica. Aquela equipa era extraordinária. Grandes jogadores. Eusébio, Coluna, Simões… Muito teve de trabalhar Toni para merecer uma oportunidade. Mas nunca desesperou. Trabalhou. Insistiu. Soube esperar a hora certa. Mostrando pulmão e alegria pelo jogo. Companheiro dos seus companheiros, de Eusébio, Humberto Coelho, Nelinho, Shéu. Trabalhou com Jimmy Hagan com quem não se deu muito bem. Mas nunca virou a cara à luta. Mesmo depois da revolução de 1974. Toni mostrou o seu lado corporativo e justo. Tornou-se sindicalista. Lutou pelos direitos dos jogadores. Pelos seus direitos. Exigiu respeito. O mesmo que deixava em campo pela sua equipa que tão bem representava.

Toni tornou-se, também ele, um dos símbolos da glória encarnada. Capitão de equipa e líder. Porque se nasce para isso. E Toni era-o. Um líder. Respeitado. E respeitador.

De Jogador a Treinador

Campeão, foi o único benfiquista que o foi nas duas funções, na de jogador e na de treinador. Sim, que Toni foi treinador campeão do seu SL Benfica. Ele que começou bem e o fizeram terminar mal.

Em 1981 Toni diz adeus ao futebol enquanto jogador. Em ano de vitorioso campeonato ainda leva a faixa.

Não tardou muito para ser convidado para treinador-adjunto de um sueco que vinha revolucionar a Luz e, também ele, deixar muitas saudades: Sven-Göran Eriksson. Depois vieram outros treinadores, e ele continuou como adjunto. Até que um dia… Até que um dia passou a ser, também, treinador principal do glorioso. Houve ainda um tempo em que voltou a ser adjunto. Mas logo voltou, outra vez, a ser treinador principal. E um dia foi embora do SL Benfica e correu Mundo, levando aos quatro cantos, todo o seu saber.

Tudo começou, contudo, com o sueco Sven-Göran Eriksson. Depois ainda vieram Pál Csernai, John Mortimor e Ebbe Skovdahl. Csernai e Skovdahl foram breves aragens. John Mortimor foi na sua segunda passagem pelo clube, que na primeira, Toni era ainda jogador às ordens do inglês.

Toni Treinador

Toni com Eusébio e Sven-Göran Eriksson, duas das suas grandes referências

Como Ebbe Skovdahl não aguentou o cargo até ao final, Toni foi convidado a passar a treinador principal. Conseguiu o segundo lugar no campeonato e a final da Taça UEFA, onde foi eliminado na marcação das grandes penalidades com o histórico penalty falhado por Veloso.

No ano seguinte ganhou o campeonato, mas no final da época foi substituído pelo seu amigo Sven-Göran Eriksson que voltou uma segunda vez ao SL Benfica.

Alguns anos depois, em 1992, e após o fiasco que foi Tomislav Ivic, Toni foi chamado, de novo, para agarrar as rédeas da equipa. Voltou a ficar em segundo lugar, mas a vencer a Taça de Portugal. No ano seguinte voltou a ser, outra vez, campeão com o SL Benfica, mas no final da época foi substituído por Artur Jorge, momento que, para muitos, marca a terrível descida aos infernos do SL Benfica e do qual tem tido muitas dificuldades em sair.

Toni ainda voltou uma terceira vez ao SL Benfica como treinador, na passagem de uma época para outra, mas acabou por ser despedido ao fim de pouco tempo.

Entretanto, depois de campeão várias vezes na Luz, Toni vai Mundo fora treinar inúmeros clubes, uns como adjunto, de Carlos Queiroz, por exemplo, nos Emirados Árabes Unidos, mas outros como treinador principal. Toni passou pelo Bordeaux, em França, pelo Sevilla, em Espanha, pelo Guangzhou, na China, pelo Al-Ahly, no Egipto, pelo Al Sharjah, nos Emirados Árabes Unidos, pelo Ettifaq e pelo Al Ittihad, ambos na Arábia Saudita e, finalmente, pelo Traktor Club, no Irão. Pelo meio foi observador da Selecção da Costa do Marfim e também chegou a ser treinador da Selecção Nacional, como adjunto, e uma das quatro cabeças do Europeu de ’84, em França, onde Portugal conseguiu o brilhante 3º lugar e Chalana deslumbrou o Mundo.

Entre umas e outras coisas, Toni passou também, regularmente, pelas câmaras de televisão e pelos microfones das rádios como comentador e analista de futebol, e em especial do universo benfiquista, onde volta, de vez em quando, para dar uma mãozinha quando é preciso, como quando, na época de 1996/97, com Paulo Autuori como treinador, se lançou pelo Mundo à procura de jogadores que pudessem fazer a diferença no SL Benfica, mas sem orçamento, como mais tarde afirmou, “queriam que comprasse jogadores com sacos de rebuçados”.

Em 1989, António Oliveira, o Toni, foi agraciado com a Ordem de Mérito, e tornou-se Comendador.

Boas Apostas!