Desapareceram do horizonte. Ganharam ausência. Pensamos que, por isso, saíram de moda, e também por isso, ganham esquecimento. Deixamos de saber o significado. Desconhecemos, mesmo, a existência.

E então, assim, de um momento para o outro, nascem, de natureza espontânea, saltando de baixo de qualquer pedra do passeio.

São os perdões.

Segundo o Dicionário Priberam de Língua Portuguesa, Per-dão tem uma origem controversa. É um substantivo masculino que significa remissão de culpa, dívida ou pena. Uma desculpa. Também significa absolvição e indulto. E ainda benevolência e indulgência. Também é uma interjeição que age como uma fórmula de exprimir um pedido de desculpas.

O perdão tem andado na boca de muita gente, neste últimos dias. Desde políticos a jogadores de futebol.

Enquanto uns pedem perdão para emendar a mão dos erros praticados, outros pedem-no para sarar feridas antigas e justificar o volte-face.

Aconteceu com ministros do governo português em funções. Nuno Crato, Ministro da Educação, pediu desculpas aos portugueses em geral, e aos professores em particular, pelo erro na forma como foram colocados os professores. Paula Teixeira da Cruz, Ministra da Justiça, também pediu desculpa pelo caos nos tribunais que impede o regular funcionamento dos mesmos.

Nenhum deles se demitiu. As desculpas, o perdão, também serve para isto. Passar uma esponja sobre o sucedido como se nada se tivesse passado. Acaba-se com o erro. Com o engano. Volta-se à casa partida, já sem o pecado original. Por vezes, o pedido de desculpa, também é uma forma de ser arrogante. Outras vezes é só mesmo isso: desculpa.

Jogar o Perdoa-me

Nos últimos dias também houve bastantes pedidos de desculpa por parte de jogadores de futebol. Foram jogadores proscritos no tempo de Paulo Bento, que o novo seleccionador, Fernando Santos, resolveu resgatar. Mas, como é claro, só os que já foram resgatados pediram perdão, e nem todos, e os que não foram chamados, de novo, à selecção, mantiveram o silêncio.

Tiago

Tiago tinha renunciado à Selecção Nacional, mas arrependeu-se

Ricardo Carvalho e Tiago foram os jogadores que voltaram ao seio da Selecção Portuguesa ao fim de tantos anos, e resolveram, ao fim de todo este tempo, fazer acto de contrição e pedir perdão pelos seus actos. José Bosingwa, que ainda não foi recuperado, mantém o silêncio, não querendo, por isso, ser para aqui chamado. É que há um momento certo para a desculpa. Que é quando convém. Não é quando se descobre o erro, o engano. Não é quando surge o arrependimento, o remorso. Não. É quando dá jeito.

No caso político cima descrito, é uma chamada de atenção para o facto dos ministros, mesmo que não pareçam, são humanos. Erram. Mas, ao contrário dos outros, não têm de pagar por isso. Basta só admitir que afinal as coisas correram de forma diferente da esperada. Adiante.

Fernando Santos querendo marcar pontos na Selecção que, às vezes, é de todos nós, e querer aumentar a distância com o trabalho do seu antecessor e querer voltar a chamar a população a vestir a décima segunda camisola, chamou Tiago, Ricardo Carvalho e Danny. Que Paulo Bento tinha posto de lado. O primeiro é finalista vencido da Liga dos Campeões. O segundo é o central de uma das equipas que se queria novo-rica mas que entretanto caminha não sabe bem para onde. O terceiro é o patrão do jogo do Zenit. Se o primeiro e o terceiro justificam a sua chamada à Selecção, pela forma em que estão, pela influência nos seus respectivos clubes e porque as zonas do campo em que actuam não têm outras grandes opções, já o segundo é um tanto incompreensível. Aos 36 anos, Ricardo Carvalho não é, propriamente, aquilo que se poderá chamar de futuro da Selecção.

De qualquer forma, Ricardo Carvalho fez o mea culpa. “Peço desculpa a toda a gente. Mas a verdade é que o mais prejudicado fui eu, que não pude estar aqui como queria.” Sim, perdão mas ainda com alfinetada ao seleccionador anterior que, isto de ter de pedir desculpa custa muito e não é para todos. Lembramos, de qualquer maneira, que Ricardo Carvalho virou as costas à selecção e abandonou um estágio. Houve, de sua parte, uma falta de respeito  que nunca deveria ter havido, e que Ricardo Carvalho não poderia confundir o seleccionador nacional com a Selecção Nacional. Estamos em crer que esta chamada de Fernando Santos, mais que abrir as portas, de novo, a uma titularidade ao jogador no onze nacional, é uma forma de se fazer as pazes e enterrar de vez os mal-entendidos, conseguindo agregar toda a gente à volta da selecção.

Já com Tiago o problema fora outro. Há uns 3 anos atrás, Tiago mandou um fax a renunciar à Selecção. Não se sabem os contornos da história. Paulo Bento, dessa vez, tentou demovê-lo. Tiago nunca voltou atrás. Mais tarde veio o arrependimento e o desejo de voltar outra vez à Selecção. Agora que Fernando Santos o chamou, Tiago sente-se contente e, também ele, já fez o seu acto de contrição lamentando o envio daquele fax. Como o povo costuma dizer, mais vale tarde que nunca, mesmo já a aproximar-se do ocaso da sua vida futebolística, que sejas bem-vindo, Tiago.

Danny

Danny mostrou-se indisponível para fazer uns jogos, mas agora prefere ignorar a acção

Já Danny, que não pediu desculpas, limitando-se a dizer que Paulo Bento deixou de o convocar para a Selecção porque teria outras e melhores opções para a sua posição, congratulou-se por voltar a estar nos planos do novo seleccionador. No entanto, em 2011, Danny comunicou à Federação que estava indisponível para os jogos frente a Islândia e Dinamarca. Não se sabe se esta indisponibilidade foi provocada por algo, ou foi esta indisponibilidade que passou a levar à sua ausência das convocatórias.

Já José Bosingwa, que não foi convocado por Fernando Santos e, por isso, também não pediu desculpas, também afirmou não estar disponível para a Selecção Nacional enquanto Paulo Bento fosse o seleccionador porque Paulo Bento referiu que Sílvio e João Pereira ofereciam mais garantias emocionais e mentais que Bosingwa.

Enfim.

Depois de todos estes actos de contrição, o país, como a Selecção, respiram de alívio e viram, então, as atenções para a França e a Dinamarca.

Boas Apostas!