Pode parecer estranho, tendo em conta o que tem sido o ténis da última década, mas se há uma certeza à entrada para o torneio mais tradicional da história da modalidade é que está tudo em aberto. Não há vencedores antecipados para a relva de Wimbledon, nem sequer favoritos evidentes. Rafa Nadal chama-lhe o torneio mais perigoso da época. Para Federer esta pode ser a derradeira hipótese para vencer um Major, na relva onde já foi rei absoluto.
O intervalo entre o final da temporada de terra batida e o início da competição no All England Club é ridiculamente pequeno e ninguém lá chega verdadeiramente preparado. Para ajudar à festa, a organização do torneio resolve baralhar as contas com um critério próprio – considerando apenas os resultados em – para definir os cabeças de série. Assim, será Novak Djokovik, n.º2 do mundo e vice-campeão da última edição, a encabeçar a hierarquia em Wimbledon. Nadal surge em segundo lugar. O maior beneficiado por esta alteração é, sem dúvida, Andy Murray, que no ano passado se tornou o segundo britânico a triunfar em casa, setenta e sete anos depois de Fred Perry. O escocês será o terceiro pré-determinado, à frente de Roger Federer, sete vezes campeão, e Stanislas Wawrinka.
Rafa Nadal veio esta semana dizer que considera o Major britânico o mais complicado de todos, e é fácil perceber porquê. Depois de uma longa e intensa temporada de terra batida, culminando com o nono título em Roland Garros, aterra-se na relva quase sem nenhuma preparação digna desse nome. Duas semanas é um tempo muito curto para recuperar dos esforços de Paris e fazer a adaptação a uma superfície radicalmente diferente, que exige muito da condição física dos atletas. O número um mundial chega a solo britânico com uma única partida jogada em relva, na primeira ronda do torneio alemão de Halle, onde foi afastado por Dustin Brown. Nem vale apena analisar as dificuldades que o sorteio lhe pode reservar, a partir dos quartos ou oitavos da competição. Para o espanhol o desafio será a reação – as sensações, como gosta de referir – nos primeiros dois ou três encontros, face a opositores mais modestos. Se se sentir bem, e ganhar confiança, Rafa é sempre um candidato a ter em conta.
Novak Djokovic passou as conferências de imprensa de antevisão do Grand Slam britânico a falar da nova geração, dos próximos em linha, que pode muito bem causar surpresas em Wimbledon. De certa forma é verdade, o ténis está num momento de viragem, com vários jogadores de topo a perder a aura de imbatíveis, o que abre a porta a tenistas como Grigor Dimitrov – que venceu Queen’s, Milos Raonic ou Kei Nishikori, que já provaram o seu valor contra os líderes do ranking. Também soa um pouco a desculpa antecipada. Ainda assim, o sérvio espera que a experiência de Boris Becker – o mais jovem a sagrar-se campeão em Wimbledon, aos dezassete anos – o possa ajudar a progredir no torneio, e a vencê-lo.
Para o antigo líder do ranking ATP, Roger Federer, esta pode ser a sua última janela de oportunidade para conquistar mais um torneio do Grand Slam. O suíço venceu na relva do All England Club sete dos seus dezassete títulos do Grand Slam. Só por isso ele tem que ser considerado um dos principais favoritos à vitória. E se em 2013 se ficou pela segunda ronda, eliminado pelo modesto Sergi Stakhovsky, este ano está em muito melhor forma. Vem também direto de Halle, onde se sagrou campeão pela sétima vez. O sorteio foi-lhe favorável. No seu quarto do quadro competitivo, Federer tem Wawrinka, que não atinge a terceira ronda do torneio desde 2009, e John Isner, que também nunca foi além da segunda ronda.
Andy Murray chega a Wimbledon para defender o título, mas essa hipótese parece um tanto ou quanto irrealista. Este ano o escocês segue a zeros, ainda não venceu um único torneio. Depois de ter posto fim à colaboração com Ivan Lendl andou algo à deriva, situação que se espera ultrapassada com a recente escolha de Amélie Mauresmo para o substituir. Esse é um dos maiores motivos de interesse para acompanhar o percurso de Murray em Wimbledon, tentar perceber se o efeito da campeã francesa já se faz sentir no jogo do escocês.