A personagem é controversa. Ela própria cria os limites da sua ousadia. É provocadora. Exibe a sua sabedoria. E por vezes, muitas vezes, percebe-se que tem pés de barro e que tenta colocar-se em bico dos pés, para parecer maior do que, na realidade, é.

Louis van Gaal já esteve no topo do mundo. E já desceu aos infernos. Mas o homem tem mais vidas que um gato. Ainda não morreu e já está a ressuscitar.

Declarando-se, como já se declarou bastas vezes, descendente teórico de Rinus Michels, o pai do Futebol Total, conseguiu algumas vezes, poucas, essa assumpção dentro do campo. Mas essa parcela que reivindica para si, tem-lhe custado a inimizade com alguns nomes da Laranja Mecânica, como Johan Cruyff, talvez o maior representante e efectivo aplicador da escola original do Carrossel Holandês.

Dono de uma arrogância tal que, até mesmo na derrota e no erro, Louis van Gaal consegue quase sempre escapar incôlume ao desastre. É artífice da vitória e desconhece a culpa na derrota.

É capaz de grandes feitos, fruto de uma mentalidade de risco, que às vezes roça, paredes meias, com o acaso. No Campeonato do Mundo do Brasil, guardou uma substituição num jogo difícil para mudar de guarda-redes no desempate por grandes penalidades. Teve sorte. O guarda-redes substituto garantiu-lhe a vitória numa defesa imperial. E se não tivesse acontecido? Louis van Gaal não voltou a repetir a façanha no mesmo Mundial.

A Origem de um Jogador Mediano

Aloysius Paulus Maria van Gaal, nasceu em Amesterdão, na Holanda, em 1951.

Desde cedo se dedicou ao futebol. Jogou como médio, mas nunca se destacou de uma certa mediania. Passou por vários clubes, como o Ajax, Royal Antwerp, Telstar, Sparta Rotterdam e AZ Alkmaar.

Louis van Gaal no Sparta Rotterdam

No Sparta Rotterdam, onde jogou por oito épocas, foi onde Louis van Gaal terá sido mais feliz, enquanto jogador

Esteve no Ajax na época de 1972/1973, aquela que foi, também, a última de Johan Cruyff na equipa holandesa antes de se mudar para o FC Barcelona. Mas van Gaal não chegou a jogar, nesse ano. Cruzou-se com Cruyff na equipa, mas nunca no campo. Cruyff sairia para o Barcelona e por um périplo que o levaria a jogar em equipas tão distantes e estranhas como os Los Angeles Aztecs, Washington Diplomats, Levante, Feyenoord e num breve regresso, por duas épocas, ao Ajax, antes de abraçar a carreira de treinador.

Já Louis van Gaal, depois de uma época em branco no Ajax (jogou na equipa B), passou para a vizinha Bélgica, onde jogou por 4 épocas no Royal Antwerp, antes de voltar à Holanda e jogar uma época no Telstar, em trânsito para o Sparta Rotterdam, equipa onde assentou arraiais por longas 8 épocas e onde terá sido mais feliz. Antes de pendurar as chuteiras ainda passou uma época pelo AZ Alkmaar. Depois, aos 36 anos, abandonou os relvados sem ter deixado história.

Foi nesse fim em Alkmaar que marcou também um início. Passou do relvado para o banco. Deixou de jogar e passou a assistente do treinador. Durou pouco tempo pois, breve, voltou ao Ajax, onde se tornou assistente de Leo Beenhakker. E com ele aprendeu os meandros do treino. A gerir homens. Uma equipa. Um certo tipo de futebol.

Quando Leo Beenhakker saiu, em 1991, Louis van Gaal ficou com o lugar de treinador principal do Ajax. Até 1997. 6 épocas. De onde saiu para o FC Barcelona.

Um Treinador na Montanha Russa

Louis van Gaal no Ajax

Foi no Ajax que começou a caminhada de glória de Louis van Gaal enquanto treinador de sucesso

E durante as 6 épocas em que Louis van Gaal esteve à frente do Ajax, construiu uma reputação como treinador que nunca tinha conseguido como jogador. Ganhou inúmeros prémios e competições. Venceu a Taça UEFA. A Liga dos Campeões. A Supertaça Europeia. A Taça Intercontinental. 3 campeonatos holandeses. A Taça da Holanda. Várias Supertaças da Holanda. E afirmava-se como seguidor do Futebol Total. Que Johan Cruyff também reclamava. E zangaram-se. Personalidades fortes e quezilentas.

Ora, quando Louis van Gaal vai para o FC Barcelona, vai ocupar o lugar que fora do Johan Cruyff por 8 épocas seguidas. Bobby Robson foi o treinador que mediou entre a saída de um e a entrada de outro. Um ano em que o treinador inglês ganhou uma Taça dos Vencedores das Taças, a Taça do Rei e uma Supertaça de Espanha.

Louis van Gaal vem para tentar fazer esquecer o seu conterrâneo. Johan Cruyff ganhou muita coisa em Barcelona. Na Europa e em Espanha. Louis van Gaal tem um trabalho hercúleo pela frente. Mas para quem vinha de umas épocas tão gloriosas com o Ajax, não se esperava menos. E tem José Mourinho, que tinha ido com Bobby Robson para Barcelona e que resolveu ficar para trabalhar com o holandês, para o ajudar.

A verdade é que Louis van Gaal até conseguiu conquistar alguns troféus com a equipa do FC Barcelona. Mas foi também a época em que a sua personalidade ganhou maiores contornos de impossibilidades. Era impossível discutir, discordar ou afrontar Louis van Gaal, qual Rei Sol da terra dos Orange. As suas relações com a imprensa espanhola, e com a catalã em especial, nunca foram boas. Louis van Gaal era teimoso. Mesmo perante as evidências. Rivaldo foi uma das suas vítimas. Rivaldo que estava habituado a jogar no meio do terreno, foi empurrado para a ala esquerda pelo treinador, mesmo quando as evidências garantiam que Rivaldo não rendia nesse lado.

Louis van Gaal no FC Barcelona

Louis van Gaal com José Mourinho. Foi no FC Barcelona que van Gaal abriu a sua caixa de Pandora e tudo se transformou

Este tipo de opções ténicas e tácticas, levaram a que ao fim de 3 épocas, Louis van Gaal saísse de Barcelona sem deixar muitas saudades. E ainda falou para a história: “Amigos de la prensa. Yo me voy. Felicidades.”

Depois de uma passagem sem glória pela selecção holandesa, retornou a Barcelona, mas não aguentou uma época inteira, tal os maus resultados e o mau uso dos recursos do clube: o desbarato de Robert Henke, Mendieta e Riquelme. Louis van Gaal acentuava a sua arrogância sem sentido. Não conseguia chegar a lugar nenhum.

Regressou também ao Ajax, onde tinha jogado e onde fora muito feliz como treinador. Desta vez, porém, foi como Director Técnico, mas não aguentou mais que uma época devido aos constantes conflitos com o treinador Ronald Koeman.

Foi então dirigir a equipa do AZ Alkmaar. Foi uma espécie de recomeço com uma equipa de segundo plano que soube transformar. Os anos correram bem e, em 2009, como prémio desse bom recomeço, Louis van Gaal foi chamado para treinar o Bayern Munique. Embora tivesse começado a época de forma muito titubeante, Louis van Gaal conseguiu levar o Bayern, na sua primeira época, a ganhar a Bundesliga, a Taça da Alemanha e a Supertaça alemã. Mas a época seguinte começou mesmo tão mal que o treinador não chegou ao fim da época.

Em 2012 pegou na Selecção da Holanda e conduziu-a ao Campeonato do Mundo de 2014, no Brasil, e à boa prova que conseguiu na sua fase final, ficando com o terceiro lugar, tendo vencido, no último jogo, a Selecção do Brasil por 3 a 0.

Depois disto foi para Inglaterra. Destino: Manchester United.

Van Gaal em Manchester

E depois de se perceber que a vida de treinador de Louis van Gaal sempre foi feita de altos e baixos, era com alguma expectativa que se esperava o que iria conseguir em Manchester.

Louis van Gaal no Manchester United

Até ao momento, Louis van Gaal não justificou a sua contratação para Manchester e para aqueles que achavam ser o holandês o sucessor natural de sir Alex Ferguson

E se o início deixava a expectativa de, finalmente, sir Alex Ferguson ter um sucessor à altura, depressa se percebeu que Louis van Gaal se voltou a enredar nas suas próprias teias.

Com uma equipa de luxo, onde não se regateou jogadores, Louis van Gaal não conseguiu ter mais pontos que os que tinha David Moyes com os mesmos jogos na época passada. Sem falar nos activos que o treinador holandês está a desbaratar. O que é feito de Radamel Falcao? E Ángel di María? E o Nani que vemos jogar no Sporting CP, não teria lugar neste Manchester?

Aliás, já há quem afirme que o Louis van Gaal está a fazer a Falcao, é precisamente o mesmo que fez a Rivaldo e Riquelme. No fundo é uma guerra de egos. Van Gaal gosta de ser a estrela. A única.

O último acontecimento negativo foi a derrota em casa do Manchester United com o Southampton, por 1 a 0, com Radamel Falcao ausente da convocatória (nem no banco se sentou). O Manchester ainda conserva o quarto lugar na Premier league, mas as coisas não estão muito famosas para o holandês que parece não ter mãos para a equipa de luxo que tem para conduzir.

Quando tempo mais durará Louis van Gaal no Teatro dos Sonhos?

Boas Apostas!