Jen_Welter_arizona_cardinalsNa semana passada os Arizona Cardinals anunciaram um novo membro da equipa técnica. A Dra. Jennifer Welter vai ser a treinadora dos inside linebackers da equipa durante o training camp e a pré-temporada. Nunca uma mulher tinha ocupado uma posição de treinadora, de qualquer tipo, nas estruturas da NFL. Para a liga profissional de futebol americano, considerada o derradeiro bastião masculino do desporto, o precedente é ainda mais significativo. Em setembro, quando a época regular começar, haverá também uma árbitra na competição. É oficial: na NFL menina já entra.

Jen Welter, agente infiltrada

Na primavera passada, numa conversa com os jornalistas, o treinador principal dos Arizona Cardinals disse que era perfeitamente possível ter uma mulher a treinar uma equipa da NFL, num futuro não muito longínquo. David Wyman, treinador dos Texas Revolution, uma equipa de futebol americano indoor, ouviu as declarações e resolveu contactar o colega. Se Arians estava a falar a sério ele tinha a pessoa certa para lhe indicar.

Se fosse homem o currículo de Jen Welter atrairia as atenções de qualquer General Manager da liga. Aos trinta e sete anos ela conta catorze como profissional de futebol americano, jogando primeiro nas ligas femininas e depois tornando-se a primeira mulher a jogar como running back numa equipa masculina profissional. Pelo meio teve ainda tempo para completar um mestrado em Psicologia Desportiva e um doutoramento em Psicologia. A Dra. Jennifer Welter foi também treinadora adjunta nos Texas Revolution. E também nessa altura aceitou o desafio para um período experimental, a ver como as coisas corriam, e a sua competência fê-la agarrar o lugar. Sejamos honestos, Welter tem tido enorme visibilidade mediática por ser mulher mas ela não foi escolhida pelos seus lindos olhos. Como muitos estagiários no mundo de hoje, ela tem até excesso de qualificações para a função que agora ocupa, treinar os insede linebackers dos Cardinals no training camp e pré-temporada. Depois logo se vê.

Bruce Arians quis abrir essa porta. Dar a uma mulher a oportunidade de se mostrar no ambiente altamente competitivo que é a NFL. O treinador explicou que um treinador é, no fundo, um professor. E pela experiência que tem dos jogadores, a este nível, o que eles querem é alguém que os possa ajudar a melhorar. Idade, cor e até sexo tornam-se irrelevantes. Na sua maioria os atletas de elite aderem e respeitam a competência. Welter tem tudo para se dar bem: é evidente a sua paixão pelo desporto, tem uma formação irrepreensível e larga experiência.

Água mole em pedra dura

Nos dias de hoje parece que já está tudo feito e esquecemo-nos que há sempre novos territórios a desbravar. A contratação de Welter teve um impacto tremendo – com pessoas como Hilary Clinton a congratular-se com o facto – e os efeitos de contágio ainda mal começaram. Mas como os Descobrimentos não aconteceram da noite para o dia, também esta decisão dos Cardinals não aconteceu no vazio. Outras mulheres tem estado a abrir caminho. Começaram por ascender nas administrações das equipas, ocupando lugares executivos. É também muito recente, e para já única, a primeira agente de jogadores feminina na Liga de Futebol Americano. Sarah Thomas já foi confirmada como a primeira árbitra a operar na NFL, entra em funções já em setembro. E Jen Welter vem nessa sequência. Mas os Cardinals, com especial empenho do seu treinador principal e dono, têm tido a preocupação de dar oportunidades às minorias – sejam mulheres ou homens de cor, por exemplo – de ganhar experiência na liga profissional, ao mais alto nível.

Como bem sabemos a NFL tem um problema de relações públicas. São muitos, demasiados, os casos de detenções de jogadores da elite. E, ao seu jeito, a Liga e o seu comissário sempre foram muito mais lestos a punir casos de substâncias proibidas, mesmo quando se trate da inofensiva marijuana, ou condução sob o efeito do álcool do que em casos de agressão. E muitos desses casos de violência dizem respeito ao entorno familiar. Ora, a base de apoio dos adeptos da NFL já tem quase tantos homens como mulheres (45%). O que significa que elas têm que começar a pesar nas decisões de comunicação e marketing.