Em jeito de balanço da temporada 2014/15, analisamos os factos principais daquilo que aconteceu na Liga NOS, Taça de Portugal e Taça da Liga, sublinhando as equipas que são dignas de nota nas várias competições.
1.
Muito cedo começou a desenhar-se a mais valia do Benfica em relação aos seus concorrentes diretos, com Jorge Jesus a dar mostras de que não iria desperdiçar a oportunidade de conquistar mais uma edição da Liga portuguesa. O momento-chave da temporada terá sido o da saída de Enzo Pérez, que acabou por substituído no onze encarnado por Pizzi, jogador adaptado à posição de médio-ofensivo. Com este gesto, Jorge Jesus mostrava que não dependia tanto de mercado ou nomes feitos, tinha mesmo a capacidade de “construir” jogadores no seio do seu plantel, o que deixava a concorrência um passo atrás.
2.
Num ano de descréscimo da qualidade geral dos jogadores na Liga Portuguesa, a manutenção de Jackson Martínez no plantel do FC Porto era um garante de que continuaria a haver um marcador entre os grandes portugueses. De forma surpreendente, o Benfica apresentou avançados ao nível do colombiano, com Jonas a ser o reforço do ano. O brasileiro era um jogador incompreendido em Valencia e parecia já ter completado o seu percurso europeu quando chegou à Luz. Com Jorge Jesus, encontrou o seu espaço vital numa equipa com olhar no título e, sem poder jogar na Liga dos Campeões, focou todas as suas forças numa prova em que podia ser rei. Ficou aquém na lista dos melhores marcadores, mas leva o selo de jogador decisivo do campeão.
3.
O FC Porto terminou em segundo lugar, apenas a três pontos do Benfica, tendo ainda alcançado os quartos-de-final da Liga dos Campeões. Razões para se dar por satisfeito, ainda que no Dragão, uma temporada sem títulos é algo que raramente é bem aceite. A piorar a análise, estará o facto da equipa do Porto ter perdido demasiados pontos no início da Liga, com Julen Lopetegui a demorar para encontrar o seu onze base e a não aproveitar os deslizes do seu grande rival. Se numa época em que o domínio do Benfica foi reconhecido o Porto fica a apenas três pontos, então há esperança de que o projeto liderado pelo espanhol irá no rumo certo.
4.
O Sporting fecha a temporada em grande, com a festa na Taça de Portugal, uma partida onde pareceu praticamente “morto” e, com dois golos nos últimos minutos e o acerto da marca das grandes penalidades, acabou com mais um troféu para a sua galeria. Será, em suma, um pouco daquilo que o Sporting ofereceu durante toda a temporada. Uma equipa que tem uma ideia clara de como quer jogar, ainda que essa ideia nem sempre consiga subsistir no terreno de jogo perante adversários de igual ou superior valia. O facto de no seio do clube terem existido, também, pressões que em nada ajudaram a equipa em determinados momentos, afastaram o Sporting demasiado cedo da luta pelo título. A questão é agora saber se Marco Silva fica, ou não, em Alvalade. E que jogadores vestirão de verde-e-branco, num momento em que o mercado promete ser agressivo.
5.
O Benfica levou ainda a Taça da Liga, competição fétiche para Jorge Jesus. Numa prova em que as principais equipas vão aproveitando para rodar os seus jogadores, são os conjuntos de meio da tabela que vão fazendo valer o interesse na mesma. A boa exibição do Marítimo na final da prova dá-lhe créditos que na Liga não conseguiu comprovar, numa temporada em que teve de trocar de treinador.
6.
O SC Braga de Sérgio Conceição e o Vitória de Guimarães de Rui Vitória estarão ambos na Liga Europa, embora as respetivas carreiras nesta temporada não tenham seguido linhas semelhantes. Mais fortes os vimaranenses no início da prova, com um plantel com muita juventude e capaz de causar surpresa, mais regulares os bracarenses, com um plantel onde pontuam várias referências e onde a Taça de Portugal foi um objetivo ao seu alcance até que Montero marcou o golo do empate aos 93 minutos. No final da história, apesar do Braga ter tido melhores resultados, é mesmo Rui Vitória o técnico que sai mais valorizado deste duelo do Minho, onde diferentes armas levam a diferentes análises.
7.
O Belenenses recebe o prémio de consolação de uma presença na Liga Europa, depois de uma temporada mais do que atípica. Os azuis tiveram sempre muitos problemas internos por resolver, na relação da administração do clube com o técnico Lito Vidigal, que acabou mesmo por ser afastado e dar o seu lugar a Jorge Simão na reta final da prova. Ainda assim, dentro de campo, com uma ideia de jogo muito realista e nunca tentando alcançar algo que não estivesse, realmente, ao alcance da sua mão, o Belenenses será a prova de que a perspetiva realista é uma aposta vencedora num campeonato como o português.
8.
A grande desilusão da prova acaba por ser o Gil Vicente, que em termos de estrutura e plantel nada devia a vários dos concorrentes em prova no fundo da tabela da Liga NOS e acaba por cair para uma Segunda Liga onde será, sem dúvida, o maior peixe do aquário. Acompanha-o o Penafiel que, em oposição, nunca demonstrou ter capacidade para ser realmente uma equipa de primeiro nível. Para os substituir chegam o Tondela e o União da Madeira, duas equipas pequenas em estruturas – nem uma nem outra têm, neste momento, um estádio com as condições para a realização de jogos da Liga NOS – mas enormes nos projetos desportivos. Enquanto o conjunto da Beira Interior é a prova de que o sonho de um homem pode valer um lugar na primeira liga do nosso futebol, a terceira equipa madeirense deverá apostar numa renovação da frota para este regresso ao convívio dos grandes.
Para o ano, há mais.