Não nos podemos queixar.

Com o novo treinador, para além de novos métodos, novo onze, nova esperança, também veio a nova estrela. A estrela da sorte que, diz-se, acompanha os audazes e estende o tapete aos campeões. Bem hajas, estrela da sorte.

Fernando Santos, que até pôde sentar-se no banco dos suplentes por generosidade do Tribunal Arbitral do Desporto, que suspendeu o castigo de 8 jogos imposto pela FIFA, depois do jogo entre a Selecção da Grécia e a Selecção da Costa Rica, nos quartos-de-final do Mundial de 2014, no Brasil, entrou, finalmente, na fase de qualificação já em andamento, mas com o pé direito.

A Selecção Portuguesa que viu juntar-se, os desde há muito separados, Cristiano Ronaldo e Ricardo Quaresma, viu também o resultado que acompanha uma dupla que insiste na luta até ao fim. E que sabe que o fim, é só quando termina. Ricardo Quaresma centrou, Cristiano Ronaldo saltou e cabeceou (ou o defesa dinamarquês por si, embora a UEFA tenha atribuído o golo a Cristiano Ronaldo) e colocou a bola dentro da baliza da equipa anfitriã, passavam já 5 minutos dos 90 da ordem. Estávamos nos descontos, mas como os jogos só acabam, precisamente, no fim, a Selecção Portuguesa lá conseguiu agarrar os 3 pontos de que necessitava como de pão para a boca. E como ali, naquele minuto, tudo se transforma. E o que parecia uma violenta descida aos infernos, torna-se uma suave subida aos céus. Fernando Santos veio para a Selecção Portuguesa e trouxe com ele a sorte dos campeões.

Um Jogo Assim-Assim

Não se pode falar de um grande jogo de futebol, este que opôs Portugal e a Dinamarca. Antes pelo contrário. E bem menos interessante que o jogo de Paris, contra a Selecção de França, que Portugal perdeu.

Cristiano Ronaldo

Cristiano Ronaldo voltou a ser fundamental, marcando o golo da vitória, respondendo a um cruzamento de Ricardo Quaresma

Mas deu para perceber que, ao fim de tanto tempo, já dá para descortinar que há qualquer coisa nesta selecção que quer ver a luz do dia (ou da noite, no caso). Deu para perceber que o meio-campo português tem pernas para andar e, daqui a algum tempo, pernas para aguentar um jogo inteiro. Que a falta de ponta-de-lança não é assim tão crucial, bastando ter lá na frente quem saiba marcar golos (ver o jogo dos Sub-21 contra a Selecção da Holanda e que terminou com a vitória portuguesa por 5 a 4). Que, afinal, o grande problema nacional reside… na defesa. Os laterais, tanto Cédric como Eliseu, ainda muito agarrados ao medo de se soltarem, com medo de subir e desfalcar a defesa. Poucos cruzamentos. Muito poucos cruzamentos eficazes. No centro, o melhor elemento acabou por ser Ricardo Carvalho, aos 36 anos. Não garante lá muito futuro à defesa desta Selecção.

Mas o que fica deste jogo, para além do óbvio e mais interessante vitória, é uma alegria de jogar que não se via nestes jogadores desde há muito tempo. E perceber que os novos jogadores, e os regressados, encaixaram na estrutura.

Tem-se, por vezes, muito medo das novidades, daí que, quase sempre, os seleccionadores tendem a rodear-se de um núcleo duro, que tentam segurar mesmo quando não apresentam as melhores condições (o que fez Paulo Bento no Campeonato do Mundo do Brasil). Tem-se medo que os novos jogadores não consigam criar ligações com os outros jogadores, que as estruturas, dentro do campo, rejeitem os corpos estranhos. Bem, pelo menos nisso, Fernando Santos tem provado que não é assim. O seleccionador tem pegado nos jogadores que pensa que lhe dão mais garantias, tem-nos colocado a jogar com os outros, os da estrutura, e tem havido simbiose, ligação, encaixe. Também cabe a quem lá está, ajudar quem lá chega de novo. E isso também tem acontecido.

Ontem, como já se disse, não foi um grande jogo. Mas foi um jogo preparado para um objectivo e, mesmo que ao cair do pano, atingiu-se esse objectivo. E se pensarmos nas peças novas, Cédric, Eliseu, Ricardo Carvalho, Tiago e Danny, para além de, na segunda parte, João Mário e Ricardo Quaresma, perguntamos onde está afinal o problema com os novos jogadores? É que, uns melhor, outros pior, todos acabaram por contribuir para o esforço colectivo em busca da vitória. E conseguiram-na. Estão de parabéns.

De Regresso ao Bom Caminho

Depois da miséria que foram os últimos tempos de Paulo Bento e da sua Selecção, esta parece, agora, ter renascido. Com os mesmos jogadores e uma ou outra alteração cirúrgica, fica pelo menos a impressão de haver vontade de se fazer pela vida.

Fernando Santos

Fernando Santos tem uma estrelinha da sorte, e trouxe-a com ele para a Selecção

Claro que ainda vai tudo no início, ainda se está em lua-de-mel, o seleccionador ainda conversa com os jornalistas, os jogadores ainda acreditam que todos podem ser seleccionados e o povo ainda crê que agora é que é.

E pode-se, ainda, brincar com as coisas. Até porque tudo aconteceu pelo melhor. Aquele minuto 5 depois dos 90, foi o instante da mudança de narrativa. Acaso não entrasse aquela bola, hoje falar-se-ia do espectro de Paulo Bento a pairar sobre o campo de jogo, da má forma de Cristiano Ronaldo sempre que joga pela Selecção Nacional, do fraco leque de escolha à disposição do treinador, e, claro, a justificação maior: porque é que Ricardo Quaresma não tem sido seleccionado?

Mas não foi o que aconteceu.

A bola entrou mesmo na baliza. E daí resultou que passou a haver grande entendimento entre Cristiano Ronaldo e Ricardo Quaresma, que as escolhas de Fernando Santos foram as melhores, que até Ricardo Carvalho, o avozinho do grupo, conseguiu ser, provavelmente, o melhor em campo. Também se provou que Danny tem lugar nesta equipa. Assim como Tiago.

Agora, com menos 1 jogo que a Dinamarca, Portugal segue em terceiro lugar, com menos 1 ponto que Albânia (que, surpresa das surpresas, é a líder do grupo) e a Dinamarca, ou seja, com o futuro em aberto, à espera para ser reescrito por um grupo que crê que acabou por regressar ao bom caminho, depois de se ter de lá afastado.

Mas que não se julgue que agora tudo são favas contadas. A soberba era o que de pior poderia acontecer a esta equipa. É preciso perceber que nada está ganho e que o caminho até França é longo e tortuoso. É preciso calma, perseverança e continuar a jogar como se não houvesse amanhã.

O que Aí Vem

Ontem houve também um verdadeiro imbróglio no jogo que opôs as Selecções da Sérvia e da Albânia, em Belgrado. O jogo foi interrompido por um drone transportando uma bandeira albanesa (o jogo foi interditado aos simpatizantes albaneses, como será o de Tirana aos sérvios quando a Albânia receber a Sérvia). O campo de futebol transformou-se num campo de batalha com algumas escaramuças entre as duas equipas. O jogo não voltou a reatar-se. Mais tarde foi difundida a notícia que o irmão do primeiro-ministro albanês, que assistia ao jogo num camarote, foi preso acusado de ter sido ele a manipular o drone. Não sabemos o que irá sair desta confusão. Mas isto interfere com a vida da Selecção Portuguesa. São adversários directos dos portugueses. Mesmo sem este jogo ter terminado, os albaneses estão em primeiro lugar no Grupo I. Mas esperemos.

Arménia 1 - 1 Sérvia 2014

O próximo adversário de Portugal é a Arménia, que deixou-se empatar com a Sérvia, mesmo ao cair do pano

O próximo jogo de Portugal vai ser contra a Arménia, em Portugal. Será a 14 de Novembro, ou seja, daqui a 1 mês. E não há razão para que Portugal não vença o jogo.

Depois haverá uma pausa de alguns meses, e a Selecção voltará à qualificação em Março de 2015 para receber os sérvios, e depois, de novo, só em Junho para ir à Arménia.

Ou seja, há bastante tempo para o seleccionador procurar colocar os pontos nos ii, agora que foi passada esta maior pressão de jogo imediato que era obrigatório vencer, por mil e uma razões, e não só pela questão da qualificação.

Ganhou-se uma equipa. Ganhou-se novos jogadores. Ganhou-se um treinador e uma provável qualificação. E, mais importante de tudo, voltou a ganhar-se o povo, que hoje acordou para uma realidade que lhe parece completamente nova. Mas agradável.

Boas Apostas!